Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Ruy Cézar Campos Figueiredo (UFF)

Minicurrículo

    Doutor em Comunicação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ (bolsa CAPES), Mestre em Artes pela Universidade Federal do Ceará – UFC (bolsa FUNCAP) e Bacharel em Audiovisual e Novas Mídias pela Universidade de Fortaleza – UNIFOR. Atualmente realiza estágio de pós-doutorado no PPG Estudos Contemporâneos das Artes da Universidade Federal Fluminense – UFF, com apoio de bolsa FAPERJ Nota 10, pesquisando relações entre mudanças climáticas, infraestruturas e práticas artísticas.

Ficha do Trabalho

Título

    Sinófonoceno: crise climática, tecnologia e espacialidade em práticas audiovisuais de origem chinesa

Seminário

    Cinema e Espaço

Resumo

    Propõe-se, aqui, colocar em diálogo os conceitos de cosmotécnica (Yuk Hui) e arte cosmopública (Hai Ren) com a obra de artistas sinófonos que refletem o debate sobre o Antropoceno ao trabalharem com cinema e audiovisual no âmbito da arte contemporânea: “Water System Project” de Cao Minghao e Chen Jianjun, “A Darkness Shimmering in the Light” de Liu Yujia, “The Lonely Age” de Connie Zheng e “Phantom Landscape” de Yang Yongliang.

Resumo expandido

    A era geológica do Antropoceno e o debate em torno do seu reconhecimento, conforme colocado por Yuk Hui (2016), é o ponto culminante de uma consciência tecnológica na qual o ser humano começou a se dar conta, tanto no âmbito intelectual quanto no público geral, “do poder decisivo da tecnologia na destruição da biosfera e no futuro da humanidade” (2016, p. 293). Nesse sentido, o filósofo tem se esforçado para apontar como o reconhecimento dessa era está relacionado com um projeto de repensar a modernidade e as interpretações que ela ofereceu para o cosmos, a natureza e a humanidade.

    Ao invés de propor um ‘retorno a natureza’ ou ‘resetar a modernidade’, Hui elaborou o conceito de cosmotécnica, tanto como um projeto epistêmico como metafísico para repensar o papel desempenhado pelas tecnologias modernas, usando a China e o pensamento chinês como sua base – menos para pensar o papel da China no Antropoceno e mais para entender como o país irá se reposicionar na relação com a “força gigantesca do eixo de tempo humano-terra constituído pelas tecnologias modernas. Como é possível conectar a consciência tecnológica com a cosmotécnica que tentamos iluminar aqui?” (HUI, 2016, p. 293). Para ele, emerge daí um contraste entre sinofuturismos – um que apenas acelera o projeto moderno Europeu e outro que seria o pensamento moral cosmotécnico.

    Buscando dialogar com Hui, Ren (2020) propôs os conceitos de “Sinofónoceno” e “Arte Cosmopública”, o primeiro para enquadrar os diálogos entre a China continental, Hong Kong e Taiwan no que concerne as características do Antropoceno na Ásia; o segundo para repensar a definição de arte na escala planetária a partir de reflexões sobre as condições de habitabilidade, de modo que arte possa ser entendida como “uma técnica que se direciona para questões humanas e não humanas como glitches em uma infraestrutura planetária que liga humanos e não-humanos” (REN et. al, 2022).

    Busca-se, aqui, conectar tais conceitos e reflexões com quatro práticas audiovisuais realizadas por artistas sinófonos.

    “Water System Project” de Cao Minghao e Chen Jianjun explora a relação entre comunidades locais e sistemas hídricos na Bacia do Rio Min e nas comunidades da região de Chengdu, província de Sichuan, sudoeste da China. Hibridizando documentário e pesquisa acadêmica, os artistas investigam práticas tradicionais de gestão da água e seu contraste com tecnologias modernas como represas – expandindo modos de pensarmos cosmotécnica.

    “A Darkness Shimmering in the Light” de Liu Yujia é uma série de filmes que examina as fronteiras ecológicas através de uma perspectiva eco-poética. Filmada em regiões como Xinjiang e no nordeste da China, a obra utiliza filmagens em 16mm, drones e etnografia para criar uma narrativa que entrelaça mitologias locais e histórias de extração econômica, refletindo a ideia “Arte Cosmopública” proposta por Ren et al., ao tratar a arte como uma técnica que aborda questões humanas e não humanas dentro de uma infraestrutura planetária compartilhada.

    “The Lonely Age” de Connie Zheng insere a crise climática na ficção especulativa, narrando a chegada de sementes com propriedades curativas à Califórnia após escaparem de uma fábrica chinesa. A obra reflete o Sinófonoceno ao abordar interações transnacionais e deslocamentos ambientais.

    “Phantom Landscape” de Yang Yongliang, enfim, simula em vídeos as pinturas no estilo shan shui. Ao serem observados de perto, os vídeos revelam paisagens urbanizadas e industriais. Para Hui, esse estilo representa uma forma de conhecimento e tecnologia própria da tradição chinesa, enraizada em uma visão cosmológica que articula ser humano, natureza e técnica de maneira distinta do pensamento ocidental.

    Essas obras exemplificam como artistas sinófonos estão engajados em práticas que não apenas refletem sobre a crise climática e a tecnologia, mas também propõem novas formas de habitar e perceber o mundo, dialogando com as questões teóricas aqui discutidas.

Bibliografia

    HUI, Yuk. The Question Concerning Technology in China: An Essay in Cosmotechnics. Londres: Urbanomic, 2016.
    HUI, Yuk. Art and Cosmotechnics. Eflux Architecture, 2021.
    HUI, Yuk. On the varieties of experience of art. Theory, Culture & Society, v. 40, n. 4-5, p. 131-144, 2023.
    JING, Yang. Rising Ecological Awareness in Chinese Contemporary Art: An Analysis of the Cultural Environment. Tahiti, v. 6, n. 1, 2016.
    REN, Hai. Assembling the Cosmopublic: Art Intelligence and Object-Oriented Citizenship. Mediapolis: A Journal of Cities and Culture, v. 5, n. 1, p. 6, 2020.
    REN, Hai. Infrastructure as a Planetary Sculpture: The Future of the Belt and Road Initiative in the Anthropocene. A blog essay for “The Belt and Road in Global Perspective.” Munk School of Global Affairs and Public Policy, University of Toronto, March, v. 18, 2021.
    REN, Hai; BO, Zheng; WU, Mali. Portfolio: Planetary Art in the Sinophonecene: An Introduction. Verge: Studies in Global Asias, v. 8, n. 2, p. 24-45, 2022.