Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Amaranta Cesar (UFBA)

Minicurrículo

    Professora associada de Cinema e Audiovisual na Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Possui graduação em Comunicação com Habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal da Bahia (1998), mestrado em Comunicação e Cultura Contemporâneas também pela UFBA (2002), doutorado em Cinema e Audiovisual pela Universidade de Paris III – Sorbonne-Nouvelle (2008) e Pós-doutorado na New York University (2013-2014) e na Universidade Federal de Pernambuco (2018).

Ficha do Trabalho

Título

    Dar a ver sem poder: a produção de pensamento curatorial como ação coletiva

Resumo

    A partir da premissa de que a dimensão teórico-política da curadoria estaria na sua capacidade de produzir um pensamento em ato e em comunidade, esta comunicação dedica-se a apostar na produtividade metodológica de analisar não os filmes e os pressupostos seletivos que movimentam suas exibições, mas as cenas provocadas pelas suas aparições em contextos de arranjos curatoriais de mostras e festivais, para refletir sobre os modos como a curadoria em cinema produz e faz circular teorias de cinema.

Resumo expandido

    O título desta comunicação parafraseia o título do livro antológico de Jean-Louis Comolli, Ver e poder, referência para o estudo do cinema documental, campo entendido, por Comolli, como uma práxis cinematográfica que enfrenta, com engajamento no real, a produção das imagens hegemônicas do capitalismo. Neste trabalho, a curadoria, numa perspectiva contra-hegemônica, é sustentada como intervenção sócio histórica, exercício não apenas teórico-crítico mas, sobretudo, político e implicado nos seus territórios de atuação, ou dito de outro modo, engajado no real. Mas como o pensamento sobre o campo do cinema documental, especialmente através das formulações de Comolli, pode oferecer pistas para uma reflexão conceitual sobre curadoria?
    É em Sob o risco do real, este texto manifesto, um dos capítulos de Ver e Poder, que se encontra a defesa militante do documentário como um cinema necessariamente, digamos assim, contra-hegemônico, definido em sua especificidade a partir de seus princípios éticos-políticos e como uma práxis cujo motor fundamental é a partilha de desejos e de mise-en-scènes entre os sujeitos envolvidos na ação de fazer um filme. “Cinema na práxis”, o documentário precisa envolver um sair de si mesmo – seja o realizador sair de seus vislumbres autorais, seja o cinema sair de seu ensimesmamento produtivo e formal. A alteridade apresenta-se, então, como elemento fundador de pressupostos teóricos e desafios éticos e o cinema erige-se numa dimensão inevitavelmente fenomenológica.
    Tal como o documentário, interessa pensar que a curadoria porta em sua práxis uma abertura fundamente para uma construção de pensamento partilhada e inscrita em uma ação no mundo. Menos produtora de juízos abstratos sobre obras roteirizadas e roteirizáveis, a atividade curatorial age para a produção material de cenas ou vivências de cinema, que são incomensuráveis e que dependem de uma interação entre desejos e pensamentos de cinema que se articulam em uma trama de relações em que a autoria e/ou a identidade autoral, fora dos atravessamentos com as alteridades, não dão conta. E é justamente porque é sempre – programaticamente ou não – produtora de vivências partilhadas de cinema que a atividade de curadoria em cinema, mais do que instância de julgamento crítico-analítico de base moderna, deverá ser pensada aqui em seu tecido fenomenológico e a partir de sua capacidade de produzir pensamento ou teoria em ação, uma ação sempre comunitária, uma teoria coletiva e em ato.
    Nesse sentido, metodologicamente, proponho, no lugar de analisar os filmes e as premissas seletivas que movimentam suas seleções e exibições, examinar cenas provocadas pelas suas aparições em contextos de arranjos curatoriais de mostras e festivais, especialmente nestes últimos.

Bibliografia

    CESAR; MARQUES; COSTA; PIMENTA.(Orgs). Desaguar em cinema: documentário, memória e ação com o CachoeiraDoc. Salvador: EdUFBA. 2020.
    COMOLLI, Jean-Louis. Ver e poder – a inocência perdida: cinema, televisão, ficção, documentário. Belo Horizonte, Editora UFMG, 2008.
    MONDZAIN, Marie José. L’image, peut-elle tuer?. Paris: Bayard Éditions, 2002.
    MONDAZAIN, Marie-José. Le commerce des regards. Paris, Éditions du Seuil, 2003.