Ficha do Proponente
Proponente
- Maurício de Bragança (UFF)
Minicurrículo
- Graduado em História e Cinema, com Mestrado em Comunicação e Doutorado em Letras pela Universidade Federal Fluminense. Atualmente é Professor Associado do Departamento de Cinema e Video e do Programa de Pós-Graduação em Cinema e Audiovisual da UFF. Publicou A traição de Manuel Puig: melodrama, cinema e política em uma literatura à margem (EDUFF, 2010) e organizou, com Marina Tedesco, o livro Corpos em projeção: gênero e sexualidade no cinema latino-americano (7Letras, 2013).
Ficha do Trabalho
Título
- Das casas assombradas aos cabarés e vecindades: os gêneros cinematográficos mexicanos nos anos 1940
Resumo
- A comunicação apresenta uma hipótese sobre a falsa ideia de “desaparecimento” do cinema de horror mexicano dos anos 1940 através de dois eixos que se combinam. O primeiro, a própria semântica do gênero naquela época, que delimitava os espaços do fantástico, afastando-os dos fluxos da vida comum. O segundo, o contexto político dos anos 1940, que investia na ideia de Unidade Nacional, buscando novas configurações em torno do popular na indústria cultural.
Resumo expandido
- O cinema de horror mexicano surge na década de 1930, com uma dezena de filmes que apresentam características estéticas e narrativas próprias. Muitos pesquisadores e pesquisadoras, no entanto, atestam o desaparecimento deste gênero cinematográfico na década seguinte, apontando seu retorno com força nos anos 1950. Ainda que o cinema de horror persista em formas de encenação de outros gêneros ou em elementos e formas narrativas que cambiaram de sintaxe naquele período, algo havia mudado. Partindo de observações sobre a própria semântica do gênero, podemos pensar o “desaparecimento” do cinema de horror mexicano da década de 1940, argumentando que essa falsa observação pode ter relação com as questões políticas, econômicas e sociais do contexto mexicano, que privilegiaram, naquele momento, representar outros espaços mais próximos de uma ideia de popular, como a vecindad e o cabaré.
É muito importante termos cuidado com o que chamamos de “desaparecimento” aqui. Como vamos apontar no decorrer da apresentação, os/as pesquisadores/as de cinema de horror mexicano vão atestar que este repertório praticamente deixa de ser produzido pelo país. Isso não quer dizer que elementos relacionados ao insólito, extraordinário, estranho e atmosferas próprias ao macabro não possam estar presentes em cena de filmes de outros gêneros, não qualificados como horror. Quando, portanto, falamos dessa ausência da produção do cinema de horror mexicano nos anos 1940, estamos falando estritamente de produções classificadas pela própria indústria e atestadas pela crítica especializada como pertencentes a este gênero.
A questão que nos intriga, nesse panorama histórico, portanto, é identificar as motivações dessa interrupção de produções cinematográficas mexicanas de horror ao longo da década de 1940. Um dos pontos que têm sido apontado pelos pesquisadores e pesquisadoras para este fato é um certo esgotamento dos modelos de filmes de horror que se estabeleceram no mercado cinematográfico na década anterior, sobretudo às produções da Universal Pictures. Este argumento, entretanto, se apresenta bastante frágil, visto que o gênero busca novas possibilidades criativas nos anos 1940 e mesmo a produtora estadunidense segue produzindo seus filmes do gênero. Apostamos, portanto, em duas questões que se combinam para indicar uma mudança do estatuto do horror naquela década.
A primeira está vinculada à própria semântica do gênero naquele contexto: uma composição muito demarcada entre os limites dos espaços fantásticos e daqueles não fantásticos, do “mundo comum”. As histórias se passavam em mosteiros, casas assombradas a beira de penhascos, mundos subterrâneos acessados por passagens secretas, criptas milenares com seus ataúdes, laboratórios clandestinos de “cientistas malucos”, cemitérios amaldiçoados, construindo atmosferas próprias e apartadas dos outros espaços da vida comum. As forças motivadoras das narrativas de horror eram também muito exteriores ao que organizava o fluxo de vida cotidiana.
A segunda diz respeito a própria dinâmica política dos anos 1940, que precisava investir numa ideia de Unidade Nacional, buscando configurações em torno do popular que dessem conta desse ideário político estratégico. Nesse sentido, os repertórios narrativos alimentados pela indústria do entretenimento apostavam em outros espaços, mais conectados com a vida da cidade e os territórios onde se representavam os tipos populares. Assim, emergem com força no cinema dos anos 1940, dois espaços fundamentais para pensarmos a representação popular mexicana: o cabaré e a vecindad.
Apoiados por esse argumento, apresentaremos uma hipótese que, ao mesmo tempo que rechaça a ideia de “desparecimento” do gênero de horror naquela década, aponta para a articulação desses dois eixos de discussão para pensarmos em mudanças estrurturais dos repertórios de horror no México dos anos 1940.
Bibliografia
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