Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    TAINA XAVIER PEREIRA HUHOLD (ESPM)

Minicurrículo

    Diretora de arte e professora no bacharelado de Cinema e Audiovisual na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM Rio). Doutora pelo PPGCine – UFF, mestre em Artes Visuais pela PPGAV, EBA/UFRJ e graduada em Comunicação Social/Cinema pela UFF. Autora de artigos e capítulos de livros, com destaque para o título “Dimensões da Direção de Arte Audiovisual”, que organiza, juntamente com membros do grupo de pesquisa do CNPq qual faz parte: NIDAA/ UFPE. É mãe.

Ficha do Trabalho

Título

    Retorno à matéria: Práticas analógicas na direção de arte como vetores de criatividade e conexão

Seminário

    Estética e Teoria da Direção de Arte Audiovisual

Resumo

    Este artigo visa examinar o olhar poético para os objetos e o contato com as materialidades do mundo físico no âmbito do ensino de direção de arte em cursos de cinema no Brasil. Constituem-se como objeto as experiências docentes da autora, na Unila e na ESPM Rio. A metodologia utilizada é o estudo de caso, em diálogo com referencial teórico multidisciplinar. Nossa hipótese é que as experiências de retorno à materialidade contribuem com o crescimento profissional e interpessoal.

Resumo expandido

    Este artigo visa examinar a produção de relações corporificadas no âmbito do ensino de direção de arte em cursos de cinema no Brasil e seus benefícios para o desenvolvimento socioemocional de jovens nativos digitais. Constituem-se como objeto as experiências docentes da autora, na Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila) e na Escola Superior de Propaganda e Marketing do Rio de Janeiro (ESPM Rio). A metodologia utilizada é o estudo de caso, em diálogo com referencial teórico multidisciplinar, composto por autores como Emanuele Coccia (2024), Gaston Bachelard (1993), Hans Ulrich Gumbrecht (2010), Byung-Chul Han (2019) , Jonathan Haidt (2024) e Vera Hamburger (2014).
    Partindo da constatação de Haidt de que ” […] os smartphones e a superproteção agiram como inibidores de experiência’, que dificultam que crianças e adolescentes tivessem o tipo de experiência social corporificada de que mais precisavam […]” (Haidt, 2024, p. 20), formulamos a hipótese de que atividades práticas do campo da direção de arte em cursos de cinema e audiovisual são capazes de proporcionar experiências corporificadas, com impacto positivo no desenvolvimento socioemocional de estudantes.
    O presente momento da pesquisa visa examinar práticas da docente-pesquisadora, relacionando objetivos pedagógicos, atividades desenvolvidas, resultados alcançados e possíveis contribuições com o desenvolvimento dos estudantes. Posteriormente, será elaborado um questionário de consulta a egressos participantes das práticas para aferir o impacto em sua vida profissional e pessoal. A pesquisa visa expandir-se, incluindo práticas de outros docentes do campo.
    Nesta primeira fase da pesquisa, serão examinadas as dinâmicas:
    i) Exercício “Museu Particular”, onde estudantes selecionam objetos de seus acervos pessoais com objetivo de se apresentarem, montarem uma exposição coletiva e narrarem memórias e histórias particulares. O exercício, aplicado desde 2014, é variação de uma proposta conhecida pela docente em aula com o cenógrafo Hélio Eichbauer e visa sensibilização do olhar poético através das relações afetivas com objetos de memória.
    ii) Projetos de extensão: “Dar a Ver”, realizado na Unila entre 2015 e 2018 e “Trama Coletivo”, iniciado em abril de 2024 e ainda em funcionamento na ESPM-Rio. Na extensão, estudantes especialmente interessados na área desenvolvem projetos e pesquisas que se expandem para além do espaço de formação.
    iii) Aulas com uso de metodologia experimental para trabalhar “Elementos de linguagem visual”. Por meio de práticas corporais e experimentações com materiais e equipamentos, criam-se espaços instalativos coletivos e experimentam-se estados de presença e liberdade criativa. Inspirada nos estudos de Vera Hamburger sobre o Laboratório “Fronteiras Permeáveis”, a proposta revelou-se valiosa, para além dos objetivos pedagógicos, por permitir o surgimento de um espaço lúdico, onde o retorno do brincar é uma forma de relação com o mundo concreto e com o outro.
    iv) “Montagem de cenário para curta-metragem”, onde estudantes executam todas as etapas de um pequeno cenário. Nesta proposta são relevantes: tanto a lida com ferramentas e matérias concretas, que possibilita práticas muitas vezes inéditas para os estudantes (como serrar madeira), quanto o entendimento da importância do comprometimento de todos para a concretização de objetivos comuns.
    Por lidar, necessariamente, com as matérias do mundo físico, a prática docente no campo da direção de arte audiovisual tem demonstrado alto potencial de proporcionar experiências sensíveis, que tendem a contribuir com o desenvolvimento socioemocional e melhorar as relações interpessoais de grupos de jovens e adolescentes graduandos de cinema e audiovisual. O exame mais detalhado de tal potencial, longe de se propor como solução única para um problema bastante complexo, tende a ser um dos muitos gestos necessários diante do difícil quadro em que se apresenta a saúde mental na educação.

Bibliografia

    COCCIA, Emanuele. Filosofia da casa: espaço doméstico e felicidade. Rio de Janeiro: Dantes Editora, 2024.
    BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
    GUMBRECHT, Hans Ulrich. Produção de presença: o que o sentido não consegue transmitir. Rio de Janeiro: Contraponto: Ed PUC-Rio, 2010.
    HAIDT, Jonathan. A geração ansiosa: como a infância hiperconectada está causando uma epidemia de transtornos mentais. 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2024.
    HAMBURGER, Vera Império. O DESENHO DO ESPAÇO CÊNICO: da experiência vivencial à forma. 2014. Dissertação de mestrado – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014.
    HAN, Byung-Chul. A salvação do belo. Petrópolis, RJ: Vozes, 2019.