Ficha do Proponente
Proponente
- Murilo Bronzeri (UNIP)
Minicurrículo
- Doutorando em Comunicação pela UNIP, com bolsa CAPES, sob orientação da Prof. Dr. Laura Loguercio Cánepa. Mestre em Comunicação Audiovisual pelo PPGCOM-UAM, com bolsa CAPES, sob orientação do Prof. Dr. Fábio Raddi Uchôa. Graduado em Rádio, TV e Internet, com distinção acadêmica Magna Cum Laude, pela Universidade Anhembi Morumbi (2020).
Coautor
- Laura Loguercio Cánepa (UNIP)
Ficha do Trabalho
Título
- (Mais uma) estética do espanto: a experiência de TikTok em Tudo em Todo Lugar ao mesmo tempo
Seminário
- Estudos do Insólito e do Horror no Audiovisual
Resumo
- O filme Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo (2022) utiliza uma estética de hiperestimulação sensorial, com montagens frenéticas e uma narrativa baseada no multiverso, refletindo as dinâmicas das mídias digitais, como o TikTok, e incorporando um imaginário fantástico e insólito, onde múltiplas realidades colidem e se sobrepõem. A hiperestimulação também é um fenômeno crescente desde o alvorecer da modernidade e que se alinha a “estética do espanto” (Gunning, 2001).
Resumo expandido
- O filme Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo (Everything Everywhere All at Once, 2022), escrito e dirigido por Daniel Kwan e Daniel Scheinert, é um dos exemplos mais premiados e conhecidos dos hiperestímulos sensoriais no cinema contemporâneo, por meio de montagens frenéticas e uma estrutura narrativa que remete às múltiplas janelas da experiência digital contemporânea. Em sua trama, o filme se desenrola dentro de um multiverso, onde diferentes realidades coexistem e se entrelaçam, criando uma sensação de simultaneidade e ubiquidade, aspectos que também são característicos das mídias digitais. Essa abordagem narrativa e visual dialoga diretamente com a lógica consagrada pela plataforma do TikTok e sua dinâmica algorítmica de estímulos incessantes.
A hiperestimulação não é um fenômeno novo, mas é fenômeno crescente desde o alvorecer da modernidade. Esse período inaugura uma nova concepção neurológica dos sujeitos, moldada por um sistema de choques físicos e perceptivos emergentes do cotidiano moderno. Esse aumento da recepção sensorial resulta em um apetite por estímulos cada vez mais intensos, o que se reflete na crescente demanda por espetáculos visuais de grande impacto. Tom Gunning (2001) argumenta que o cinema, desde suas origens, esteve alinhado com essa tendência, adotando uma “estética do espanto”, na qual a excitação visual prevalece sobre a narrativa tradicional. Ele descreve esse fenômeno enfatizando o papel do choque sensorial e da surpresa na experiência cinematográfica. Suas reflexões se aplicam a produções audiovisuais contemporâneas, como o próprio Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo, e ao consumo de vídeos em redes sociais como o TikTok.
O TikTok, criado em 2016 pela empresa chinesa ByteDance, é um aplicativo focado na produção de vídeos curtos. Inicialmente centrado no lip-synching, termo usado para descrever a sincronização labial com áudios pré-gravados, o aplicativo expandiu sua proposta e consolidou-se como uma das principais plataformas de consumo de conteúdo audiovisual da atualidade (Anderson, 2020). O diferencial do TikTok está em seu “elemento de incerteza” (Anderson, 2020, p. 8), que se manifesta na forma como os vídeos são apresentados ao usuário sem necessidade de ação ativa. A seção For You (Para Ti) exibe automaticamente conteúdos selecionados por um algoritmo sofisticado, que analisa interações, hashtags e elementos audiovisuais para oferecer estímulos cada vez mais personalizados (Kang & Lou, 2022; Grandinetti, 2023). A combinação entre reprodução automática, feed infinito e o design algorítmico gera uma experiência viciante, um comportamento que pode ser compreendido dentro da lógica da hiperestimulação (Zeng, Abidin & Schäfer, 2021).
A fusão entre a estética cinematográfica de Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo e a lógica das novas mídias reflete um cenário onde a hiperestimulação se tornou elemento fundamental da experiência contemporânea. O filme não apenas adota um ritmo acelerado e fragmentado, como também incorpora um imaginário fantástico e insólito, onde múltiplas realidades colidem e se sobrepõem. Essa estrutura narrativa se alinha com a lógica algorítmica do TikTok, onde a sucessão de conteúdos imprevisíveis gera um fluxo de estímulos incessantes. Assim, tanto o cinema quanto as novas mídias contribuem para uma cultura visual marcada pela simultaneidade, pelo excesso sensorial e pela busca constante por novas formas de encantamento e surpresa.
Bibliografia
- ANDERSON, Katie Elson. Getting acquainted with social networks and apps: it is time to talk about TikTok. Library Hi Tech News, n. 4, 2020, p. 7-12.
GRANDINETTI, Justin. Examining embedded apparatuses of AI in Facebook and TikTok. AI & Soc, v. 38, p. 1273–1286, 2023.
GUNNING, Tom. O retrato do corpo humano: a fotografia, os detetives e os primórdios do cinema. In: CHARNEY, Leo; SCHWARTZ, Vanessa R. (org.). O cinema e a invenção da vida moderna. Trad. Regina Thompson. São Paulo: Cosac & Naify Edições, 2001, p. 39.
KANG, Hyunjin; LOU, Chen. AI agency vs. human agency: understanding human–AI interactions on TikTok and their implications for user engagement. Journal of Computer-Mediated Communication, v. 27, n. 5, p. 1–13, 2022.
ZENG, Jing; ABIDIN, Chrystal; SCHÄFER, Mike S. Research perspectives on TikTok and its legacy apps: introduction. International Journal of Communication, v. 15, p. 3161-3172, 2021.