Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Murilo Bronzeri (UNIP)

Minicurrículo

    Doutorando em Comunicação pela UNIP, com bolsa CAPES, sob orientação da Prof. Dr. Laura Loguercio Cánepa. Mestre em Comunicação Audiovisual pelo PPGCOM-UAM, com bolsa CAPES, sob orientação do Prof. Dr. Fábio Raddi Uchôa. Graduado em Rádio, TV e Internet, com distinção acadêmica Magna Cum Laude, pela Universidade Anhembi Morumbi (2020).

Coautor

    Laura Loguercio Cánepa (UNIP)

Ficha do Trabalho

Título

    (Mais uma) estética do espanto: a experiência de TikTok em Tudo em Todo Lugar ao mesmo tempo

Seminário

    Estudos do Insólito e do Horror no Audiovisual

Resumo

    O filme Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo (2022) utiliza uma estética de hiperestimulação sensorial, com montagens frenéticas e uma narrativa baseada no multiverso, refletindo as dinâmicas das mídias digitais, como o TikTok, e incorporando um imaginário fantástico e insólito, onde múltiplas realidades colidem e se sobrepõem. A hiperestimulação também é um fenômeno crescente desde o alvorecer da modernidade e que se alinha a “estética do espanto” (Gunning, 2001).

Resumo expandido

    O filme Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo (Everything Everywhere All at Once, 2022), escrito e dirigido por Daniel Kwan e Daniel Scheinert, é um dos exemplos mais premiados e conhecidos dos hiperestímulos sensoriais no cinema contemporâneo, por meio de montagens frenéticas e uma estrutura narrativa que remete às múltiplas janelas da experiência digital contemporânea. Em sua trama, o filme se desenrola dentro de um multiverso, onde diferentes realidades coexistem e se entrelaçam, criando uma sensação de simultaneidade e ubiquidade, aspectos que também são característicos das mídias digitais. Essa abordagem narrativa e visual dialoga diretamente com a lógica consagrada pela plataforma do TikTok e sua dinâmica algorítmica de estímulos incessantes.

    A hiperestimulação não é um fenômeno novo, mas é fenômeno crescente desde o alvorecer da modernidade. Esse período inaugura uma nova concepção neurológica dos sujeitos, moldada por um sistema de choques físicos e perceptivos emergentes do cotidiano moderno. Esse aumento da recepção sensorial resulta em um apetite por estímulos cada vez mais intensos, o que se reflete na crescente demanda por espetáculos visuais de grande impacto. Tom Gunning (2001) argumenta que o cinema, desde suas origens, esteve alinhado com essa tendência, adotando uma “estética do espanto”, na qual a excitação visual prevalece sobre a narrativa tradicional. Ele descreve esse fenômeno enfatizando o papel do choque sensorial e da surpresa na experiência cinematográfica. Suas reflexões se aplicam a produções audiovisuais contemporâneas, como o próprio Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo, e ao consumo de vídeos em redes sociais como o TikTok.

    O TikTok, criado em 2016 pela empresa chinesa ByteDance, é um aplicativo focado na produção de vídeos curtos. Inicialmente centrado no lip-synching, termo usado para descrever a sincronização labial com áudios pré-gravados, o aplicativo expandiu sua proposta e consolidou-se como uma das principais plataformas de consumo de conteúdo audiovisual da atualidade (Anderson, 2020). O diferencial do TikTok está em seu “elemento de incerteza” (Anderson, 2020, p. 8), que se manifesta na forma como os vídeos são apresentados ao usuário sem necessidade de ação ativa. A seção For You (Para Ti) exibe automaticamente conteúdos selecionados por um algoritmo sofisticado, que analisa interações, hashtags e elementos audiovisuais para oferecer estímulos cada vez mais personalizados (Kang & Lou, 2022; Grandinetti, 2023). A combinação entre reprodução automática, feed infinito e o design algorítmico gera uma experiência viciante, um comportamento que pode ser compreendido dentro da lógica da hiperestimulação (Zeng, Abidin & Schäfer, 2021).

    A fusão entre a estética cinematográfica de Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo e a lógica das novas mídias reflete um cenário onde a hiperestimulação se tornou elemento fundamental da experiência contemporânea. O filme não apenas adota um ritmo acelerado e fragmentado, como também incorpora um imaginário fantástico e insólito, onde múltiplas realidades colidem e se sobrepõem. Essa estrutura narrativa se alinha com a lógica algorítmica do TikTok, onde a sucessão de conteúdos imprevisíveis gera um fluxo de estímulos incessantes. Assim, tanto o cinema quanto as novas mídias contribuem para uma cultura visual marcada pela simultaneidade, pelo excesso sensorial e pela busca constante por novas formas de encantamento e surpresa.

Bibliografia

    ANDERSON, Katie Elson. Getting acquainted with social networks and apps: it is time to talk about TikTok. Library Hi Tech News, n. 4, 2020, p. 7-12.

    GRANDINETTI, Justin. Examining embedded apparatuses of AI in Facebook and TikTok. AI & Soc, v. 38, p. 1273–1286, 2023.

    GUNNING, Tom. O retrato do corpo humano: a fotografia, os detetives e os primórdios do cinema. In: CHARNEY, Leo; SCHWARTZ, Vanessa R. (org.). O cinema e a invenção da vida moderna. Trad. Regina Thompson. São Paulo: Cosac & Naify Edições, 2001, p. 39.

    KANG, Hyunjin; LOU, Chen. AI agency vs. human agency: understanding human–AI interactions on TikTok and their implications for user engagement. Journal of Computer-Mediated Communication, v. 27, n. 5, p. 1–13, 2022.

    ZENG, Jing; ABIDIN, Chrystal; SCHÄFER, Mike S. Research perspectives on TikTok and its legacy apps: introduction. International Journal of Communication, v. 15, p. 3161-3172, 2021.