Ficha do Proponente
Proponente
- Giovana Pedrilho Souza (UFSCar)
Minicurrículo
- Giovana Pedrilho Souza é bacharel em Audiovisual (2022) pelo Centro Universitário Senac com MBA em História da Arte (2023) pelo Centro Universitário São Camilo e mestranda em Imagem e Som na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) na linha de pesquisa Narrativa Audiovisual onde estuda, sob orientação do Prof. Dr. Alessandro Constantino Gamo, cinema de horror pós anos 2000 com foco temático na representação do corpo feminino e do luto.
Ficha do Trabalho
Título
- Grief Porn: o interdito à flor da pele no terror psicológico de Ari Aster
Eixo Temático
- ET 1 – CINEMA, CORPO E SEUS ATRAVESSAMENTOS ESTÉTICOS E POLÍTICOS
Resumo
- A presente comunicação pretende investigar a relação entre o luto e o corpo feminino nos filmes de terror de grief porn pensando como ela é elaborada esteticamente e qual sua função narrativa. Assim, partimos da noção de interdito e excesso, visando apreender essa elaboração audiovisual através da análise fílmica dos longas-metragens Hereditário (2018), Midsommar – O Mal Não Espera a Noite (2019) e Beau Tem Medo (2023) de Ari Aster.
Resumo expandido
- No cinema de horror, após os anos 2000, um grande número de produções despontou trazendo objetos de horror caracterizados pela morte e o luto em círculos familiares. O Babadook (Jennifer Kent, 2014), Boa Noite, Mamãe (Veronika Franz, Severin Fiala, 2014), A Bruxa (Robert Eggers, 2015), Hereditário (Ari Aster, 2018), Sombras da Vida (David Lowery, 2017), Midsommar – O Mal Não Espera a Noite (Ari Aster, 2019), Cordeiro (Valdimar Jóhannsson, 2021) e Beau Tem Medo (Ari Aster, 2023) são alguns exemplos com esta premissa.
De acordo com Robin Wood (1979), objetos de horror são representações daquilo que é socialmente reprimido, como a sexualidade não heteronormativa, a mulher, grupos étnicos não ocidentais e/ou brancos etc. No contexto ocidental, Philippe Ariès (2014) aponta que, no século XX, a morte e o luto foram reprimidos. Ele articula que a mentalidade moderna de produção vê o luto como contraproducente e promove, para a manutenção do sistema socioeconômico vigente, seu afastamento do cotidiano, interditando-o.
Ao discutir sobre o aumento de livros, músicas e filmes sobre luto, Peter Lund (2020), mencionando o fenômeno do grief porn, defende que estes produtos culturais fornecem uma possibilidade de se experienciar o luto controladamente, a segura distância, dando vazão aos sentimentos interditos.
O termo grief porn se popularizou no início do século na mídia jornalística para referir demonstrações públicas de luto feitas por pessoas sem relação direta com os falecidos. Rafael Behr (2005, tradução nossa) o define como: “Pornografia do luto. (s.) Gratificação derivada da conexão tênue com os infortúnios dos outros; a indulgência gratuita da associação tangencial com a tragédia; gozar com notícias muito ruins”; indicando, assim, a explicitude e intensidade dessas demonstrações, o distanciamento entre o enlutado e o falecido e uma espécie de prazer, análogo ao sexual, derivado da morte.
Baldwin e Cranor (2021) apropriam-se do termo para o cinema de horror ao discutirem Hereditário e Midsommar. Os realizadores definem a pornografia como a exploração de determinado assunto e argumentam que ambos os filmes podem ser classificados como grief porn pois abordam o luto pornograficamente, isto é, de maneira gráfica com uma superficialidade psicológica que traz as sensações derivadas do luto representadas à flor da pele, notadamente através das personagens femininas, de modo exagerado e reiterativo. Segundo eles, essa representação envolve, excita e choca, provocando uma espécie de gratificação.
Linda Williams (1991, p. 2, tradução nossa) articula que as “sensações que estão no limite do respeitável”, derivadas de “excessos que nós desejamos excluir”, como o sexo, a morte e a emoção descontrolada, são compostas pela imagem do corpo, geralmente feminino, “‘fora de si’ com prazer sexual, medo e terror, ou tristeza avassaladora” e auditivamente pelos recursos inarticulados da linguagem como gritos de prazer, de medo e soluços de angústia.
Sendo assim, o escopo desta comunicação é investigar a relação entre o luto e o corpo feminino no grief porn no que tange à representação estética das emoções, sensações e sentimentos do primeiro e sua função narrativa, considerando sua qualidade excessiva, pornográfica. Para tanto, propomos a análise fílmica dos três primeiros longas-metragens de Ari Aster, visto a sua relevância para o grief porn e a ideia, exposta por Aster (2023), de que eles compõem uma trilogia com os mesmos temas centrais. Desse modo, pretendemos apreender as potencialidades e paralelos dessa relação: ao representar o luto através do corpo feminino, o que o filme possibilita em termos sensoriais e interpretativos e por que abordá-lo agora e dessa forma?
Bibliografia
- ARIÈS, Philippe. O homem diante da morte. São Paulo: Editora Unesp, 2014.
BEHR, Rafael. Boo hoo, said the crocodile. The Guardian, Londres. 7 abr., 2005. Disponível
em: Acesso em: 26 set., 2024.
CREED, Barbara. The Monstrous-Feminine. Abington: Routledge, 1993.
LUND, Peter. Recreational grief as resonance – sociological notes on grief in popular culture.
Mortality: Londres, v. 27, n. 1, p. 90-106, jul.-out., 2020.
RANDOM NUMBER GENERATOR HORROR PODCAST NO. 9: 63 – Hereditary (2018).
Entrevistado: Cecil Baldwin. Entrevistador: Jeffrey Cranor. Night Vale Presents, ago., 2021.
Podcast.
WOOD, Robin; LIPPE, Richard. American Nightmare: Essays on the Horror Film. Toronto:
Festival of Festivals, 1979.
WILLIAMS, Linda. Film Bodies: Gender, Genre, and Excess. Film Quarterly, Berkeley, vol.
44, n. 4, p. 2-13, jun.-ago., 1991.