Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Claire Allouche (ESTCA, Paris 8)

Minicurrículo

    Claire Allouche é doutora em cinema, professora temporária (Universidade Sorbonne Nouvelle e Paris 8 na França), crítica (Cahiers du Cinéma) e programadora (Regards Satellites em Saint-Denis). Formou-se em estudos cinematográficos (Paris 8, ENS Ulm, Universidad San Martín na Argentina) e em antropologia (EHESS).

Ficha do Trabalho

Título

    O lugar de escuta como construção de um espaço cinematográfico

Seminário

    Cinema e Espaço

Resumo

    Como se manifesta a espacialização do “lugar de escuta” dos cineastas nos documentários falados? Para refinar a definição do “lugar de escuta” neste contexto, primeiro cruzaremos teorias do espaço cinematográfico com aspectos específicos da produção de um documentário falado. Em seguida, realizaremos um estudo comparativo, combinando uma abordagem genética com a análise fílmica, entre filmes de dois cineastas particularmente atentos ao lugar de escuta: Eduardo Coutinho e Jean Eustache.

Resumo expandido

    Em nossa apresentação anterior para o XXVII Encontro SOCINE, trabalhamos com uma definição aberta do “lugar de escuta” de um cineasta, com base em um corpus documental no qual o discurso de um (ou mais) personagens é o centro da forma fílmica. Não se tratava simplesmente de localizar “de onde” se capta o discurso dos protagonistas filmados e como são escutados. De acordo com a disposição do cineasta e de sua equipe, de acordo com o modo de interação estabelecido pelo diretor, o “lugar de escuta” é o que possibilita o surgimento de um espaço-tempo fílmico compartilhado com os protagonistas, um momento em comum que perturba a pressuposta fronteira entre quem está sendo filmado e quem está filmando.
    Na época de nossa intervenção, o trabalho de Eduardo Coutinho estava no centro de uma prolífica constelação fílmica e continua a atuar como nossa bússola, tanto em termos de análise e teorização fílmica quanto, de forma mais ampla, em termos de metodologia. Em 2024, imaginamos esse “lugar de escuta” especificamente cinematográfico como: a articulação de uma duplicação do “lugar de fala” (Djamila Ribeiro, Jota Mombaça) da perspectiva do ouvinte, aquele que escuta a “palavra filmada” (Mathias Lavin); uma amplificação e subjetivação do “ponto de escuta” (Michel Chion); e uma aplicação prática da “consciência da escuta” (Daniel Deshays). Naquela época, estávamos apenas esboçando a teoria. Agora é importante colocarmos nossa definição à prova com outras obras cinematográficas eloquentes.

    1. A espacialidade do “lugar de escuta”

    É por essa razão que agora gostaríamos de aprofundar a noção dos cineastas sobre o “lugar de escuta”, novamente no contexto de um corpus de documentário falado, concentrando-nos na própria espacialidade do “lugar de escuta” e no que ela implica para o método de filmagem. Quais são as características invariáveis da construção de um “lugar de escuta” e quais são redefinidas de acordo com o projeto de produção? Especificamente, quando, como e onde a equipe de filmagem ouve pela primeira vez uma história que será filmada posteriormente? Durante a filmagem, como a equipe se posiciona no espaço para potencializar o efeito dessa escuta? Como esse posicionamento molda não apenas uma forma fílmica (enquadramento, a posição do olhar da pessoa filmada, a audibilidade de suas palavras etc.), mas também o próprio conteúdo da narrativa compartilhada? Para responder a essas perguntas, vamos nos referir tanto às teorias do espaço cinematográfico, vide a revisão contemporânea de Antoine Gaudin, quanto ao conhecimento dos elementos de produção inerentes à produção sonora de um documentário falado.

    2. Quando Eduardo Coutinho encontra Jean Eustache: posições de escuta atenta

    Para refinar essa pesquisa sobre a espacialização do “lugar de escuta” e enriquecer o campo de definição dessa noção, realizaremos dois estudos comparativos, inéditos até o momento, combinando uma abordagem genética com a análise fílmica. O objetivo dessas duas propostas é reunir um grupo de filmes de Eduardo Coutinho e de Jean Eustache, que, até onde sabemos, nunca foram objeto de análise comparativa.
    Nosso primeiro par será Numéro zero (1971) de Jean Eustache e Edíficio Master (2002) de Eduardo Coutinho. Nossa principal pergunta será: como o cineasta se posicionou na casa da(s) pessoa(s) que estava(m) sendo filmada(s), a fim de acomodar um relato não intrusivo de suas vidas?
    Nosso segundo par será Une Sale Histoire (1977) de Jean Eustache e Jogo de Cena (2007) de Eduardo Coutinho. Perguntaremos como o fato de um discurso ser atuado por um ator/atriz profissional em um cenário cinematográfico (o cenário de um salão social no caso de Eustache, um teatro carioca vazio no caso de Coutinho) cria uma disposição particular de escuta, um diferencial em relação à atenção prestada à narrativa original e a possibilidade de multiplicar o potencial da “consciência auditiva”.

Bibliografia

    • Jean-Claude BERNARDET, « A entrevista », in Cineastas e imagens do povo, São Paulo, Companhia das Letras, 2003, pp. 281-296.
    • Véronique CAMPAN, L’écoute filmique. Écho du son en image, Saint-Denis, Presses Universitaires de Vincennes, 1999.
    • Jean-Louis COMOLLI, Corps et cadre. Cinéma, éthique, politique, Verdier, 2012.
    • Antoine GAUDIN, L’espace cinématographique. Esthétique et dramaturgie, Paris, Armand Colin, 2015.
    • Consuelo LINS, O documentário de Eduardo Coutinho: televisão, cinema e vídeo, Jorge Zahar Editor, 2004.
    • Jota MOMBAÇA, « Notas estratégicas quanto aos usos políticos do conceito de lugar de fala », Buala, 19 juillet 2017.
    En ligne : https://www.buala.org/pt/corpo/notas-estrategicas-quanto-aos-usos-politicos-do-conceito-de-lugar-de-fala
    • Juliana MUYLAERT MAGER, Jogo de cena. História, memoria e testemunho no documentário de Eduardo Coutinho, São Paulo, Alameda, 2021.
    • Milton OHATA (dir.), Eduardo Coutinho, São Paulo, Edições SESC, 2014.