Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Cristiane Ventura (IFG)

Minicurrículo

    Cris Ventura é docente do Bacharelado em Cinema e Audiovisual no IFG desde 2015. Doutora em Performances Culturais (UFG), é pesquisadora, curadora e consultora de montagem e roteiro. É cineasta, tendo realizado os longas “Entre Vênus e Marte” (2024), “Cambaúba” (2023), “Amador” (2020), “Nas minhas mãos eu não quero pregos” (2013), entre seus 8 curtas destacam-se “Sangre” (2009) e “Saturno em Escorpião”. Realizou as instalações audiovisuais: “Um andar sobre o mar” (2014) e Enxovia Forte (2016).

Ficha do Trabalho

Título

    A realização de curtas de ficção no contexto acadêmico: métodos e processos criativos

Seminário

    Teoria de Cineastas: dos processos de criação à dimensão política do cinema

Resumo

    Nossa pesquisa buscou investigar como professores de diferentes cursos de cinema vêm desenvolvendo metodologias de ensino sobre a prática de realização de ficção, e como os alunos têm desenvolvido processos criativos e de produção no contexto da formação acadêmica. Coletamos dados e materiais sobre casos de filmes “fracassados” ou não concluídos, a fim de compreender o processo de aprendizado nesses casos, problematizando como esses materiais não se tornam dados a serem arquivados e analisados.

Resumo expandido

    As obras acerca da prática da produção cinematográfica, em sua maioria, organizam procedimentos, métodos de trabalho e comportamentos dos profissionais das diversas equipes, visando alcançar eficiência, funcionalidade e resultados técnicos. Para compreender e orientar essas distintas etapas e funções, são estabelecidos fluxogramas e hierarquias nos diferentes departamentos: direção, produção, fotografia, arte, som e pós-produção. Por ser um padrão internacional, as grandes produções brasileiras o seguem, como um modo de garantir resultados exitosos dentro das exigências do mercado, que visam as altas bilheterias. Já o cinema de produção independente, geralmente com equipe e orçamento reduzidos, segue as mesmas etapas de produção mencionadas anteriormente, porém exige do diretor um esforço extra para supervisionar todas as tarefas, muitas vezes executando várias delas.
    No contexto acadêmico, onde praticamente não há orçamento, os equipamentos comumente estão desatualizados e todos os envolvidos estão aprendendo e, na maior parte das vezes, sem nenhuma experiência pregressa com um set de filmagem, a prática da realização teria como objetivo o aprendizado. O professor atua como um guia ou mediador nessa nova jornada, iniciando os alunos no universo da realização cinematográfica, ao mesmo tempo que se preocupa em apresentar ou simular um set que se aproxima da realidade profissional. O professor, portanto, precisa se atentar às especificidades da realidade local e ao processo de aprendizagem múltiplo que envolve uma realização cinematográfica.
    Dentro desse quadro de aprendizagem, pode ocorrer muita frustração por não se chegar ao resultado desejado, ou mesmo não chegar a nenhum resultado (ou produto final) – que seria ter um filme inacabado, seja por não ter dado montagem, erros técnicos, dentre vários problemas que podem ocorrer durante o processo de realização. Há diversas razões e situações que levam um filme a “fracassar”. Compreender que o contexto acadêmico é o local que permite errar é fundamental para a avaliação dessa experiência não conclusa, entendendo o erro como parte do processo de construção do conhecimento.
    Para além dessa dialética de certo ou errado, sucesso ou fracasso nas instituições de ensino, seria mais interessante se valer de contraexemplos concretos de filmes que fogem dessa lógica? Nossa pesquisa buscou investigar sobre as práticas pedagógicas no ensino da realização e se elas buscam estar consonantes com o modelo industrial ou se estão engajadas na criação de novas linguagens e modos de realização, promovendo práticas mais inclusivas e transformadoras. E ainda nos questionamos: esse material inacabado pode virar um dado? é armazenável? pode vir a ser algo para além do que foi planejado?
    A pesquisa iniciou-se com um estudo bibliográfico acerca do trabalho do cineasta com a finalidade de compreender as práticas desempenhadas no seu fazer diário e as obras utilizadas como referencia nas disciplinas de realização. Após esse levantamento, foi constatado que a maioria das fontes bibliográficas são de autores do norte global, que possuem uma realidade político-econômica distinta da nossa, que apresentam uma lógica de sucesso, resultado e eficiência neoliberais e que pouco se detém em práticas mais inclusivas e transformadoras. Posteriormente, pesquisou-se pelos cursos de cinema do Brasil, que são mais dedicados à realização de ficção e seus respectivos Projetos Pedagógicos Curriculares.
    O próximo passo foi a realização de entrevistas com alunos e professores que ministram disciplinas de realização. Ao analisar as falas dos entrevistados, foi possível verificar que ao entrarem na etapa da realização ou da experiência de um set de filmagem, independente da entrega de uma obra concreta concluída e acabada, os aprendizados foram absorvidos e sedimentados pela vivência do processo em si, sendo o que realmente importa nesse contexto.

Bibliografia

    BARNWELL, Jane. Fundamentos de produção cinematográfica. Porto Alegre: Bookman, 2013.

    BORDWELL, David.; THOMPSON, Kristin. A arte do cinema: uma introdução. Campinas: Editora da Unicamp, 2013.

    DUARTE, Jorge. Entrevista em profundidade. In: Métodos e técnicas de Pesquisa em Comunicação. DUARTE; BARROS (Org). São Paulo: Atlas, 2005.

    GERBASE, Carlos. Cinema: Primeiro filme: descobrindo, fazendo, pensando. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2012.
    HALBERSTAM, Jack. A arte queer do fracasso. Trad. Bhuvi Libanio. Cepe Editora, 2020.

    RAGIBER, Michael. Direção de Cinema: técnicas e estética. Rio de Janeiro: Elsevier Editora, 2007.

    SALLES, Cecília A. Processos de criação em grupo: diálogos. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2017.

    YIN, Robert K (2015). Estudo de Caso: planejamento e métodos. Porto Alegre: Bookman.