Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Rosane Kaminski (UFPR)

Minicurrículo

    Bolsista de Produtividade CNPq/PQ2. Professora Associada da UFPR. Pós-Doutora em Meios e Processos Audiovisuais (USP) e Doutora em História (UFPR). Docente dos Programas de Pós-Graduação em História (PPGHIS-UFPR), Artes Visuais (PPGAV-Unespar) e Cinema e Artes do Vídeo (CINEAV-UNESPAR). Autora de A poética da angústia: cinema e história em Sylvio Back (Intermeios, 2021); e A formação de um cineasta (Ed. UFPR, 2018), além de coorganizadora de diversas coletâneas.

Ficha do Trabalho

Título

    A Rebelião dos Animais (Nelson Leirner, 1974-75): articulações entre exposição e filme

Seminário

    Estudos Comparados de Cinema

Resumo

    O objetivo desta comunicação é efetuar uma análise comparativa entre duas obras de Nelson Leirner: a exposição The Rebellion of the Animals: a series of drawings, realizada em 1974 (nos EUA e no Brasil) e o curta-metragem A Rebelião dos Animais, feito em super-8 e exibido II Festival Brasileiro do Filme Super 8, em Curitiba, 1975. Tanto a exposição quanto o filme faziam remissão às violências da ditadura, por meio de metáforas, destacando-se a figura do algoz presente somente no curta-metragem.

Resumo expandido

    O objetivo desta comunicação é efetuar uma análise comparativa entre duas obras de Nelson Leirner: a exposição The Rebellion of the Animals: a series of drawings, realizada em 1974 e o curta-metragem em super-8 A Rebelião dos Animais, de 1975. O filme foi submetido ao II Festival Brasileiro do Filme Super 8, ocorrido em março de 1975 em Curitiba. O evento foi coordenado por Sylvio Back, com apoio do Instituto Nacional de Cinema (INC) e do Governo do Estado do Paraná, recebendo inscrições oriundas de várias regiões do Brasil. Entre os inscritos, constavam artistas visuais, como Ana Maria Maiolino e Alex Flemming, que prepararam materiais exclusivos para festival. Também foi o caso de Nelson Leirner, autor do curta de 18 minutos intitulado A Rebelião dos Animais, até hoje pouco visto e pouco comentado.
    Antes de fazer esse filme, Nelson Leirner havia elaborado a série de 48 desenhos intitulada A Rebelião dos Animais, que resultou na exposição The Rebellion of the Animals: a series of drawings, executada em 1974, inicialmente na Universidade do Texas, em Austin (fevereiro e março), depois no Instituto Cultural Brasileiro de Washington (março e abril) e, finalmente, no Museu de Arte de São Paulo (maio e junho). Tais desenhos estabeleciam uma visão crítica frente ao regime militar. A remissão às violências da ditadura atuava metaforicamente por meio de instrumentos como tesouras, agulhas, espetos e máquinas de moer, associados aos corpos humanoides com formas fálicas ou aos corpos de frangos, suínos e bovinos supostamente preparados para o consumo. As ferramentas e a imolação dos animais evocavam as barbáries ocorridas nos porões do DOI-CODI naquele momento da história do Brasil, principalmente quando tais imagens eram pensadas juntamente com os seus títulos: Encurralados; Torturados; Deportados; Corpos abandonados; Corpos não identificados. Para além disso, o teor político insinuado no nome da exposição (e repetido no curta) vincula-se a fábulas políticas como A Revolta dos Animais (Bunt, 1922) de Władysław Reymont e A Revolução dos Bichos (Animal Farm, 1945) de George Orwell. Vale lembrar que, como artista, Nelson Leirner já era conhecido por sua irreverência e humor, bem como por trabalhos anteriores nos quais fez uso de animais empalhados ou de caricaturas de animais.
    Quanto confrontadas a exposição e o filme aqui em questão, nota-se que há evidentes relações entre as obras, que serão pontuadas no trabalho de análise comparativa. Há, no entanto, uma diferença significativa: a figura do algoz só aparece no curta-metragem. Ausente da exposição, no filme o perpetrador é representado como um ser antropozoomórfico não identificado, uniformizado, que realiza um trabalho técnico e primoroso ao atuar sobre os corpos dos animais manejando instrumentos como tesouras, agulhas, facas, serras e espetos. Usa luvas e roupas pretas e, a princípio, os seus procedimentos parecem apenas gestos culinários, tudo é feito com delicadeza e lentidão, mas gradualmente a montagem se acelera e evoca um tipo de raiva, gerando novos sentidos. Cortar, espetar, assar, moer e devorar – expressões usuais no universo culinário – passam a significar gestos de violência.
    Pretende-se, com a análise comparativa, discutir os sentidos políticos e estéticos das duas obras – exposição e filme – atentando para os seus meios de expressão, seus dispositivos de exibição e os possíveis alcances de sua potência crítica frente ao regime militar.

Bibliografia

    CANONGIA, L. Quase cinema: cinema de artista no Brasil, 1970/80. In: Arte brasileira contemporânea: caderno de textos 2. Rio de Janeiro: Funarte, 1981.
    CHIARELLI, T. Nelson Leirner: arte e não arte. São Paulo: Takano, 2002.
    2º FESTIVAL Brasileiro do Filme Super-8. MEC/SEEC Paraná/PAC/INC. Teatro Guaira, Curitiba, 17 a 22 de março de 1975.
    JAREMTCHUK, D. O Brazilian-American Cultural Institute como ferramenta político-cultural (1964-2007). Estudos Avançados, v. 35, n. 103, p. 155-180, 2021.
    KAMINSKI, R. Publicidade, televisão e festivais de super-8 na Curitiba dos anos 1970. ArtCultura, [S. l.], v. 23, n. 42, p. 271–290, 2021.
    LEIRNER, N. The Rebellion of the Animals: a series of drawings. Art Gallery of the Brazilian-American Cultural Institute Washington (D. C.), march/april 1974.
    ROCHA, F. R. Super Festivais do Grife: produção, circulação e formação de cineastas no super-8 brasileiro (1973-1983). Dissertação de Mestrado em Imagem e Som, UFSCar, São Carlos, 2015.