Ficha do Proponente
Proponente
- Amanda de Sousa Veloso (UFG)
Minicurrículo
- Graduada em Direção de Arte pela Universidade Federal de Goiás, mestra e doutoranda em Comunicação pelo Programa de Pós-graduação em Comunicação da mesma universidade (PPGCOM/UFG) na linha de pesquisa Mídia e Cultura. Interessa-se por cinema brasileiro, sobretudo as produções de horror a partir dos anos 2000, insólito, direção de arte e estudos de recepção.
Coautor
- LARA LIMA SATLER (UFG)
Ficha do Trabalho
Título
- O horror social e o insólito na perspectiva da crítica em Cidade; Campo (2024)
Resumo
- Cidade; Campo (2024), de Juliana Rojas, é um filme dividido em duas partes: a primeira se passa na cidade e a segunda no campo. O objetivo deste trabalho é compreender aspectos das leituras especializadas do filme que tenham relação com as proposições de horror social e insólito como crítica social. A partir da leitura prévia de 14 críticas especializadas foi possível perceber como o sobrenatural e o fantástico são percebidos e destacados nessa e em outras obras da diretora.
Resumo expandido
- Cidade; Campo, lançado em 2024, foi escrito e dirigido por Juliana Rojas, cineasta brasileira que também assina outros três longas: Trabalhar Cansa (2011), Sinfonia da Necrópole (2014) e As Boas Maneiras (2018). O filme em questão, apesar de pouco destaque nas salas de exibição comercial, ganhou prêmios, como o de Melhor Direção no Festival de Berlim, e foi bem recebido entre a crítica especializada.
A obra de Rojas, dividida em duas partes – a primeira que se passa no espaço da cidade e a segunda no campo – e é definida como drama e suspense, no primeiro momento narra a história de Joana, recém chegada à cidade de São Paulo após o rompimento de uma barragem em Minas Gerais que a fez perder tudo, em alusão direta ao rompimento das barragens de Mariana e Brumadinho, ocorridas em 2015 e 2019. Na segunda parte, acompanhamos a mudança de Flávia e Mara para o campo, numa fazenda no interior do Mato Grosso do Sul que pertencia ao recém falecido pai de Flávia. As duas enfrentam as dificuldades de viver nesse novo espaço que parece hostil: as tentativas de plantio não dão certo e a floresta por vezes parece uma personagem assustadora.
As narrativas de Cidade; Campo traçam conexões com a realidade, exploradas através do roteiro, da direção de arte e do som no filme. Laura Cánepa (2016) propõe que “é possível falar em duas frentes que vêm se tornando importantes do horror nacional” (Cánepa, 2016, p. 128), a primeira se refere a uma frente de horror militante e a segunda ao horror social, “que prefere a forma híbrida com outros gêneros, em filmes que dificilmente podem ser incluídos na categoria do horror, mas que decerto dialogam com ela”. Propomos que o filme de Rojas se localiza neste segundo grupo.
Compreendemos que a perspectiva do horror social dialoga com a tendência do insólito como crítica social pensada por Cynthia Beatrice Costa (2023): “o uso do insólito como recurso narrativo para denunciar a injustiça real enfrentada pelas […] O que perturba mais: rituais macabros e casas mal-assombradas, ou a situação absurda em que de fato vive grande parte da sociedade?” (Costa, 2023, p. 91-92). Assim, o objetivo deste trabalho é compreender aspectos das leituras especializadas do filme que tenham relação com as proposições de horror social e insólito como crítica social. A questão que guia a pesquisa é: como a crítica especializada produz sentido sobre o insólito e do horror em Cidade; Campo?
A escolha de pesquisar a crítica especializada se deu a partir da afirmação de Mohamed Bamba (2013) de que “A própria crítica especializada ou não, vem sendo apreendida como prática de recepção cujos ‘vestígios’ discursivos parecem ser tão importantes quanto os filmes sobre os quais ela escreve” (Bamba, 2013, p. 11). Compreendemos que a partir dessa “primeira recepção”, poderemos perceber como os espectadores traçam essas prováveis relações entre horror e insólito com a realidade.
Realizamos um levantamento a partir da lista de críticos vinculados à Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) no dia 7 de março de 2025. A lista contém ao todo 181 nomes e suas respectivas cidades, entretanto consideramos para a pesquisa somente os críticos que possuíam algum link já vinculado a seu nome, reduzindo o número para 87. A partir desses 87 nomes realizamos uma busca para identificar críticas publicadas em texto sobre a obra em questão, como resultado obtivemos 14 críticas.
Com base na leitura prévia das críticas, aparece como destaque o caráter fantástico e sobrenatural observado neste e nos outros filmes de Rojas, apontada como um nome consolidado do cinema brasileiro. Também são mencionadas as relações do filme com a realidade, tais como as tragédias de Brumadinho e Mariana e a precarização do trabalho. Por fim, notamos que a primeira metade do filme, que se passa na cidade, foi mais bem recebida pela crítica do que a parte do campo, que é mais inundada pelo sobrenatural.
Bibliografia
- BAMBA, Mahomed. Introdução: Estudos da recepção e da espectatorialidade cinematográficas: da teoria aos estudos de caso. In: BAMBA, Mahomed (org.). A recepção cinematográfica: teoria e estudos de casos. Salvador: EDUFBA, 2013. p. 7-18.
CÁNEPA, L. L. Configurações do horror cinematográfico brasileiro nos anos 2000: continuidades e inovações. In: João Batista Freitas Cardoso; Roberto Elísio dos Santos. (Org.). Série Comunicação & Inovação: Miradas sobre o cinema ibero latino-americano contemporâneo. 1ed.São Caetano do Sul: Universidade de São Caetano do Sul, 2016, v. 8, p. 121-144.
COSTA, Cynthia Beatrice. Tendências do insólito no cinema atual. In: MARKENDORF, Marcio; SÁ, Daniel Serravalle de; DROZDOWSKA-BROERING, Izabela (org.). GÓTICOS: Perspectivas contemporâneas. Florianópolis: UFSC, 2023. p. 85-99.
REIS, Carlos; ROAS, David; FURTADO, Filipe; GARCÍA, Flavio; FRANÇA, Júlio (Eds.). Dicionário Digital do Insólito Ficcional (e-DDIF). 2. ed. Rio de Janeiro: Dialogarts, 2022.