Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Belisa Brião Figueiró (UFSCAR / CBM)

Minicurrículo

    Doutora em Ciência, Tecnologia e Sociedade pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), com a tese O Cinema Brasileiro no Festival de Cannes (1949-2017): Políticas de Internacionalização e Abertura de Mercado. Mestre em Imagem e Som também pela UFSCar. Autora do livro Coprodução de Cinema com a França: Mercado e Internacionalização (Editora Senac São Paulo, 2018). É professora substituta na UFSCar e professora dos cursos de Comunicação do Centro Universitário Barão de Mauá.

Ficha do Trabalho

Título

    Ainda Estou Aqui e Central do Brasil nas salas da França: efeitos do Oscar e das políticas públicas

Resumo

    Esta comunicação apresenta um estudo comparativo entre o lançamento dos filmes Ainda Estou Aqui (2024) e Central do Brasil (1998) no circuito exibidor francês e o impacto que as premiações no Globo de Ouro e no Oscar tiveram nesse processo. Para isso, serão examinados os dados obtidos junto ao Centre National du Cinéma et de l’Image Animée (CNC). Ao mesmo tempo, avalia as políticas brasileiras de internacionalização, considerando que os dois longas-metragens são coproduções franco-brasileiras.

Resumo expandido

    A conquista inédita do Oscar de Melhor Filme Internacional para Ainda Estou Aqui em março de 2025 conduziu o Brasil ao panteão dos países que receberam a maior premiação que o cinema norte-americano outorga aos filmes realizados exclusivamente em língua não inglesa. O Globo de Ouro de Melhor Atriz na categoria Drama para Fernanda Torres foi entregue dois meses antes, e foi decisivo para as três indicações (feito também histórico) que o longa-metragem recebeu logo depois no Oscar: Melhor Filme, Melhor Filme Internacional e Melhor Atriz. No Brasil, os reflexos foram imediatos: mais de 5 milhões de espectadores compareceram às salas de cinema até a data da cerimônia, a maioria das críticas foram favoráveis à obra de Walter Salles e a torcida pela vitória no Oscar se transformou em um engajamento jamais visto para um filme brasileiro na internet. Mas, e no país coprodutor? Como os espectadores franceses receberam o filme? Quais foram os efeitos das premiações na venda de ingressos?

    Ainda Estou Aqui é uma coprodução entre o Brasil e a França e tem a Mact Production como empresa responsável pela parte francesa. Ela é a mesma que também coproduziu Central do Brasil (1998), o primeiro filme de Salles realizado em parceria com a França e que também foi indicado ao Globo de Ouro e ao Oscar, em 1999. Ganhou somente o Globo de Ouro de Melhor Filme Internacional, mas já naquela época o prêmio foi importantíssimo para alavancar o longa-metragem no circuito francês. Distribuído pela StudioCanal (a mesma distribuidora de Ainda Estou Aqui), Central do Brasil chegou a 122 cópias na quinta semana em cartaz e totalizou 889.565 espectadores na França, marca histórica para um filme majoritário brasileiro naquele país (FIGUEIRÓ, 2018).

    Antes de chegar às salas, Central do Brasil recebeu o Urso de Ouro de Melhor Filme no Festival de Berlim em 1998, prêmio que mudou completamente a sua trajetória no circuito internacional, estimulando a sua participação em outras mostras e, principalmente, as vendas para os mais diversos territórios e chegando a novos públicos em todos os continentes (FIGUEIRÓ, 2018). Da mesma forma, Ainda Estou Aqui estreou no Festival de Veneza de 2024, no qual foi muito aplaudido e laureado com o prêmio de Melhor Roteiro. Em seguida, foi exibido e aclamado no Festival de Toronto, considerado um termômetro para os filmes que são indicados ao Oscar. Outras dezenas de festivais também exibiram os dois filmes, mas vamos no deter apenas nos maiores.

    Essas duas trajetórias, portanto, se aproximam em termos de estratégias e resultados. Desde a concepção do projeto, se verifica uma série de escolhas iniciadas em Central do Brasil e que se confirmaram eficazes, mais uma vez, em Ainda Estou Aqui. A primeira delas é a escolha da França como país coprodutor. Historicamente, este país europeu mantém relações cinematográficas muito próximas com o Brasil (FIGUEIRÔA, 2004; FLÉCHET, 2009). É também por meio dos coprodutores franceses que os realizadores brasileiros conseguem alcançar mais facilmente os curadores dos festivais e os agentes de vendas que serão determinantes para uma trajetória internacional, bem como os distribuidores que farão o lançamento no próprio circuito francês (FIGUEIRÓ, 2018; 2023).

    Entretanto, para que essa dinâmica seja mais sistêmica e acessível a todos os realizadores interessados em alcançar o mercado externo, é fundamental que as políticas públicas estimulem mais coproduções internacionais, a difusão nos maiores festivais de cinema, e a distribuição nos diferentes países. Nesta comunicação, será realizado um estudo comparativo entre o lançamento dos filmes Ainda Estou Aqui e Central do Brasil no circuito exibidor francês, a partir dos dados obtidos junto ao Centre National du Cinéma et de l’Image Animée (CNC); e também serão avaliadas as políticas brasileiras de internacionalização, considerando esses dois longas-metragens franco-brasileiros.

Bibliografia

    CRETON, Laurent. Cinéma et marché. Paris: Armand Colin, 1997.

    FIGUEIRÓ, Belisa. Coprodução de cinema com a França: mercado e internacionalização. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2018.

    FIGUEIRÓ, Belisa. O Cinema Brasileiro no Festival de Cannes (1949-2017): Políticas de Internacionalização e Abertura de Mercado. 2023. 342p. Tese (Doutorado em Ciência, Tecnologia e Sociedade) – Centro de Educação e Ciências Humanas, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2023.

    FIGUEIRÔA, Alexandre. Cinema Novo: A onda do jovem cinema e sua recepção na França. Campinas: Papirus, 2004.

    FLÉCHET, Anaïs. Um mito exótico? A recepção crítica de Orfeu Negro de Marcel Camus (1959-2008). Significação, São Paulo, v.36, n.32, p.43-62, 2009.

    FOREST, Claude. L’argent du cinéma: Introduction à l’économie du septième art. Paris: Éditions Belin, 2002.

    VALCK, Marijke de. Film festivals: History and theory of a European phenomenon that became a global network. Universiteit van Amsterdam. 2006.