Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Nívea Faria de Souza (UNESA)

Minicurrículo

    Possui cerca de 20 anos de prática artística cênica e audiovisual, sempre como figurinista, cenógrafa ou diretora de arte. É doutora e mestre em Arte e Cultura Contemporânea pela UERJ, com Doutorado Sanduíche (PDSE-CAPES) pela Universidade do Algarve-Portugal, Bacharel em Artes Cênicas em Indumentária e Cenografia pela UFRJ. Professora de direção de arte, figurino, crítica da arte contemporânea e projeto audiovisual. Integra o NIDAA/CNPQ e o NEHMI/CNPq.

Ficha do Trabalho

Título

    Direção de Arte: Transdisciplinaridade e Saberes Geracionais

Seminário

    Estética e Teoria da Direção de Arte Audiovisual

Resumo

    A direção de arte é uma prática transdisciplinar que envolve diversas áreas do conhecimento, da escultura à costura. Sua essência artesanal está no processo minucioso de criação de objetos e efeitos visuais. Esse campo exige constante reflexão e adaptação tanto às demandas técnicas quanto às exigências estéticas de cada projeto. A transmissão de saberes, muitas vezes de forma geracional, é um aspecto importante e comum dessa prática, evidenciando o vínculo entre tradição , inovação e identidade.

Resumo expandido

    A direção de arte é um campo intrinsecamente transdisciplinar, envolvendo diversas áreas do conhecimento, como escultura, design, maquiagem e figurino, entre outras. Essa transdisciplinaridade se manifesta na materialização de objetos e efeitos visuais que, antes de sua construção, não existiam, configurando a direção de arte como uma prática artesanal, um processo minucioso de criação. Richard Sennett, em O Artífice (2008), destaca que o trabalho artesanal vai além da técnica, envolvendo também uma relação emocional e intelectual com a prática. O artífice dedica-se ao aprimoramento contínuo da habilidade, e na direção de arte, isso se traduz na adaptação e reflexão constante para atender às demandas técnicas da produção e às exigências estéticas.

    A prática de direção de arte é inseparável da experiência empírica. Cada projeto exige soluções criativas específicas, e muitas das técnicas utilizadas surgem do aprendizado prático, frequentemente transmitido de geração em geração, especialmente em contextos familiares. Nesse processo, a teoria se interage com a vivência no ambiente de trabalho, onde se aprende não só a técnica, mas um modo de ser e fazer. A experiência vivida no II SIDART, em agosto de 2024, ilustra como os saberes na direção de arte são transmitidos de forma direta e geracional. No evento, dois profissionais com mais de 20 anos de experiência estavam acompanhados por seus filhos, que atuavam como auxiliares, refletindo a continuidade dessa prática familiar.
    Essa transmissão de saberes também pode ser analisada através das perspectivas de Néstor García Canclini. Canclini, ao tratar de cultura híbrida, destaca como práticas culturais se transformam ao encontrar tradições e influências diversas. Na direção de arte, isso se reflete na integração de técnicas tradicionais com inovações tecnológicas.
    O conceito de aprendizagem situada, desenvolvido por Jean Lave e Étienne Wenger, também é relevante para compreender a transmissão de saberes na direção de arte. Eles propõem que o aprendizado acontece dentro de comunidades de prática, onde novatos começam a aprender de maneira periférica e gradual. Na direção de arte, isso se traduz no processo em que os aprendizes, ao serem inseridos como auxiliares, absorvem não apenas as técnicas de construção, mas as formas de pensar e resolver problemas típicas dos profissionais mais experientes.
    Adicionalmente, a teoria da dádiva de Marcel Mauss ilustra como os saberes circulam e se consolidam na direção de arte. Para Mauss, o conhecimento não se transmite apenas de forma utilitária, mas também simbólica, estabelecendo laços afetivos e sociais. Na direção de arte, essa troca simbólica é visível nas relações familiares, onde o saber é mais do que uma ferramenta prática, sendo também um meio de afirmar identidade e tradição.
    A metodologia deste estudo incluirá entrevistas com profissionais da direção de arte, principalmente aqueles envolvidos na criação de adereços, efeitos e figurinos, além de acompanhamento social para entender as dinâmicas de transmissão de saberes familiares e a inserção dos filhos no mercado profissional. A bibliografia incluirá obras sobre aprendizagem situada, cultura híbrida, teoria da dádiva e transdisciplinaridade na direção de arte, buscando integrar as perspectivas de Sennett, Canclini, Lave, Wenger e Mauss.
    Este estudo busca refletir sobre como a direção de arte, enquanto prática artesanal e transdisciplinar, é não apenas uma construção de materialidades e visualidades, mas também um campo onde saberes geracionais são transmitidos e ressignificados, evidenciando como a técnica, o afeto, a tradição e a inovação se entrelaçam no processo criativo.

Bibliografia

    CANCLINI, Néstor García. Culturas híbridas: Estratégias para entrar e sair da modernidade. Editora Ubu: 2005.
    GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas. Editora Guanabara Koogan: 2008.
    LAVE, Jean; WENGER, Étienne. Aprendizado situado: Da legítima periferia à plena participação. Editora Artmed: 2003.
    MAUSS, Marcel. Ensaio sobre a dádiva: Forma e razão da troca nas sociedades arcaicas. Editora Perspectiva: 1997.
    SENNETT, Richard. O Artífice. Editora Record: 2008.
    FERREIRA, Benedito; JACOB, Elizabeth; ROCHA, Iomana; SOUZA, Nívea Faria de; XAVIER, Tainá. Dimensões da direção de arte audiovisual. Nau Editora: 2024