Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Márcio Câmara (UFPE)

Minicurrículo

    Bacharel em Artes no Cinema pela San Francisco State University (SFSU), é Mestre em Estudos de Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e doutorando no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) com pesquisa sobre o Som no Cinema. Realizador Audiovisual e Técnico de Som Direto.

Ficha do Trabalho

Título

    Criando Métodos Sonoros: o Som Cinematográfico Francês e Estadunidense.

Seminário

    Histórias e tecnologias do som no audiovisual

Resumo

    O artigo propõe uma reflexão sobre o contexto histórico e tecnológico na constituição de padrões que distinguem e classificam dois métodos, chamados coloquialmente de escolas sonoras: a estadunidense e a francesa. A proposta é encontrar confluências e individualidades em especial na adoção da prática de captação de som direto em locação nos dois países citados.

Resumo expandido

    Na minha pesquisa de mestrado Som Direto no Cinema: entre e a criatividade e a técnica pesquisei a atuação criativa dos Técnicos de Som Direto no cinema brasileiro contemporâneo. Era recorrente ouvir comentários de diferentes pessoas sobre a influência que duas “escolas sonoras” – a americana e a francesa – tiveram no som cinematográfico feito no mundo. Para muitas das pessoas entrevistadas havia uma declarada sonoridade advinda da maneira como escutamos os filmes feitos nesses países, delimitando maneira específicas de representação do som no cinema, reverberando em outras cinematografias e criando parâmetros a serem seguidos.
    Ao pesquisar sobre o tema não encontrei nada escrito em português, havendo somente um autor estadunidense, Charles O’Brien, centrando sua investigação no tempo histórico da formação dessas duas escolas, mas sem fazer referência ao fato da criação de um método sonoro a partir desses dois modelos. Dessa maneira constatei uma carência de estudos mais aprofundados, com referenciais teóricos mais sólidos, sobre a criação da tradição e da propagação de uma linha de escuta que distinga cada cinematografia como uma “escola sonora”, bem como de suas influências na sonoridade do cinema brasileiro.
    Para O’Brien, que foca na transição do cinema silencioso para o sonoro, no período que vai de 1927 a 1934, em filmes sonorizados na película projetada (movietone) ou em discos separados (vitaphone) (Crafton, 1997), o som dos filmes feitos em Hollywood enfatizavam a inteligibilidade da fala dentro da narrativa do filme. Já a realidade francesa ressaltava um modelo alternativo onde o som servia para reproduzir uma performance dos atores, geralmente vindos da ópera, do rádio ou do teatro, sendo os filmes franceses feitos como extensão dessas outras atividades. Por outro lado, em relação à produção de tecnologia, o mesmo não pode ser dito da realidade francesa. Os estúdios franceses não produziam tecnologia de gravação sonora própria, nesse momento, utilizando a patente alemã da Tobis – Klangfilm ou as patentes estadunidenses da Western Electric ou RCA (Gomery, 1985). Mesmo assim a tradição do son direct está incluída nos primeiros filmes franceses e como nos aponta Andrew, ancorado no ideário de André Bazin, marcada por uma estética realista, onde o som tem lugar especial em revelar esse realismo (Andrew, 1980).
    A grosso modo o método de captação e reprodução estadunidense prioriza a voz tendo ela sempre em primeiro plano, minimizando o espaço onde o personagem que fala está inserido. É como se o personagem com o poder da sua fala respondesse pelo resto dos sons, sendo esses sons subordinados ao espaço diegético onde eles ocorrem. O método francês, em contraponto, prioriza o espaço, podendo ter a voz do personsagem em um plano mais presente, mas acompanhada do ambiente do local onde está sendo realizada a gravação dos sons, amplificando o espaço onde o personagem que fala está inserido.
    A intenção do artigo é detalhar a situação estética e tecnológica de quando a introdução do som sincronizado nos dois países que aponto como formadores de métodos sonoros: França e Estados Unidos. Aprofundo procedimentos práticos em comum – filmagem com múltiplas câmeras, número de microfones espalhados pelo set e o uso da regravação para obter melhores condições sonoras – que foram empregados nos dois países apontados, mas com resultados diferentes.

Bibliografia

    ANDREW, Dudley. Sound in France: the origins of a native school. New Haven, CT: Yale French Studies, número 60, Cinema/Sound, 1980.

    CÂMARA, MÁRCIO. Som Direto no Cinema Brasileiro: fragmentos de uma história. Fortaleza: RDS Editora, 2019.

    CRAFTON, Donald. The Talkies: American cinema’s transition to sound 1926 – 1931. Berkeley: University of California Press, 1997.

    GOMERY, Douglas. Economic struggle and Hollywood Imperealism: Europe converts to sound. Em WEIS, Elisabeth, BELTON, John (org.). Film Sound: theory and practice. New York: Columbia University Press, 1985, p 25-36.

    O’BRIEN, Charles. Cinema’s conversion to sound: technology and film style in France and the U.S. Bloomington: Indiana University Press, 2005.