Ficha do Proponente
Proponente
- Rafael de Luna Freire (UFF)
Minicurrículo
- Professor no Departamento de Cinema e Vídeo e no Programa de Pós-Graduação em Cinema e Audiovisual da UFF, onde coordena o Laboratório Universitário de Preservação Audiovisual (LUPA-UFF). É bolsista de produtividade do CNPq. Autor de inúmeros estudos sobre a história do cinema brasileiro, seu último livro é “O negócio do filme: A distribuição cinematográfica no Brasil, 1907-1915”, publicado em 2022.
Ficha do Trabalho
Título
- Um panorama do cinema amador no Brasil, entre 1920 e 1980, a partir do acervo do LUPA-UFF
Seminário
- Arquivo e contra-arquivo: práticas, métodos e análises de imagens
Resumo
- O LUPA-UFF é um arquivo audiovisual especialmente voltado para a preservação e promoção do cinema amador fluminense. A reunião de um acervo de centenas de filmes 8mm, 9.5, Super 8 e 16mm e a capacidade do próprio laboratório digitalizar essas películas garantem um corpus amostral substancial, o que motiva essa proposta de um panorama do cinema amador brasileiro, entre os anos 1920 e 1980, em termos quantitativos e qualitativos.
Resumo expandido
- O Laboratório Universitário de Preservação Audiovisual da Universidade Federal Fluminense (UFF) é um arquivo audiovisual especialmente voltado para a preservação e promoção do cinema amador fluminense. Desde a sua criação, em 2017, o LUPA-UFF já reuniu um acervo que conta com centenas de rolos de filmes nas bitolas 8mm, 9.5, Super 8 e 16mm. Além disso, o laboratório possui uma estrutura própria para a digitalização dessas películas cinematográficas. A reunião de um corpus amostral amplo pelo laboratório é o que motiva essa proposta de um panorama do cinema amador brasileiro, entre os anos 1920 e 1980, em termos quantitativos e qualitativos.
Nessa proposta, a análise quantitativa fará uso da base de dados do LUPA, que conta, em março de 2025, com 1.192 registros de filmes. A base possui dados sobre a bitola, o ano de realização, o gênero, o fabricante da película etc. de cada um dos filmes do acervo e que podem ser combinados, filtrados ou ordenados.
Desse modo, iremos apresentar algumas conclusões a partir da análise desses dados quantitativos (cotejadas com outras fontes) que nos permitem propor, por exemplo, uma cronologia inédita e mais precisa sobre o uso de diferentes bitolas no Brasil
A bitola 9.5mm foi a de maior popularidade no Brasil nos anos 1920, quando foi lançada pela Pathé Frères. Ainda assim, permaneceu com razoável uso entre os anos 1930 e 1950. Já a bitola 8mm, apesar de ter sido lançada nos EUA em 1932, só passou a ser usada significativamente no Brasil no final dos anos 1940, atingindo o auge de sua popularidade junto aos amadores ao longo da década de 1960. Já a bitola Super 8, mesmo sendo lançada nos EUA em 1965, só foi usada no Brasil na década de 1970, quando se tornou a mais popular de todos os tempos. Por fim, mesmo tendo sido lançado nos anos 1920 em concorrência à Pathé Baby, a bitola 16mm, da Kodak, não foi amplamente utilizada pelos cineastas amadores no Brasil, devido ao seu alto custo, até o fim da Segunda Guerra Mundial. Assim, o uso do 16mm por cineastas amadores brasileiros só se tornou mais acentuado nas décadas de 1950 e 1960, sucedendo o 9.5mm, concomitantemente ao 8mm, e antes da chegada do Super 8.
Mas além dessa análise panorâmica a partir de dados quantitativos, essa proposta irá aprofundar esse panorama do cinema amador brasileiro a partir da experiência de visionamento dos mais de 300 rolos de filmes brasileiros do acervo do LUPA já digitalizados. Assim, será feita uma análise qualitativa dos tipos e gêneros mais comuns de filmes amadores, cujas características formais manifestam antecedente nos registros fotográficos, como os que se dedicam a festas de aniversário, cerimônias de batizado e casamento, ou passeios e viagens.
Por outro lado, também serão destacados elementos mais específicos dos filmes amadores brasileiros a partir do acervo do LUPA, como a recorrência do carnaval e do banho de mar na praia, assim como a liberdade e espontaneidade que o registro de crianças ou grupos de amigos trazia para a forma mais comum das filmagens amadoras. Nesse sentido, exibiremos alguns exemplos que fogem às características mais recorrentes dos filmes amadores, sugerindo linhas de investigação ainda pouco exploradas.
Por fim, ressalto que adoto o termo “cinema amador” em oposição às obras cinematográficas feitas para exibição comercial em salas de cinema. Desse modo, o cinema amador abarca tanto os filmes familiares ou domésticos (BLANK, 2016; FOSTER, 2016; RODRIGUES, 2024) quanto também filmes de encomenda (ex: filmagens de casamentos) ou com algum uso profissional (ex: filmes médicos), mas que se destinavam à exibição em outros espaços que não a sala de cinema (FREIRE, 2024)
Bibliografia
- BLANK, Thais Continentino. Da tomada à retomada: origem e migração do cinema doméstico brasileiro. (Doutorado em Comunicação e Cultura). UFRJ, 2015.
FOSTER, Lila Silva. Cinema amador brasileiro: história, discursos e práticas (1926-1959). (Doutorado Ciência da Comunicação). USP, 2016.
FREIRE, Rafael de Luna. Correa Souza Filmes: três gerações de profissionais da produção, distribuição e exibição cinematográfica em 16mm. In: ARAÚJO, Luciana Corrêa de; MELO, Luís Alberto Rocha; FREIRE, Rafael de Luna (orgs.). Cinema sob medida: diversidade de formatos, circuitos e consumos no Brasil. São Paulo: Ilustre; Niterói: PPGCine, 2024.
RODRIGUES, Vanessa Maria. Coleção Nahim Miana: um estudo sobre a preservação de um conjunto de filmes domésticos. (Doutorado em Cinema e Audiovisual). UFF, Niterói, 2024.