Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Tábata Clarissa de Morais (UFPB)

Minicurrículo

    Graduada em RTVI (UFPE), especialista em Escrita Criativa (UNICAP-PUCRS), mestranda em Comunicação (PPGC) Tábata atua no mercado audiovisual há 18 anos. Atualmente se dedica aos estudos e prática de roteiro.

Ficha do Trabalho

Título

    FRICÇÕES: Enquanto Tocam as Obras Distrativas

Eixo Temático

    ET 2 – INTERMIDIALIDADES, TECNOLOGIAS E MATERIALIDADES FÍLMICAS E EPISTÊMICAS DO AUDIOVISUAL

Resumo

    A Netflix teve um alto índice de perda de assinaturas em todo o mundo e adotou a política de não publicar mais quantidade de assinantes. O estudo visa refletir sobre o uso referencial de algoritmos para eleição de critérios narrativos adotados pelas plataformas de streaming – e seu reflexo na criação de originais em fronteiras transnacionais. Serão abordados aspectos simbólicos como pós-colonialidade, estetização da violência, criação de personagens, a fim de proporcionar digressões críticas.

Resumo expandido

    O estudo analisa a dinâmica das plataformas de streaming e seu impacto sobre as produções culturais em contextos transnacionais. Para isso, investiga a recente perda de assinantes da Netflix como sintoma de fragilidades estruturais em suas curadorias e dinâmicas produtivas. Observamos as ramificações desse fenômeno na seleção e produção de conteúdos, moldadas por uma estética algorítmica que prioriza padrões de consumo previsíveis em detrimento da diversidade narrativa.
    A discussão se ancora em um subgênero específico: o Nordestern, que emerge da cultura cinematográfica nordestina no Brasil. Inicialmente, abordamos a transformação profunda nos fluxos globais de comunicação operada pelas plataformas, cujo modelo de negócios se fundamenta em indícios curatoriais definidos por dados quantitativos de experiências prévias. Esse sistema busca escalabilidade e maximização de usuários, interagindo com dados dos assinantes para moldar narrativas que frequentemente reduzem complexidades culturais a representações estereotipadas do que se entende como “conteúdo universal”. Esse processo reflete formas de colonização cultural, nas quais conglomerados globais controlam a produção e distribuição de significados, favorecendo histórias que ressoam com um público amplo, mas que negligenciam particularidades locais.
    O texto também examina a estética da violência nas produções brasileiras para streaming, com ênfase nas séries policiais e de faroeste. Morais discute como obras icônicas como “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, “Cidade de Deus” e “Tropa de Elite” contribuíram para a formação de uma percepção limitada da cultura brasileira no mercado audiovisual global. Esse foco recorrente na violência e na opressão pode ser compreendido dentro de um contexto pós-colonial, no qual as narrativas reforçam clichês e simplificam a riqueza cultural de um país de dimensões continentais.
    A análise do Nordestern revela que esse gênero, historicamente marcado por crítica social e ironia cultural, pode encontrar espaço nas plataformas, mas frequentemente passa por um processo de adequação às expectativas de um público global, diluindo suas peculiaridades. A transformação das narrativas através de algoritmos, que identificam padrões de consumo e os reproduzem, limita a expansão das histórias contadas e reflete uma epistemologia desencantada, que desencoraja a inovação e a exploração aprofundada das subjetividades culturais.
    Morais também problematiza as ausências subjetivas que emergem dessas escolhas curatoriais. Questiona-se por que a diversidade cultural é sistematicamente marginalizada em prol de conteúdos padronizados e se a falta de comprometimento com realidades locais não contribui para essa exclusão. Os desafios postos pelas plataformas incluem a falta de transparência nos algoritmos, questões sobre direitos autorais, a exploração de criadores e o problema ético da manipulação de dados. Tais tendências podem levar ao afastamento do público, uma vez que o conteúdo se distancia do que poderia ser inovador e autêntico.
    Ao longo do texto, apontamos possíveis soluções através de alternativas locais que invistam na diversidade de histórias e subjetividades. É necessário reconhecer temas, narrativas e processos criativos que transcendam a homogeneização de um ser pretensamente “universal”. O estudo incentiva um olhar mais crítico sobre as práticas de produção cultural contemporâneas, reforçando a importância de histórias autônomas, autênticas e enraizadas na diversidade e na riqueza cultural – fundamentais para a vitalidade de uma indústria verdadeiramente criativa.

Bibliografia

    REFERÊNCIAS
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    COSTA, RODRIGO CHRISTOFOLETTI. O faroeste em John Ford e Glauber Rocha: a verdade e o mito da imagem. Revista Poiésis, v. 10, n. 14, p. 102-113, 2018. Disponível em: https://doi.org/10.22409/poiesis.1014.102-113.
    GOMES, PAULO EMÍLIO SALES. Cinema: trajetória no subdesenvolvimento. 2. ed. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1996.
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