Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Ivonete Pinto (UFPEL)

Minicurrículo

    Jornalista, Doutora pela ECA/USP; docente nos cursos de Cinema UFPel; pesquisadora visitante na Universidade de Leeds (UK) em 2024, com estudos sobre cinemas indígena; crítica de cinema, presidente da Abraccine (2019-2021) e da Accirs (2008-2010); autora, entre outros, de Cinemas Periféricos – Estéticas e Contextos não Hegemônicos (2021); coeditora da revista Teorema (2002-2022); organizou livros sobre Jean-Claude Bernardet e Ismail Xavier; escreve para o site CinemaEscrito.

Ficha do Trabalho

Título

    Cinemas indígenas – indexação e circulação

Resumo

    A apresentação objetiva trazer alguns resultados de pesquisa exploratória sobre cinemas indígenas, tendo como delimitação a indexação e análise de circulação de filmes de longa-metragem dirigidos por indígenas. A investigação é um desdobramento dos estudos em torno das cinematografias periféricas, que resultaram em livro sobre o tema (Pinto, 2021). Na fase exploratória, em período de pesquisa na Universidade de Leeds (UK), foram examinados os cinemas indígenas mundiais, incluindo o Brasil.

Resumo expandido

    A apresentação objetiva trazer alguns resultados de pesquisa exploratória na Universidade de Leeds (UK), com delimitação centrada em filmes de longa-metragem dirigidos por indígenas. A investigação é um desdobramento dos estudos em torno dos cinemas periféricos (Pinto, 2021). Na atual fase da pesquisa, procurou-se, com base bibliográfica, observar os cinemas indígenas em países como Austrália, Canadá, Nova Zelândia e Brasil. Cinematografias estas que apresentam semelhanças e dessemelhanças, nos permitindo elaborar reflexões desafiadoras. Entre elas, a de indexar as produções indígenas brasileiras e a partir delas verificar como se dá sua circulação.
    O sucinto mapeamento sobre o cinema indígena em longa-metragem leva em conta que o cinema periférico – world cinema – tem permanente acompanhamento quanto à circulação. A ideia é, desse modo, trabalhar um nicho de produção recente, impactado pelas possibilidades de distribuição e exibição via streaming. Iordanova e Cunningham, ainda em 2012 mapearam parte do cinema indígena na antologia “World cinema on Demand, no capítulo “Digital Disruption: cinema moves online”, inaugurando análises sobre as novas formas de recepção. Para atualizamos este conceito de disrupção, entendemos que as tecnologias on demand ganham outra dimensão desde a pandemia de Covid19 e que o cinema indígena brasileiro carece de investigação no novo cenário.
    Naturalmente, o cinema indígena produzido na América do Norte, que ocupa espaço mais expressivo nos festivais e no streaming, deve ser visto de forma distinta na comparação com a América Latina. As condições de produção são relacionadas a contextos históricos culturais e econômicos particulares. O cinema indígena brasileiro, sobre o qual a pesquisa é concentrada, tem tido exibição majoritariamente através de festivais nacionais de cinema (Freitas, 2019) e de plataformas alternativas, de consumo reduzido e segmentado. Por ora, o impacto da tecnologia de circulação pode ser verificável mais facilmente em plataformas abertas, como YouTube, e no Brasil em plataformas como Sesc digital e Instituto Moreira Salles.
    Preliminarmente, e no esforço de traçar um breve panorama mundial sobre cinema indígena, partimos deste que é um estudo pioneiro com tal abordagem: “Native Features – Indigenous films around the world” (Houston Wood 2008). A obra inicia indagando o que é cinema indígena. Um rótulo colado em filmes produzidos por povos originários de qualquer lugar? Segundo Wood (2008), a etiqueta “indigenous film” não foi criada pelos próprios indígenas e as nomenclaturas em torno dos indígenas fazem parte do sistema imperialista dos exploradores, dos colonizadores e dos próprios cientistas e pesquisadores que invadiram suas terras ocasionalmente a procura de conhecimento antropológico. Ainda no aporte teórico, esta apresentação traz o conceito de Quarto Cinema/Forth Cinema, criado pelo cineasta maori Barry Barclay. Conceito que deve ser problematizado, considerando que o próprio cineasta – o primeiro a dirigir um longa-metragem na Nova Zelândia – admite que possa haver idealização no termo.
    Em 2002, Barclay definiu a noção de Forth Cinema em comparação com seus equivalentes, Primeiro, Segundo e Terceiro Cinemas, todos designados como “cinemas invasores” (Columpar, 2010). Para ele, o Quarto Cinema deriva sua potência de “culturas remanescentes antigas” que persistem dentro, mas separadas de estados-nação modernos e, portanto, oferecem um ponto de vista que é marcadamente distinto daquele das instituições que lhe emprestam suporte financeiro e/ou infraestrutural. Dada a escassez de filmes que se qualificam como indígenas, Barclay é o primeiro a reconhecer que o Quarto Cinema é mais um ideal do que uma realidade. Assumindo a perspectiva de Barclay, esta pesquisa trabalha os títulos brasileiros assinados por diretores indígenas como a realidade possível, onde esta população luta (ainda) pela posse de terras e pela posse de telas.

Bibliografia

    COLUMPAR, Corinn. Unsettling Sights : The Fourth World on Film. Carbondale: Southern Illinois University Press, 2010.

    FREITAS, Luciana de Paula. Olhar comum às visões plurais: os Festivais de Cinema Indígena no Brasil. RELACult. Foz do Iguaçu: CLAEC, 2019.

    GADÊLHA, Arthur Ivan. Demarcação de Telas: um panorama histórico e estético dos longas-metragens indígenas no Brasil.TCC.UFPel, Cinema e Audiovisual, 2024.

    IORDANOVA, Dina; CUNNINGHAM, Stuart (orgs). “Digital Disruption: cinema moves online”. In: World cinema on Demand. St Andrews, Scotland: St Andrews Film Studies Publishing House, 2012.

    PINTO, Ivonete. Cinemas Periféricos – Estéticas e Contextos não Hegemônicos. Jundiaí/SP: Paco, 2021.

    SZCZEPANIK, Petr; ZAHRÁDKA, Pavel (et al). Digital Peripheries – The Online Circulation of Audiovisual Content from the Small Market Perspective. Cham: Springer Open, 2020.

    WOOD, Houston. Natives Features – Indigenous films around the world. NY/London: Bloomsbury, 2008.