Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Juliana Soares Mendes (PPGCine-UFF)

Minicurrículo

    Doutora pelo PPGCine-UFF com a tese “Poderosa, divertida e feminista”: Construções de discursos de diversidade de gênero e racial na série de bruxas Charmed: Nova Geração (2018-2022). Mestra em Ciências Sociais pelo PPG/CEPPAC (atual PPGECsA/UnB). Possui graduação em Publicidade e Propaganda pela UnB e em Jornalismo pelo Instituto de Educação Superior de Brasília.

Ficha do Trabalho

Título

    Glinda: a performance da feminilidade em Wicked e Mágico de Oz

Resumo

    Em Hollywood, beleza e bondade se associam, principalmente em personagens mulheres. No “Mágico de Oz” (1939), Glinda afirma: somente as bruxas más são feias. A aparência normativa e a performance da feminilidade são reservadas para as bruxas boas. Atualizadas em “Wicked” (2024), Glinda e a Bruxa do Oeste funcionam como foil ou espelho da outra, enfatizando seus atributos. Glinda ainda veste rosa, coroa e varinha. Mas, gera novos significados ao sentir ódio e se questionar sobre a maldade.

Resumo expandido

    Entre várias atualizações das bruxas nas telas, está a personagem boa. Greene (2021) explica que essa é a bruxa da casa ao lado, em referência à “garota da casa ao lado”. Essas mulheres mágicas são belas e aderem ao estilo de vida de esposas, mães ou adolescentes.
    A autora aponta que, a partir de 1934, com o código Hays de censura para eliminar o que seria “vulgar” ou “profano”, as personagens femininas, de forma geral, foram escritas para se aproximarem da normatividade, inclusive no que se refere à expressão de seu desejo. Não havia orientações explícitas para a bruxaria no audiovisual, mas o código restringia a sexualidade e a religiosidade. Então, se tornou difícil inserir bruxas satânicas nas narrativas.
    Em 1939, com o lançamento do “Mágico de Oz” (Fleming e Vidor), Greene assinala a divulgação de personagens clássicas: a bruxa caricaturada (a Bruxa Má do Oeste) e a bela bruxa boa (Glinda). Essa última se encaixa na estrutura da “mulher verdadeira”, atravessada por temas de domesticidade, pureza e subordinação a um homem.
    A oposição entre esses dois modelos aparece no filme “Mágico de Oz” quando Glinda pergunta à protagonista se ela é uma bruxa boa ou má. Diante do espanto e negativa, a mulher mágica explica que somente as bruxas más são feias.
    Já no filme “Wicked: Part I” (Chu) de 2024, baseado em livro e peça musical, a narrativa é contada a partir da perspectiva da Elphaba, como sendo a história de sua origem, a Bruxa do Oeste, e criticando a sua representação como malvada. Tanto no “Mágico de Oz” como em “Wicked” a relação entre Glinda e a personagem da Bruxa do Oeste gera representações e discursos sobre a feminilidade.
    Argumentamos que as duas funcionam como foil ou espelho da outra. Segundo Drennan et al (2018) o foil é uma personagem que enfatiza características da protagonista, criando momentos de confissão, e o espelho ocorre quando as personagens são opostas. Ambos ampliam o entendimento sobre as personalidades ficcionais.
    Interessa-nos particularmente Glinda e como as suas qualidades de bruxa boa são representadas nos dois filmes. Procuramos compreender como a sua performance de feminilidade gera significados para a narrativa, em especial na interação com Elphaba.
    Para explicar a performance de feminilidade, nos apoiamos no glamour (MOSELEY, 2002) e na mascarada (RIVIERE, 2015). O emprego de atributos e as inscrições nos corpos lidos como femininos se inserem em uma rede de poderes, como define Doane (1991). No audiovisual, o excesso da feminilidade pode ser retratado de forma pejorativa, com a personagem usando o sexo e o corpo para manipular e cumprir seu propósito.
    Bordo (1997) afirma ainda que as regras e as hierarquias estão presentes na linguagem corporal. Há o esforço social para treinar e moldar as mulheres. Essa sujeição incentiva o aperfeiçoamento do que é tradicionalmente entendido como feminino. Essa constituição contínua é realizada de forma hiperbólica, caricaturando a mística feminina, idealizada como delicada, encantadora, passiva (sexualmente) e emocional.
    Encontramos assim a bruxa Glinda, que prefere usar rosa, coroa, varinha e, principalmente, a suposta bondade. No “Mágico de Oz”, analisamos duas sequências: a morte da Bruxa Má do Leste e o auxílio de Glinda contra o feitiço da Bruxa Má do Oeste no campo de papoulas. A oposição entre o bem e o mal é bem demarcada e Glinda não se questiona sobre a felicidade gerada pela morte acidental de uma bruxa.
    Em “Wicked”, selecionamos as sequências: do anúncio da morte de uma bruxa e da divisão do quarto em uma universidade de magia e ciência. Diferente do que é ditado para mulheres, à Glinda é permitido sentir ódio e cantar sobre isso. A personagem também se questiona sobre como a maldade se formaria e, portanto, há uma brecha para pensar se o mal imputado é válido. Sua feminilidade agrega o discurso de que Glinda não seria tão inteligente e a sua vaidade é retratada como a de uma pessoa mimada que pratica bullying.

Bibliografia

    BORDO, S. O corpo e a reprodução da feminidade. In: JAGGAR. A.; BORDO, S. Gênero, corpo e conhecimento. Rio de Janeiro: Record: Rosa dos Tempos, 1997.
    DOANE, M. Film and masquarede. Femmes fatales. London and New York: Routledge, 1991.
    DRENNAN, M; BARANOVSKY, Y; BARANOVSKY, V. Scrpitwriting for web series. London; New York: Routledge, 2018.
    CALADO, E. O encantamento da bruxa. João Pessoa: Idéia, 2005.
    GREENE, H. Lights, camera, witchcraft. Minnesota: Llewellyn Publications, 2021.
    MENDES, J. “Uma baita mulher adulta”. Mediação. v. 25 n. 35, Jan-Jun 2023. Belo Horizonte: FUMEC.
    MOSELEY, R. Glamorous witchcraft. Screen, Vol 43, n 3, 2002.
    RIVIERE, J. Womanliness as a Masquerade. In: GRIGG, R.; HECQ, D.; SMITH, C. Female sexuality. London: Karnac, 2015.
    RUSSELL, J; ALEXANDER, B. História da Bruxaria. São Paulo: Aleph, 2019.