Ficha do Proponente
Proponente
- CELIO REGINALDO MOREIRA PIMENTEL (UFF)
Minicurrículo
- Mestrando Universidade Federal Fluminense PPG CINE UFF,2023 /2024, Programa de Pós-Graduação em Cinema e Audiovisual, título: CINE RECREIO NO SÉCULO XX Sal, trilhos e a resistência do cinema de rua em Cabo Frio/RJ orientador Rafael de Luna Freire. Graduado História UVA – RJ 2008 autor dos livros Estrada de Ferro Maricá Ed. Hora Certa 2015 e Do Sal a Ferrovia em Araruama 2021 Ed Hora Certa. Prêmios Prolagos de Jornalismo Ambiental 2018 e 2023. Diploma Heloneida Stuard de Cultura Alerj 2009.
Ficha do Trabalho
Título
- Cinema Recreio Cabo Frio RJ: A resistência do cinema de rua no século XX
Eixo Temático
- ET 4 – HISTÓRIA E POLÍTICA NO CINEMA E AUDIOVISUAL DAS AMÉRICAS LATINAS E DOS BRASIS
Resumo
- Estudo regional sobre a história da exibição e distribuição de filmes na cidade de Cabo Frio RJ. A consolidação da exibição cinematográfica e o desenvolvimento do território a partir dos povos indígenas Tamoio ao colonizador da exploração econômica do pau brasil a indústria salineira, que permitiu o incremento da ligação entre a navegação e a ferrovia para que o Cine Recreio alcançasse sua plenitude como cinema lá.
Palavras-chave: Sal, Cine Recreio, Cabo Frio, Ferrovia, cinema de rua.
Resumo expandido
- O município de Cabo Frio, situado na região dos Lagos, no estado do Rio de Janeiro, possui uma trajetória histórica marcada pela presença de povos originários e pela colonização portuguesa. Antes da chegada dos europeus, a região era habitada por grupos indígenas, como os Tupinambás, que possuíam vasto conhecimento sobre o meio ambiente, agricultura e produção de artefatos de cerâmica. Em 1503, a segunda expedição exploratória portuguesa fez contato com os Tamoios e estabeleceu uma feitoria com 24 homens armados e suprimentos para seis meses, com o objetivo principal de explorar o pau-brasil.
No início do século XX, a economia local era fortemente baseada na extração de sal. Entretanto, a dificuldade no transporte da produção era um grande obstáculo, visto que a ferrovia mais próxima ficava a 48 quilômetros de distância. Para escoar o sal, era necessário transportá-lo pelo Rio São João até a estação ferroviária de Juturnaíba, em Silva Jardim RJ.
A chegada do cinema a Cabo Frio se deu por meio do Cine Recreio, cuja história pode ser dividida em três momentos distintos. O primeiro ocorreu em 1910, com sua inauguração, tornando-se um marco de entretenimento na cidade. Os filmes e equipamentos cinematográficos vinham do Rio de Janeiro pela Estrada de Ferro Leopoldina até Juturnaíba e, de lá, seguiam de barco até Cabo Frio. Essa malha ferroviária, utilizada para o transporte de sal, também foi fundamental para viabilizar a exibição de filmes. O jornal O Fluminense, em sua edição de 7 de outubro de 1910, relatou esse acontecimento. O Cine Recreio, inicialmente instalado em uma sala adaptada, utilizava um lençol como tela e iluminação de carbureto, conforme menciona Antônio Terra (2003). O primeiro filme exibido foi sobre um macaco descascando uma banana.
O segundo momento significativo ocorreu em 1915, durante as celebrações do tricentenário de Cabo Frio, que contou com a presença do governador do estado do Rio de Janeiro, Nilo Peçanha. Um filme oficial das festividades foi produzido, e, a partir dessas comemorações, o Cine Teatro Recreio teve sua sala construída. As sessões cinematográficas tornaram-se espaços de disputa política, refletindo a rivalidade entre os grupos Liras e Jagunços, com assentos diferenciados para seus correligionários.
O terceiro momento ocorreu em 1917, marcando a modernização do Cine Recreio. Nessa época, os filmes chegavam às quartas-feiras, transportados de Neves, em São Gonçalo RJ, até Cabo Frio por meio de um complexo sistema de distribuição que incluía trens e lanchas. A chegada dos filmes era um evento aguardado pela população, que saudava com palmas a chegada das latas de película. Um episódio notável envolveu um espectador conhecido como Severo Boiadeiro, que, durante a exibição de um faroeste, se exaltou e atirou seu tamanco na tela do cinema, deixando uma marca que permaneceu por anos. A modernização do Cine Recreio proporcionou melhor infraestrutura e conforto ao público, consolidando sua importância na história cultural e política de Cabo Frio.
A trajetória do Cine Recreio evidencia a relevância do cinema como agente transformador na cidade, refletindo dinâmicas sociais, políticas e culturais da época. A adaptação das exibições às condições locais, a interação entre público e filme e a influência dos circuitos de distribuição cinematográfica demonstram a complexidade do fenômeno cinematográfico em contextos fora dos grandes centros urbanos. O estudo do Cine Recreio permite compreender não apenas a difusão do cinema no Brasil, mas também os modos como ele se insere e dialoga com a realidade sociocultural de Cabo Frio no início do século XX contribuindo para estudos cientifico para o cinema de rua no Brasil.O Cine Recreio, ativo de 1910 a 2000, enfrentou desafios econômicos e políticos, mas consolidou-se como um espaço fundamental para o desenvolvimento cultural como um cinema de rua mais longevos em exibição contínua na mesma cidade e local, ele desenvolveu formação da identidade cabo-friense.
Bibliografia
- DAMACENO, Meri. Cabofrianças: “causos” resgatados. Cabo Frio: Editora Mar de Letras, 2012.
FREIRE, Rafael de Luna. O negócio do filme: a distribuição cinematográfica no Brasil, 1907-1915. Rio de Janeiro: Museu de Arte Moderna, 2022.
O FLUMINENSE. Pelo Interior – Cabo Frio. O Fluminense, n. 7866, p. 2, 07 out. 1910.
TERRA, Antonio. Crônicas. Cabo Frio: Secretaria Municipal de Cultura, 2003.