Ficha do Proponente
Proponente
- Luciana Oliveira Vieira (PPGS)
Minicurrículo
- Luciana Oliveira Vieira é cineasta, curadora, mestra em Cinema e Narrativas Sociais (PPGCINE/UFS) e doutoranda em Sociologia (PPGS/UFS). É autora da dissertação de mestrado “Autorrepresentação de cineastas negras no curta-metragem nacional contemporâneo” e uma das autoras do artigo “Espaço-quilombo: notas sobre mostras e festivais de Cinema Negro no Nordeste brasileiro”. Co-idealizadora da EGBÉ – Mostra de Cinema Negro.
Ficha do Trabalho
Título
- “Função-poder”: mulheres negras repensam as relações de set a partir da direção cinematográfica
Seminário
- (Re)existências negras e africanas no audiovisual: epistemes, fabulações e experiências
Resumo
- O trabalho analisa a atuação de mulheres negras brasileiras na direção cinematográfica, abordando as opressões de raça, gênero e classe presentes nas relações sociais dos sets de filmagem. Sob a perspectiva do feminismo negro e o pensamento de autores afrodiaspóricos, o artigo explora o histórico de exclusão e a recente inclusão dessas mulheres no cinema brasileiro contemporâneo, propondo uma reflexão sobre as relações de trabalho nos sets, em contraste com a política de autores vigente.
Resumo expandido
- Em meados da década de 2010 o cenário do cinema brasileiro iniciou um processo de mudanças estruturais, reflexo da implementação das políticas de cotas raciais nas universidades públicas e expansão de políticas públicas voltadas para a democratização das práticas audiovisuais no país. Essas mudanças políticas impactaram no aumento de mulheres negras assumindo o que vamos chamar aqui de “função-poder”, ou seja, a direção cinematográfica. A atuação dessas diretoras negras no circuito cinematográfico reverberou no surgimento de novas narrativas audiovisuais sobre a subjetividade negra e passou a promover formas plurais de pensar e fazer cinema.
Nesse sentido, este trabalho se apoia na produção intelectual de feministas negras como Sueli Carneiro, Beatriz Nascimento e Lélia Gonzalez e outros autores afrodiaspóricos, como Leda Maria Martins, para compreender como as questões de gênero, raça e classe, as trajetórias de vida e a ancestralidade, influenciam em seus métodos de liderança de equipe, propondo mudanças estruturais nas relações hierárquicas da indústria cinematográfica, que historicamente as excluíram desta função.
Para alcançar este objetivo, foi realizada uma análise de entrevistas em texto e vídeo, publicações em livro, declarações públicas de cineastas negras brasileiras. A partir deste exercício, o material foi analisado sob as lentes teóricas e metodológicas citadas, permitindo observar como, ao longo dos últimos anos, mulheres negras estão protagonizando este cenário, apresentando outros modos de refletir e produzir o trabalho no cinema.
O interesse desta pesquisa não é esgotar a discussão em torno deste tema recente, mas, a partir dos discursos de diferentes profissionais negras do cinema brasileiro, compreender como a sua atuação tem provocado o cenário a repensar as relações de trabalho no cinema nacional. Nesta direção, é possível observar algumas mudanças expressivas nos últimos anos, como a inserção de profissionais negras no mercado audiovisual, contratadas por grandes empresas da área e realizando os seus primeiros longas-metragens.
Apesar destes resultados ainda não refletirem um aumento satisfatório, tendo em vista que o poder de decisão nas grandes empresas ainda se concentra nas mãos de lideranças representadas por homens brancos, em grande maioria, a entrada de profissionais negras no mercado cinematográfico brasileiro, tem provocado mudanças estruturais necessárias no modelo capitalista ainda vigente na prática cinematográfica.
Bibliografia
- AUMONT, Jacques. As teorias dos cineastas. Campinas, SP: Papirus, 2004.
CARNEIRO, Sueli. A construção do outro como não-ser como fundamento do ser. 2005. Tese (Doutorado em Educação) — Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.
GONZALEZ, Lélia. Por um feminismo afro-latino-americano: ensaios, intervenções e diálogos. Rio de Janeiro: Zahar, 2020.
KILOMBA, Grada. Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano. Rio de Janeiro: Editora Cobogó, 2019.
MARTINS, Leda Maria. Performance do Tempo Espiralar: poéticas do corpo-tela. Rio de Janeiro: Cobogó, 2021.
NASCIMENTO, Beatriz. Uma história feita por mãos negras: relações raciais, quilombos e movimentos. Rio de Janeiro: Zahar, 2021.
SOUZA, Edileuza Penha de. Cinema na panela de barro: mulheres negras, narrativas de amor, afeto e identidade. 2013. Tese (Doutorado em Educação) — Universidade de Brasília, Brasília, 2013.