Ficha do Proponente
Proponente
- Victor Santos Vigneron de La Jousselandière (UFF)
Minicurrículo
- Victor Santos Vigneron é professor do Departamento de Cinema e Vídeo da Universidade Federal Fluminense e pós-doutorando no Departamento de História na Universidade de São Paulo. Em seu doutorado, pesquisou o processo de escrita do crítico cinematográfico Paulo Emílio Salles Gomes. Atualmente, estuda a formação do Cinema Novo, no fim dos anos 1950.
Ficha do Trabalho
Título
- André Bazin, crítico de filmes brasileiros (1953-1955)
Resumo
- Este trabalho pretende caracterizar os comentários do crítico francês André Bazin sobre filmes brasileiros exibidos em diferentes festivais entre 1953 e 1955. A análise parte das entradas dedicadas a filmes brasileiros ou a coproduções no país no conjunto da produção de Bazin. Tal procedimento pretende jogar luz sobre os parâmetros de circulação de imagens associadas ao Brasil nos festivais dos anos 1950, considerando o olhar de um relevante crítico na Europa ocidental.
Resumo expandido
- Embora esteja estabelecida no campo acadêmico a importância do debate sobre os festivais em diferentes momentos do cinema brasileiro, o tema ainda carece de estudos sistemáticos no que se refere a alguns períodos ou conjuntos da produção nacional. Este trabalho tem o objetivo de abordar o tema desde um ponto de vista específico. Trata-se de analisar os comentários publicados na imprensa francesa pelo crítico André Bazin a propósito de filmes brasileiros exibidos em diferentes festivais entre 1953 e 1955.
No conjunto de sua produção, foram encontradas menções a filmes brasileiros relativamente conhecidos e estudados – “O canto do mar” (1953), “Sinhá moça” (1953) e, principalmente, “O cangaceiro” (1953). A respeito dessas produções, as análises de Bazin acrescentam elementos importantes para a compreensão de sua projeção internacional, particularmente no que toca ao último filme, exibido no Festival de Cannes de 1953. “Sinhá moça” foi exibido no Festival de Veneza no mesmo ano, ao passo que “O canto do mar” foi exibido em Cannes em 1954 – a eles se soma um comentário sobre a exibição de “Caiçara” (1950) no Festival de São Paulo de 1954. Além dessa produção, os comentários de Bazin jogam luz sobre uma fração pouco analisada de filmes que veiculam imagens do país, as coproduções. Em seus artigos, Bazin abordou três casos: “Magia verde” (Brasil/Itália, 1953; Festival de Cannes/1953), “Feitiço do Amazonas” (Brasil/Alemanha, 1954; Festival de Cannes/1954) e “Samba fantástico” (Brasil, 1955; Festival de Cannes/1955). No conjunto da crítica de Bazin, as duas primeiras produções se relacionam com uma vertente relevante de sua escrita, dedicada ao gênero documentário e, mais precisamente, aos documentários de viagem.
A escrita de Bazin sobre a produção brasileira com a qual teve contato proporciona diferentes caminhos de análise. Em primeiro lugar, é possível estabelecer um diálogo entre esse visionamento de certa produção brasileira com as perspectivas de distribuição internacional acalentadas por produtoras nacionais nos anos 1950 – notadamente a Companhia Cinematográfica Vera Cruz. Em segundo lugar, é possível contribuir para a identificação de parâmetros de circulação de imagens do Brasil no exterior, bem como de seu visionamento por parte da crítica na Europa ocidental. Tais parâmetros revelam perspectivas diversas no caso de produções nacionais e de co-produções, além de abrirem a possibilidade de comparação com casos análogos de circulação de filmografias extra-europeias. É o caso, por exemplo, da produção mexicana, cujos filmes tiveram grande impacto em festivais no pós-guerra, sendo examinados por Bazin de forma sistemática. Em terceiro lugar, tal análise também procura aferir alguns parâmetros de recepção da produção brasileira por parte de um crítico francês relativamente representativo, uma vez que a perspectiva exotizante deixa marcas visíveis em sua expressão crítica. Sua visão dialoga com uma longa tradição de circulação de imagens do Brasil na França, ainda que esse conjunto de produções tenha acrescido à tradicional figuração da floresta tropical a circulação de imagens dedicadas a outros espaços geográficos – particularmente o sertão do nordeste, em sua figuração muito particular em “O cangaceiro”. Por fim, essa caracterização geral permite hierarquizar as diferentes intensidades da recepção de Bazin a propósito desse conjunto de filmes – de modo a destacar o impacto de produções como “O cangaceiro” e as coproduções amazônicas. Tal análise, diga-se, não tem o fito de indicar a precedência do olhar baziniano sobre as imagens exibidas em festivais, mas focalizar a relação intricada estabelecida entre as imagens e seu espectador no contexto politicamente carregado do pós-guerra.
Bibliografia
- ANDREW, Dudley. “André Bazin” Nova York: Oxford University Press, 2013.
ANDREW, Dudley; JOUBERT-LAURENCIN, Hervé (org.). “Opening Bazin. Postwar film theory and its afterlife” Nova York: Oxford University Press, 2011.
BAECQUE, Antoine de. “Cinefilia: invenção de um olhar, história de uma cultura, 1944-1968” São Paulo: Cosac Naify, 2010.
BAZIN, André. “Écrits complets” Paris: Éditions Macula, 2018, 2 v.
GALVÃO, Maria Rita. “Burguesia e cinema: o caso Vera Cruz” Rio de Janeiro: Civilização Brasileira/Embrafilme, 1981.
JOUBERT-LAURENCIN, Hervé. “Le sommeil paradoxal. Écrits sur André Bazin” Montreuil: Éditions de L’Oeil, 2014.
RAMOS, Fernão Pessoa. “Bazin espectador e a intensidade na circunstância da tomada” In. “Imagens”, n. 8, 1998, p. 98-105
ZANATTO, Rafael. “Paulo Emílio e a cultura cinematográfica: crítica e história na formação do cinema brasileiro (1940-1977)” Tese (doutorado em História) – Universidade Estadual Paulista, Assis, 2018.