Ficha do Proponente
Proponente
- Cesar de Siqueira Castanha (UFPE)
Minicurrículo
- Doutor e mestre em Comunicação e graduado em Comunicação Social – Jornalismo pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Crítico de cinema e colunista da Revista Fórum. Curador do Mov – Festival Internacional de Cinema Universitário de Pernambuco.
Ficha do Trabalho
Título
- Diante das reiterações espaciais na cultura audiovisual: o multiverso como metodologia
Seminário
- Cinema e Espaço
Resumo
- Esta apresentação faz uma proposição metodológica de utilizar o artifício narrativo do multiverso como caminho para reconhecer e mapear reiterações espaciais que ocorrem através da cultura audiovisual. Entende-se que o conceito de multiverso sugere a coexistência de múltiplos, controversos e diferenciais espaços ficcionais em um mesmo domínio referencial. Os multiversos se espraiam intermidiaticamente e informam a maneira como identificamos e habitamos sinestesicamente espaços ficcionais.
Resumo expandido
- Na ficção-científica, foi conferida ao conceito de multiverso uma específica aplicação narrativa. Dentro de um domínio ficcional, diferentes espaços também ficcionais, frequentemente contraditórios, coexistem. Muitas vezes, um multiverso revela um mesmo espaço com diferentes diegeses – em que uma mesma cidade de Londres, por exemplo, pode ser formalizada e identificada como uma paisagem noir, steampunk, socialista, vitoriana, ocupada pelo nazismo e assim por diante. Desse modo, a aplicação do multiverso às narrativas de ficção se debruça ela mesma sobre a diversidade criativa e expressiva que constituem os arquivos do lugar, conceito de Elena Gorfinkel e John David Rhodes (2011) que se refere ao “arquivo produzido, em muitos casos, quase inconscientemente” e que “interage com nossas memórias de lugares tanto quanto com nosso uso contemporâneo e habitação deles”.
O que se propõe com esta apresentação é uma aproximação ao conceito de multiverso (em sua iteração ficcional) como modelo de análise e mapeamento para reaparições e reiterações espaciais na ficção audiovisual, reconhecendo como compartilhando de um mesmo plano de existência – ou um mesmo arquivo midiático – diferentes conjuntos diegéticos, estéticos e ficcionais. O potencial disso para os estudos de reiteração, incluindo estudos de gêneros fílmicos, é pensar que encenações espaciais de contextos geográficos, históricos, produtivos e autorais distintos e muitas vezes até o espaço extraficcional com que se relacionam (considera-se aqui o turismo orientado por locações famosas de cinema e televisão em cidades como Nova York, Londres ou Tombstone, o Monument Valley, os parques da Disney e as paisagens da Terra Média na Nova Zelândia) compartilham de um mesmo multiverso, informando em conjunto, e de uma iteração a outra, a forma, a identificação e a maneira como esses espaços são imaginados.
Por suas existências simultâneas dentro da cultura audiovisual, as espacialidades que integram os multiversos recusam cronologias convencionais ou referentes originais. Além de confundir a identificação desses espaços midiáticos, o multiverso também implica em uma coabitação sinestésica, pela qual experimentamos sensível e hapticamente essas espacialidades em conjunto, através de suas reiterações.
Nesse sentido, pensar o multiverso implica pensar o nosso engajamento intermidiático com a ficção. Para isso, seguimos as proposições teóricas de Vivian Sobchack e Giuliana Bruno, que fazem sentido da nossa relação sensível com materialidades midiáticas ao discutirem a espectatorialidade do cinema. Sobchack (2004, p. 84) estabelece que a experiência fílmica “une corpos vivos e linguagem, colocando em primeiro plano a reciprocidade e a reversibilidade da matéria consciente e do sentido sensível”, enquanto Bruno (2002) descreve uma relação com a espacialidade fílmica não apenas de um olhar dirigido à tela, mas de um corpo que estabelece um percurso espectatorial através do cinema como arquitetura. Assim, em Bruno (2002, p. 56), a cidade cinematográfica e o conjunto arquitetônico “compartilham de uma formação do espaço e de uma sucessão de visões organizadas como planos de diferentes pontos de vista”.
Dado que o multiverso se expande e se espraia intermidiaticamente, trago para a apresentação também a pesquisa de Agnes Petho em torno da intermidialidade. Petho (2011, p. 5) considera a intermidialidade tanto em seu modo sensível quanto em seu modo estrutural, tratando ao mesmo tempo de “um cinema que pode ser percebido em termos de música, pintura, formas arquitetônicas e texturas hápticas” e da “fragmentação do mundo em pedaços de representação midiática”. A intermidialidade é um conceito caro à pesquisa por sugerir, assim como a abordagem tomada como multiverso, uma aposta em perceber o audiovisual em multiplicidade, atendendo metodologicamente a modos expansivos de fruição com o audiovisual.
Bibliografia
- BRUNO, Giuliana. Atlas of emotion. Nova York: Verso Press, 2002.
CALABRESE, Omar. A Idade Neobarroca. São Paulo: Edições 70, 1987.
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PETHO, Ágnes. Cinema and intermediality: the passion for the in-between. Newscastle upon Tyne: Cambridge Scholars Publishing, 2011.
SOBCHACK, Vivian. Carnal thoughts: embodiment and moving image culture. Berkeley: University of California Press, 2004.