Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Thalita Cruz Bastos (UVA)

Minicurrículo

    Thalita Bastos é doutora em Comunicação pela Universidade Federal Fluminense e professora na Universidade Veiga de Almeida, no Centro Universitário Augusto Motta. Membro do NEX – Núcleo de Estudos de Excesso nas Narrativas Audiovisuais (PPGCINE/UFF). Membro do Núcleo Subversa -Núcleo de Pesquisa em Gênero, Mídia e Potências Subversivas (ECO-UFRJ). Sua pesquisa é voltada para o cinema realista contemporâneo, com ênfase no estudo da intermidialidade, produção de afeto, performance, gênero e corpo.

Ficha do Trabalho

Título

    How to have sex? O lugar do sexo na sociedade heteronormativa

Seminário

    Tenda Cuir

Formato

    Presencial

Resumo

    How to have sex (2023), filme de estreia da diretora Molly Manning Walker, está focado numa experiência heterossexual feminina num lugar das oportunidades de flerte e descobertas. A reflexão proposta por esse artigo passa por investigar os elementos que caracterizam a cultura heterossexual e como eles vão interferir diretamente em experiências de amadurecimento sexual feminino, a partir de autoras como Jane Ward, Asa Seresin e Sara Ahmed.

Resumo expandido

    A cultura pop é uma das principais ferramentas de pedagogização dos comportamentos normatizados pela cultura hetero patriarcal. Desde os ritos de aproximação, a pressuposição da heterossexualidade feminina, à cobrança de um certo tipo de heterossexualidade masculina. A heteronormatividade encontra espaço fecundo no entretenimento, filmes e séries de TV para disseminar suas prerrogativas, seus valores tradicionais de subjugação feminina e naturalização de uma prepotência masculina. No contexto contemporâneo, percebe-se cada vez mais um tensionamento dessas regras, com as narrativas de amadurecimento voltadas para a experiências de pessoas cuir, que não se identificam com essas lógicas binárias da heteronormatividade. Apesar da existência dessas narrativas, a heteronorma segue presente, como um fantasma, interferindo nas experiências cuir, permanecendo ainda uma influência indesejada.

    How to have sex (2023), filme de estreia da diretora Molly Manning Walker, não é à primeira vista um filme cuir. Ao trazer o recorte de uma viagem de férias de um trio de amigas adolescentes para Mália, na Grécia, com um objetivo claro de beber, se divertir o dia e a noite inteiros e sexo, enquanto conhecem outras várias pessoas que foram para lá com o mesmo propósito. O que assistimos, no entanto é algo bem diferente de filmes sobre esses rituais de passagem da adolescência como os hoje clássicos “10 coisas que odeio em você” e mesmo “American Pie”. O filme está focado numa experiência heterossexual feminina desse lugar e das oportunidades de flerte e descobertas, mesmo com a melhor amiga lésbica que tem sua sexualidade e desejos muito bem resolvidos. A questão da narrativa se desenrola nos atravessamentos vividos por Tara, a mais inexperiente das amigas, seus desejos, expectativas e angústias ao sentir a pressão de um determinado comportamento heterossexual aceitável. A perspectiva cuir pode ser vislumbrada no exercício da diretora em propor um deslocamento de narrativas hegemônicas sobre a adolescência e descoberta da sexualidade ao focar nas angústias desta personagem ao passar por experiências que questionam os limites do consentimento sexual e da coação.

    Nesse sentido, a reflexão proposta por esse artigo passa por investigar os elementos que caracterizam a heteronormatividade e a cultura heterossexual e como eles vão interferir diretamente em experiências de amadurecimento sexual feminino, independente da sua orientação sexual. A fim de enriquecer o debate iremos trazer as reflexões sobre paradoxo da misoginia (Ward, 2020), heteropessimismo (Seresin, 2019), e as reflexões vindas dos estudos críticos da heterossexualidade. Além disso, gostaríamos de pensar como a obra fílmica expressa a angústia e o desconforto produzidos pela cultura heterossexual através das reflexões sobre eventos afetivos (Del Río, 2008), a política cultural das emoções (Ahmed, 2012) e a fenomenologia queer (Ahmed, 2006). Para construir formas de resistência dentro de uma sociedade heteronormativa é preciso ir às fissuras, nos lugares de encontro, nas redes de conforto e apoio, lugar onde florescem conexões e estratégias de desidentificação com a heteronormatividade.

Bibliografia

    AHMED, Sara. The cultural politics of emotion. New York: Routlegde, 2015.
    AHMED, Sara. Queer Phenomenology. Durham and London: Duke University Press, 2006.
    CARPENTER, Laura. The ambiguity of “having sex”: the subjective experience of virginity loss in the United States. In: Routledge International Handbook of Heterosexualities Studies, (pp.139 – 158), 2020.
    DEAN, James; FISCHER, Nancy. Thinking straightness. An introduction to Critical Heterossexualities Studies. In: Routledge International Handbook of Heterosexualities Studies, (pp.1 – 17), 2020.
    DEL RÍO, Elena. Deleuze and the cinemas of performance. Powers of affection. Edinburg: Edinburg University Press, 2008.
    SERESIN, Indiana. On Heteropessimism. The New Inquiry. October 9, 2019. Disponível em https://thenewinquiry.com/on-heteropessimism/
    TIN, Louis-George. The invention of heterosexual culture. Cambrigde, Massachussets: The MIT Press, 2012.
    WARD, Jane. The Tragedy of Heterosexuality. New York:NYU Press, 2020.