Ficha do Proponente
Proponente
- Thalita Cruz Bastos (UVA)
Minicurrículo
- Thalita Bastos é doutora em Comunicação pela Universidade Federal Fluminense e professora na Universidade Veiga de Almeida, no Centro Universitário Augusto Motta. Membro do NEX – Núcleo de Estudos de Excesso nas Narrativas Audiovisuais (PPGCINE/UFF). Membro do Núcleo Subversa -Núcleo de Pesquisa em Gênero, Mídia e Potências Subversivas (ECO-UFRJ). Sua pesquisa é voltada para o cinema realista contemporâneo, com ênfase no estudo da intermidialidade, produção de afeto, performance, gênero e corpo.
Ficha do Trabalho
Título
- How to have sex? O lugar do sexo na sociedade heteronormativa
Seminário
- Tenda Cuir
Formato
- Presencial
Resumo
- How to have sex (2023), filme de estreia da diretora Molly Manning Walker, está focado numa experiência heterossexual feminina num lugar das oportunidades de flerte e descobertas. A reflexão proposta por esse artigo passa por investigar os elementos que caracterizam a cultura heterossexual e como eles vão interferir diretamente em experiências de amadurecimento sexual feminino, a partir de autoras como Jane Ward, Asa Seresin e Sara Ahmed.
Resumo expandido
- A cultura pop é uma das principais ferramentas de pedagogização dos comportamentos normatizados pela cultura hetero patriarcal. Desde os ritos de aproximação, a pressuposição da heterossexualidade feminina, à cobrança de um certo tipo de heterossexualidade masculina. A heteronormatividade encontra espaço fecundo no entretenimento, filmes e séries de TV para disseminar suas prerrogativas, seus valores tradicionais de subjugação feminina e naturalização de uma prepotência masculina. No contexto contemporâneo, percebe-se cada vez mais um tensionamento dessas regras, com as narrativas de amadurecimento voltadas para a experiências de pessoas cuir, que não se identificam com essas lógicas binárias da heteronormatividade. Apesar da existência dessas narrativas, a heteronorma segue presente, como um fantasma, interferindo nas experiências cuir, permanecendo ainda uma influência indesejada.
How to have sex (2023), filme de estreia da diretora Molly Manning Walker, não é à primeira vista um filme cuir. Ao trazer o recorte de uma viagem de férias de um trio de amigas adolescentes para Mália, na Grécia, com um objetivo claro de beber, se divertir o dia e a noite inteiros e sexo, enquanto conhecem outras várias pessoas que foram para lá com o mesmo propósito. O que assistimos, no entanto é algo bem diferente de filmes sobre esses rituais de passagem da adolescência como os hoje clássicos “10 coisas que odeio em você” e mesmo “American Pie”. O filme está focado numa experiência heterossexual feminina desse lugar e das oportunidades de flerte e descobertas, mesmo com a melhor amiga lésbica que tem sua sexualidade e desejos muito bem resolvidos. A questão da narrativa se desenrola nos atravessamentos vividos por Tara, a mais inexperiente das amigas, seus desejos, expectativas e angústias ao sentir a pressão de um determinado comportamento heterossexual aceitável. A perspectiva cuir pode ser vislumbrada no exercício da diretora em propor um deslocamento de narrativas hegemônicas sobre a adolescência e descoberta da sexualidade ao focar nas angústias desta personagem ao passar por experiências que questionam os limites do consentimento sexual e da coação.
Nesse sentido, a reflexão proposta por esse artigo passa por investigar os elementos que caracterizam a heteronormatividade e a cultura heterossexual e como eles vão interferir diretamente em experiências de amadurecimento sexual feminino, independente da sua orientação sexual. A fim de enriquecer o debate iremos trazer as reflexões sobre paradoxo da misoginia (Ward, 2020), heteropessimismo (Seresin, 2019), e as reflexões vindas dos estudos críticos da heterossexualidade. Além disso, gostaríamos de pensar como a obra fílmica expressa a angústia e o desconforto produzidos pela cultura heterossexual através das reflexões sobre eventos afetivos (Del Río, 2008), a política cultural das emoções (Ahmed, 2012) e a fenomenologia queer (Ahmed, 2006). Para construir formas de resistência dentro de uma sociedade heteronormativa é preciso ir às fissuras, nos lugares de encontro, nas redes de conforto e apoio, lugar onde florescem conexões e estratégias de desidentificação com a heteronormatividade.
Bibliografia
- AHMED, Sara. The cultural politics of emotion. New York: Routlegde, 2015.
AHMED, Sara. Queer Phenomenology. Durham and London: Duke University Press, 2006.
CARPENTER, Laura. The ambiguity of “having sex”: the subjective experience of virginity loss in the United States. In: Routledge International Handbook of Heterosexualities Studies, (pp.139 – 158), 2020.
DEAN, James; FISCHER, Nancy. Thinking straightness. An introduction to Critical Heterossexualities Studies. In: Routledge International Handbook of Heterosexualities Studies, (pp.1 – 17), 2020.
DEL RÍO, Elena. Deleuze and the cinemas of performance. Powers of affection. Edinburg: Edinburg University Press, 2008.
SERESIN, Indiana. On Heteropessimism. The New Inquiry. October 9, 2019. Disponível em https://thenewinquiry.com/on-heteropessimism/
TIN, Louis-George. The invention of heterosexual culture. Cambrigde, Massachussets: The MIT Press, 2012.
WARD, Jane. The Tragedy of Heterosexuality. New York:NYU Press, 2020.