Ficha do Proponente
Proponente
- Gabriel Filgueira Marinho (ESPM)
Minicurrículo
- Documentarista formado em Cinema pela UnB e Mestre em História pela UFF, dirigiu filmes e séries exibidos em festivais nacionais e internacionais. Também trabalhou como assistente de direção e pesquisador de imagens arquivos para cinema e TV.
Por 5 anos, foi produtor executivo da TV ESCOLA no desenvolvimento de conteúdo com produtoras independentes. Atualmente é professor de graduação em Cinema da ESPM, lecionando as disciplinas de televisão, documentário e representatividade no audiovisual.
Ficha do Trabalho
Título
- Imagens de arquivo a 300km/h: documentário esportivos e automobilismo
Formato
- Presencial
Resumo
- Documentários esportivos se encontram com frequência aos filmes históricos nas cinebiografias. Confluem-se aqui o interesse do público por seu ídolo com uma série de imagens amadoras ou pouco conhecidas que revelam o passado desse herói. As obras “Fabuloso Fittipaudi” (1973), “Senna” (2010) e “Williams” (2017) marcam esse encontro dentro do universo dos filmes de automobilismo. Nosso objetivo é perceber como o uso das imagens de arquivo contribuem aqui para essa narrativa da história pregressa.
Resumo expandido
- A primazia do esporte nas narrativas documentais não é um fenômeno contemporâneo, mas atravessa gerações mesmo antes do advento sonoro. Dentro desse campo, as cinebiografias de personagens ligados ao esporte ocupam um espaço particular. Por um lado, abandonam parcialmente o drama da narrativa da competição, mas por outro lado, oferecem ao espectador a possibilidade de conhecer esses competidores em uma perspectiva mais pessoal. Nessa caminho, esses documentários esportivos encontram outro gênero da não-ficção: os filmes históricos. Trabalhados principalmente com imagens de arquivo, essas obras projetam o espectador para o passado e, nesse caso, lhes permite acessar a narrativa da criação/construção do ídolo. Segundo Samantha N. Sheppard, as narrativas de história pregressa dos atletas são um subgênero do documentário esportivo, contendo uma estética e linguagem próprias.
Nosso olhar, então, se dedica a 3 cinebiografias de longa-metragem que tratam do universo do automobilismo e que tenham atletas brasileiros como personagens. Nosso objetivo é perceber como as imagens de arquivo são articuladas para contribuir nessa “construção da história pregressa”.
Começamos por “O Fabuloso Fittipaldi” (1973), filme dirigido por Roberto Farias. Trata-se de uma cinebiografia disforme do atleta que, naquela época, ainda competia e não tinha atingido o auge de sua carreira. Sua matéria-prima são entrevistas, imagens cedidas por diversas emissoras de televisão e registros familiares de diferentes períodos.
O filme desloca o foco narrativo do campeonato automobilístico recém conquistado para a construção de um perfil profissional do brasileiro. Emerson é mostrado com sua família e em momentos de bastidores. A narração conduz a leitura pretendida para as imagens, carregando elas de significado. O uso dos arquivos aqui precisa ser compreendido dentro da chave teórica que Jaime Baron apontou como efeito arquivo. Sua alocação dentro da narrativa sugere para a audiência a percepção de acesso a outra temporalidade e ao campo do privado.
Já “Senna” (2010), dirigido pelo cineasta anglo-indiano Asif Kapadia, mergulha nos arquivos de forma mais tradicional, se aproximando da ideia de filmes de compilação defendida por Jay Leyda. Não há entrevistas ou tomadas realizadas pela equipe de Kapadia, por exemplo. Toda a narrativa é feita a partir de registros de terceiros (tanto jornalísticos quanto privados). O diretor se valeu de uma vasta quantidade de material, reflexo tanto da ostensiva mídia que seu personagem-título recebeu em vida quanto do poder aquisitivo de sua família que registrou diversos momentos de sua infância e adolescência. Se na obra de Roberto Farias o retrato é por vezes muito institucional, aqui se reconhecem elementos de dramatização, jornada campbelliana, vilões e antiheróis.
Por fim, o longa-metragem “Williams” (2017), dirigido por Morgan Matthews, é a única das três obras que não tem como protagonista um brasileiro. Embora o piloto Nelson Piquet seja um importantíssimo coadjuvante na trama. Diferente dos filmes anteriores, a narrativa olha para seu personagem-título com elogios mas também com duras críticas. Uma visão um tanto mais complexa e menos celebratória do que as anteriores.
Nesse caso, chama atenção a resignificação que sua montagem aplica aos arquivos. A operação desloca imagens que originalmente celebravam Frank Williams e sua empreitada pelo automobilismo para uma leitura mais crítica desse comportamento. Uma chave de interpretação que nos ajuda a compreender como se dá essa perda e ganho semântico pode ser oferecida por Jean Claude-Bernardet quando descreve o processo de migração das imagens nos filmes que compartilham imagens de terceiros.
Nosso trabalho, então, consiste em olhar para essas três obras de forma comparativa. Analisaremos em especial diferentes usos das imagens de arquivo para a construção dos personagens-títulos e como elas servem a propósitos diferentes dentro desses documentários esportivos.
Bibliografia
- SHEPPARD, Samantha N.; VOGAN, Travis (org.) Sporting realities: critical readings of the sports documentary. Lincoln: University of Nebraska Press, 2020.
BARON, Jaimie. The archive effect: found footage and the audiovisual experience of History. London: Routledge, 2014
BERNARDET, Jean-Claude. A migração das imagens. In TEIXEIRA, Francisco Elinaldo (org). “Documentário no Brasil: tradição e transformação”. São Paulo: Summus Editorial. 2004.
BOYM, Svetlana. The Future of nostalgia. Nova York: Basic Books, 2001.
LEYDA, Jay. Films beget films: a study of the compilation films. Editora Hill & Wang. Nova York. 1971
LIMA, Luiz Carlos. Nelson Piquet: a trajetória de um grande campeão. São Paulo:Vox Editora, 1986.
LIMA, Luiz Carlos. José Carlos Pace: o campeão mundial sem título. 2.ª edição. São Paulo: Vox Editora, 1986.
RODRIGUES, Ernesto. Senna: herói revelado. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.