Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Angela Freire Prysthon (UFPE)

Minicurrículo

    Angela Prysthon é professora titular da UFPE. Fez estágio pós-doutoral na Universidade de Southampton e na Universidade Nacional de Córdoba. Tem doutorado pela Universidade de Nottingham. É autora dos livros “Cosmopolitismos periféricos” (2002) ,“Utopias da Frivolidade” (2014), “Retratos das margens” (2022) e “Recortes do mundo” (2023).

Ficha do Trabalho

Título

    Florilegium. Botânica como micro-paisagem nas artes e no cinema

Seminário

    Cinema Comparado

Formato

    Presencial

Resumo

    Este artigo analisa a interação entre plantas e tecnologias da imagem, explorando marcos do cinema “botânico”. Do início da fotografia até a cronofotografia, evidencia-se a relação entre ciência e estética. Comparando desde filmes científicos pioneiros até cineastas experimentais como Menken e Brakhage, discute-se a noção de “micro-paisagem” nas imagens botânicas. Obras de Caldini e Lowder , entre outros, ampliam essa ideia, convidando à contemplação das plantas como protagonistas visuais.

Resumo expandido

    Esta proposta faz parte do meu projeto de pesquisa atual “Antes do fim do mundo, aquém e além da paisagem. Corpos, espaços e natureza no cinema e nas artes visuais”, no qual busco analisar os múltiplos vínculos existentes entre os espaços (naturais ou construídos), os corpos e a natureza no cinema e nas artes visuais. Como parte desse projeto, temos um vetor intitulado “Minúcias do mundo: o detalhe e as “micro-paisagens” da natureza”, no qual nos debruçamos sobre imagens (de suportes diversos) que focalizam detalhes: jardins, plantas, animais, corpos únicos que compõem em si mesmos espécies de micro-paisagens.
    No livro A vida das plantas (2018), Emanuele Coccia argumenta sobre a necessidade de superação do zoocentrismo na filosofia, incluindo as plantas como elemento fundamental do que ele chama de “metafísica da mistura”. Nela, as plantas aderem de modo absoluto ao mundo, estão permanentemente expostas ao ambiente que as circunda, transformam e possibilitam as mudanças nos outros seres:
    “A planta encarna o laço mais íntimo e mais elementar que a vida pode estabelecer com o mundo. O inverso também é verdadeiro: ela é o observatório mais puro para contemplar o mundo em sua totalidade. Sob o sol ou sob as nuvens, misturando-se à água e ao vento, sua vida é uma interminável contemplação cósmica, sem dissociar os objetos e as substâncias, ou, dito de outra forma, aceitando todas as nuances, até se fundir com o mundo, até coincidir com sua substância. Nunca poderemos compreender uma planta sem ter compreendido o que é o mundo.” (COCCIA, 2018, 13)
    Esta comunicação tem como escopo justamente as possibilidades de interação entre as plantas e as tecnologias da imagem, a partir sobretudo do cinema experimental e de uma perspectiva comparativa entre os marcos do que poderíamos chamar de um cinema “botânico”. Vamos começar por apresentar um breve mapeamento enumerando alguns momentos cruciais da história das formas de representação das plantas na arte e na ciência, para depois procedermos à análise comparada de obras relevantes do cinema experimental que tenham como objeto o universo da botânica nas mais distintas acepções.
    Depois de um preâmbulo mais geral que inclui objetos como as ilustrações cientificas dos viajantes dos séculos XVII e XVIII, os herbários de Emily Dickinson, as flores de vidro dos Blaschka, nosso percurso avança para a fotografia botânica de Anna Atkins e as experimentações de Eadweard Muybridge e Étienne-Jules Marey com a cronofotografia, mostrando a interação entre ciência e estética na representação do mundo natural. Ao comparar esses momentos, desde os primórdios da captura visual até as técnicas cinematográficas avançadas e mais recentes, podemos observar a evolução da relação entre humanos e plantas, bem como a transformação da paisagem botânica em uma linguagem visual em constante evolução.
    Explorando desde os filmes científicos pioneiros de Wilhelm Pfeffer, como “Pflanzenbewegungen” ou “The Birth of a Flower” de Frank Percy Smith, até as obras de cineastas experimentais propriamente ditos como Marie Menken, Bruce Baillie e Stan Brakhage, queremos discutir a noção de “micro-paisagem” nas tecnologias de imagens botânicas. Essas representações das plantas não apenas capturam sua beleza e complexidade, mas também apresentam diversas camadas de significado e experiência sensorial. As obras de Claudio Caldini, Larry Gottheim, Narcisa Hirsch, Rose Lowder e Michelangelo Frammartino, entre vários outros, expandem ainda mais essa ideia, mergulhando nas minúcias da natureza e explorando as fronteiras entre o visível e o invisível, convidando-nos a contemplar as plantas não apenas como objetos de estudo, mas como protagonistas de narrativas visuais imersivas.

Bibliografia

    BERGER, John. Landscapes: John Berger on Art. London: Verso, 2016.
    COCCIA, Emanuele. A vida das plantas. Uma metafísica da mistura. Florianópolis: Cultura e barbárie, 2018.
    COCCIA, Emanuele. A vida sensível. Florianópolis: Cultura e barbárie, 2010.
    CUTLER, Aaron e SHELLARD, Mariana. Cine sin limites: Claudio Caldini, Jorge Honik e Narcisa Hirsch. São Paulo: Centro Cultural São Paulo, 2017. https://www.mutualfilms.com/Livro1Web.pdf
    MACHADO, Arlindo. Pioneiros do vídeo e do cinema experimental na América Latina. In: Significação, 33, 2010, pp.21-40.
    MELO, Pedro Augusto Souza Bezerra de. Found Foliage. Impressões botânicas no cinema experimental. Recife: PPGCOM-UFPE, 2022. (Dissertação de Mestrado).
    VIEIRA, P.I.L. Animist Phytofilm: Plants in Amazonian Indigenous Filmmaking. In: Philosoph/ies 2022, 7, 138. (https://doi.org/10.3390/philosophies7060138 )