Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Gustavo Soranz (Unesp)

Minicurrículo

    Doutor em Multimeios pela Unicamp. Professor da FAAC-Unesp.

Ficha do Trabalho

Título

    Extrativismo e documentário na Amazônia

Formato

    Presencial

Resumo

    A atividade extrativista é determinante nos modos como a região amazônica tem sido ocupada e explorada. Desde o extrativismo tradicional dos povos da região, passando pelos grandes projetos de intervenção, até projetos recentes de extrativismo de base comunitária. O cinema é um meio privilegiado para dar visibilidade a como o extrativismo na Amazônia tem ocorrido nas últimas décadas e, para além do registro factual destas atividades, os filmes nos revelam a emergência de novos sujeitos sociais.

Resumo expandido

    A atividade extrativista é determinante nos modos como a região amazônica tem sido ocupada e explorada. Desde o extrativismo tradicional dos povos da região, passando pelos grandes projetos de intervenção, até projetos recentes de extrativismo de base comunitária. . A chegada do cinema à Amazônia tem notável simultaneidade com o incremento dos modelos de extrativismo na região no início do século XX e, tal como os modelos de exploração econômica da floresta foram se desenvolvendo com o passar das décadas, o cinema documentário também foi desenvolvendo seus próprios modos de relacionamento com os sujeitos sociais e sua tradição enquanto domínio do cinema. Em nossa comunicação analisaremos 3 documentários que mostram diferentes momentos do extrativismo na Amazônia: i) No paiz das Amazonas (Silvino Santos, 1922), ii) Marias da Castanha (Edna Castro e Simone Raskin, 1987) e iii) Antonio e Piti (Wewito Piyãko e Vincent Carelli, 2019), buscando destacar como para além do registro de atividades extrativistas em diferentes momentos históricos, eles revelam a emergência dos sujeitos sociais como protagonistas dos modos como a Amazônia passa a ser representada por meio do cinema.
    No paiz das Amazonas é um filme surgido no ocaso da economia da borracha na Amazônia, que revela a abrangência das possibilidades extrativistas na região como possíveis alternativas ao látex. É um filme que revela não apenas as atividades do extrativismo vegetal, mas os sujeitos sociais que estão envolvidos com a atividade econômica do extrativismo. São homens e mulheres em diferentes atividades laborais. Sua estrutura é a de um filme de viagem, e nesse percurso Silvino Santos se depara com pelo menos dois povos indígenas distintos. Quando os grupos são apresentados notamos a remissão do olhar dos sujeitos para a câmera, revelando um indício de uma relação de cumplicidade entre o cineasta e seu objeto. Estes sujeitos não são objeto do documentário, mas aparecem com destaque e revelam que desde essa obra inaugural do documentário brasileiro, os sujeitos sociais são objeto de interesse prioritário, ainda que aqui ainda não tenham voz. O filme Marias da Castanha, se volta para a cadeia produtiva da castanha no Pará. Ele foi realizado no final da década de 1980, momento em que o documentário brasileiro se voltava para os personagens populares, incorporando o depoimento como estratégia central. Em Marias da Castanha as mulheres narram suas histórias de vida, cheias de desejos, sonhos, batalhas, humanidade. Não são personagens esquemáticas, mas mulheres que vivem dificuldades cotidianas, que revelam diversas questões da dimensão social do trabalho na Amazônia, questões dos deslocamentos na região, das dificuldades enfrentadas. A questão central aqui não é o extrativismo em si, mas quem são esses sujeitos, que operam o beneficiamento da castanha na região. É uma abordagem que vai se consolidando no documentário brasileiro desde a década de 1960, que busca “dar voz” para os sujeitos sociais emergentes, algo que se opõe ao modelo que podemos dizer era hegemônico no documentário brasileiro sobre a Amazônia naquela década, que se dedicava sobretudo a denunciar os modelos predatórios de desenvolvimento implantados na região e a devastação da floresta. O filme Antonio e Piti, narra a história da formação de uma família interétnica, formada por um indígena Ashanika, e a filha de um seringueiro que foi viver na região do Rio Amônia, onde se conhecem. Do relacionamento entre eles nasce não apenas uma família, mas uma revolução agroflorestal na região, em um local marcado por conflitos entre posseiros e indígenas. Aqui temos uma camada a mais de protagonismo dos sujeitos sociais. Conhecemos as lutas pela sobrevivência, a resistência. Uma história de como da vida privada passamos para a política, com luta pela demarcação da terra indígena, pelo enfrentamento do preconceito, da superação das adversidades e pela implantação de um modelo econômico agroflorestal para a região

Bibliografia

    ARAÚJO, Juliano José de. Cineastas indígenas, documentário e
    autoetnografia: um estudo do projeto Vídeo nas Aldeias. Bragança
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