Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Gisella Cardoso Franco (PPGCINE UFF)

Minicurrículo

    Gisella é mestranda em Cinema no PPGCine e bacharel em Comunicação pela UFF. Foi curadora de mostras como “Paulo José – 40 anos de cinema”, “Olhares Neo-realistas”, “Cinema Indiano Contemporâneo” e “Clint Eastwood- Clássico e Implacável”. De 2009 à 2013 foi Coordenadora de Difusão e Acesso da SEC-RJ. Fez a produção e coordenação de conteúdo das sete temporadas do programa “O País do Cinema” no Canal Brasil. De 2019 a 2022 foi Gerente de Produção na H2O Films.

Ficha do Trabalho

Título

    Erguer vozes e discursos no ambiente da escola pública

Formato

    Presencial

Resumo

    Nesse trabalho vamos pensar a questão da representatividade no programa “Imagens em Movimento” a partir de um olhar sobre a falas de dois alunos em debate realizado no Cineop de 2022 e o filme que eles realizaram no programa, fazendo um paralelo com o pensamento de Luiz Rufino e Luiz Simas – que nos falam sobre o lugar de potência da educação para transformar e inventar novos mundos.

Resumo expandido

    Em uma das mesas realizadas em torno do tema da Educação no Cineop de 2022, os alunos Daniel Damas e Leticia Abreu, do Colégio Estadual José de Souza Marques, falam sobre o processo de realização das oficinas do programa Imagens em Movimento e o que a realização do curta “Só mais sete minutos” significou para eles. Ambos destacam que a realização do filme significou muito além do filme para eles, falando dos encontros e afetos que eles estabeleceram no processo de realização. Percebermos a alegria na fala dos dois adolescentes, a forma comovida com que eles falam do programa, e como eles se colocam em outro lugar a partir dessa experiência que parece ter sido radical em termos de representatividade, o que é apontado de forma direta e objetiva nas suas falas, o que fica ainda mais claro quando o aluno Daniel encerra a sua fala reforçando que “Nas escolas públicas existem muitos bons alunos”.
    Sentimos que não é à toa que o aluno Daniel escolhe terminar sua fala com essa frase que é quase uma defesa do seu lugar. Como aluno de um colégio localizado em Brás de Pina, no Rio de Janeiro, ele se percebe num lugar de potência, pensando em tudo que ele é e que pode ser, sem ficar limitado a um lugar de falta que o ambiente das escolas públicas brasileiras localizadas em periferias fica normalmente reduzido. Daniel recusa a forma como ele e seu universo são representados e retratados nas imagens de Tv e nos filmes comerciais que assiste, e fala da importância dele se representar, nos provocando a pensar sobre as possibilidades da educação como um todo e sobre o que a educação pode contemplar e abarcar.
    Em “Vence demanda – Educação e Descolonização” Luiz Rufino reflete o que Daniel diz quando propõe que “a educação deve ser entendida como uma forma de erguer existências, mobilizá-las, uma encantaria implicada em contrariar toda e qualquer lógica de dominação. A educação como dimensão política, ética, estética e de prática do saber comprometida com a diversidade das existências e das experiências sociais é, em suma, um radical descolonizador” (RUFINO, 2021: p.12).
    Quando Rufino afirma que “a educação como descolonização está implicada em uma política de vida, ou seja, tem seus atos focados em contrariar os ditames da agenda dominante” ele está falando exatamente disso. Questionar essa agenda dominante implica numa recusa do estar no ambiente da educação – ou do próprio cinema – reproduzindo um cânone. Significa estar implicado com a subjetividade desses jovens e com as questões dos seus territórios e das suas paisagens. Significa erguer outras vozes, dialogar com outras referências, investigar outros caminhos, se refazer na relação com o mundo, possibilitando uma alteridade do sujeito se perceber como outro, mas para um outro, que é o que o aluno Daniel parece colocar em sua fala.
    A proposta desse trabalho será de pensar a fala dos alunos no debate do Cineop de 2022 a partir de filmes recentes realizados no programa e tomando principalmente como referência os pensamentos de Simas e Rufino. Vamos pensar especialmente o curta “Só mais sete minutos”, que nos parece particular por abordar o tema da ansiedade e da perda em um contexto de uma escola pública na época da pandemia. Falaremos ainda sobre como a dúvida, o problema e a incerteza são essenciais no processo de criação artística e no espaço da escola. O desvio – ou a crise – é força motriz e necessária e, fazer cinema, educar e aprender tem a ver necessariamente com isso.
    Por fim, lembramos que em “Pedagogia das Encruzilhadas”, Simas e Rufino nos falam que “As encruzilhadas são lugares de encantamento para todos os povos”. Quando os autores fazem essa afirmação eles estão falando dessas encruzilhadas como esses lugares cheio de desvios e dúvidas, onde tudo se embola, onde a crise é bem-vinda e a incerteza precisa existir. Cabe a nós considerarmos que esse lugar é sim muito potente para a arte, para o processo criativo, para a alteridade, para a educação e para o existir.

Bibliografia

    BERGALA, Alain: A Hipótese-Cinema. Pequeno Tratado de Transmissão do Cinema Dentro e Fora da Escola. Rio de Janeiro: Booklink – Cineadlise-Fe/UFRJ, 2008.
    RUFINO, Luiz: “Vence Demanda – educação e descolonização”. 1. ed – Rio de Janeiro: Mórula, 2021.
    RUFINO, Luiz e SIMAS, Luiz: “A pedagogia das Encruzilhadas”. 1. ed – Rio de Janeiro: Mórula, 2019
    BERNADET Jean-Claude e XAVIER Ismail. Conversa registrada na noite de 15 de agosto, no Centro Cultural São Paulo, e publicada pela Contracampo. debateram, com mediação do também professor Carlos Augusto Calil, diretor do CCSP, o documentário brasileiro contemporâneo, com ênfase na utilização da palavra e das entrevistas nos filmes.
    http://www.contracampo.com.br/53/ismailbernardet.htm
    OBS: sugerimos ainda a visita ao site do programa Imagens em Movimento: https://imagensemmovimento.com.br/