Ficha do Proponente
Proponente
- Carolina Soares Pires (USP)
Minicurrículo
- Carolina Soares é pesquisadora e crítica de cinema. Realiza pesquisas em audiovisual, com foco na relação entre literatura e cinema/TV, adaptação e cinema brasileiro. É Mestra em Meios e processos audiovisuais pela ECA-USP e doutoranda no mesmo programa. É também realizadora e educadora audiovisual.
Ficha do Trabalho
Título
- Dom casmurro mente? Uma análise narratológica comparativa
Formato
- Presencial
Resumo
- Esta pesquisa propõe o estudo comparativo das adaptações para cinema e televisão da obra literária Dom Casmurro sob o enfoque teórico da teoria da adaptação e por meio da análise narratológica, concentrando-se especificamente nas questões da narração autoconsciente e não-confiável. Com base nessas análises, pretende-se investigar aspectos preponderantes dessas adaptações no terreno específico da narratologia e elaborar questões relativas às implicações dessas relações na adaptação audiovisual.
Resumo expandido
- O presente trabalho inscreve-se nos campos de estudos de adaptação da literatura para o audiovisual e narratologia, e, por conseguinte, também pertence às investigações do modo como se relacionam o cinema e a televisão com a literatura. Por meio da análise comparada de adaptações cinematográficas e televisivas, o objetivo é explorar os aspectos narrativos da adaptação audiovisual, especialmente as questões específicas da narrativa autoconsciente e do narrador não-confiável. Para tanto, são abordadas as inter-relações entre obras audiovisuais adaptadas para cinema e para televisão do mesmo texto literário cuja narração pode ser classificada como autoconsciente e não-confiável: Dom Casmurro (1889). Um complexo amálgama dos conceitos de narração reflexiva, autoconsciente e não confiável define o romance em termos narratológicos. A aplicação de conceitos tão complexos a uma linguagem audiovisual pode complicar ainda mais os meandros da narração e seus significados. São analisados o filme Capitu (1968), de Paulo César Saraceni, e a minissérie Capitu (2008), da Rede Globo, dirigida por Luiz Fernando Carvalho, tendo como referencial teórico os estudos de narratologia e adaptação, sobretudo os de Chatman, Elsaesser, Jahn, Hühn, Stam e Johnson. Pelo prisma da narratologia, investiga-se como são construídas e estruturadas narrativamente essas adaptações. São observados os elementos constitutivos e os processos de construção narrativa dessas adaptações, as influências e as interfaces dessas obras, assim como outras relações intertextuais relevantes para a análise. Por meio da análise fílmica e do estudo comparativo, investiga-se o percurso da construção narrativa das adaptações e suas implicações na obra resultante. Tomando por base a noção de que a construção narrativa dessas adaptações se dá pela forma, busca-se: compreender como se dá essa relação no âmbito da narração autoconsciente e não-confiável; identificar particularidades da interlocução dessas adaptações com os textos de origem e analisar a construção narrativa dessas adaptações audiovisuais. O romance selecionado representa notadamente referência de narrador autoconsciente e não-confiável: o relato dos fatos é mediado pelo próprio personagem, que exibe essa mediação e cuja confiabilidade é questionável. Essa não-confiabilidade é revelada ao leitor implícito por meio da ironia e da construção narrativa que desautoriza o discurso e deixa ver que existe um processo de autofalsificação orquestrado pelo narrador-personagem. Traçar um paralelo entre as duas adaptações, em uma análise comparativa, possibilita aprofundar aspectos da análise, uma vez que exibem estética e estilo diverso e constroem relações diferentes com o hipotexto. A análise do diálogo entre as obras audiovisuais e o respectivo texto literário explora como a forma e também as escolhas de estilo, mise-en-scène, montagem e o tom geral da representação constroem determinada relação com o texto de origem; como se dá esse diálogo intertextual; como se dá a relação entre obra e espectador nessas adaptações; como e se se reproduz, na relação entre adaptação audiovisual e espectador, relação semelhante à que se estabelece entre narrador e leitor nos romances e por que motivo. Articulando essas análises, investiga-se como essas adaptações se relacionam entre si; quais eixos têm em comum; quais elementos formais se repetem ou divergem; que diferenças e particularidades existem e em que posição cada uma se localiza na construção geral de um diálogo entre o audiovisual e essa obra literária. O horizonte deste trabalho é oferecer uma contribuição para o melhor entendimento das relações entre literatura e audiovisual no campo da narratologia, por meio da análise do fruto por excelência da relação entre essas duas artes: a adaptação.
Bibliografia
- CHATMAN, Seymour. Story and discourse: narrative structure in fiction and film. Ithaca, NY: Cornell U.P., 1978.
_____. Coming to Terms: The Rhetoric of Narrative in Fiction and Film. Ithaca: Cornell University Press, 1990.
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HÜHN, P. et al., eds. Point of View, Perspective, and Focalization. Modeling
Mediation in Narrative (Narratologia 17). Berlin: de Gruyter, 2009.
JAHN, Manfred. 2021. A Guide to Narratological Film Analysis. English Department,
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SCHWARZ, Roberto. A poesia envenenada de Dom Casmurro. Novos Estudos CEBRAP, n. 29, p. 85-97, 1991.
STAM, Robert. A literatura através do cinema: realismo, magia e a arte da adaptação. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2008.
______. Teoria e prática da adaptação: da fidelidade à intertextualidade.