Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Bruno Casalotti Camillo Teixeira (UNICAMP)

Minicurrículo

    Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (USP). Mestre em Sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Doutorando em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Professor Assistente da Escola de Comunicação do FIAM FAAM Centro Universitário e do curso de pós-graduação em Gestão de Pessoas da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG). Em sua pesquisa de doutorado, estuda o tema das relações de trabalho em audiovisual.

Ficha do Trabalho

Título

    Trabalho em audiovisual no Brasil: relatos de uma pesquisa

Seminário

    Políticas, economias e culturas do cinema e do audiovisual no Brasil.

Formato

    Presencial

Resumo

    A presente comunicação tem como objetivo expor relatos do itinerário de uma pesquisa que atualmente vem sendo realizada sobre o mundo do trabalho e os trabalhadores (por trás das câmeras) que atuam no setor audiovisual no Brasil. Para tanto, pretendemos apresentar dados quantitativos e qualitativos que revelam características contemporâneas das relações trabalho e das condições do emprego de profissionais brasileiros que atuam nas áreas de cinema, televisão, produções publicitárias.

Resumo expandido

    A presente comunicação tem como objeto de pesquisa sujeitos que consideramos “trabalhadores do audiovisual”, os quais podem ser compreendidos como “trabalhadores por trás das câmeras”. Partimos do pressuposto que uma obra audiovisual (independentemente da sua linguagem e do meio em que circule) não é uma entidade autônoma, mas sim um produto trazido à existência pela operação de um complexo de forças sobre diferentes corpos de matéria. Dentre essas forças encontra-se, em meio às operações que dão vida às imagens em movimento, o trabalho de uma imensidão de sujeitos. Ou seja: o conjunto de profissionais que atuam diretamente na concretização de obras audiovisuais, com exceção dos atores. Em particular, privilegiamos a observação de profissionais que ocupam posições que na literatura internacional vêm sendo chamadas de below-the-line (“abaixo da linha”). Nos referimos aos trabalhadores cujos nomes não constam nas páginas iniciais do projeto e do orçamento de uma obra audiovisual, e, muitas vezes, aparecem somente nos seus créditos finais. Funções socialmente reconhecidas, como produção, direção, roteiro e mesmo produção executiva, são above-the-line (“acima da linha” ou “cabeças de equipe”), e são ocupadas por indivíduos tidos como autores da dimensão criativa da obra. Enfim, intui-se, de maneira geral, que na maior parte dos casos (em especial, as produções de grande proporção comercial), profissionais “abaixo da linha” são subordinados a sujeitos “acima da linha”. Buscamos dar visibilidade, no presente texto, aos “trabalhadores por trás das câmeras” (“abaixo da linha”) brasileiros através de dados quantitativos extraídos da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) e da base de dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequena Empresas (Data Sebrae). Igualmente, pretendemos expor dados qualitativos coletados através de entrevistas semiestruturadas realizadas entre 2019 e 2023. Temos como objetivo explorar tendências longitudinais que possam sem extraídas dos dados quantitativos, viabilizando, assim, a construção de indicadores sociais a respeito de: (i) volume e características gerais do emprego em audiovisual no Brasil entre 2003 e 2023; (ii) distribuição do emprego entre televisão e cinema, entre diferentes ocupações dessas áreas, entre diferentes regiões do país, e entre contratos formais (via carteira assinada) e autônomos (via pessoa jurídica); (iii) a evolução da remuneração e da escolaridade entre 2003 e 2023 dos “trabalhadores por trás das câmeras” brasileiros. No que tange os dados qualitativos, pretendemos analisar a dimensão da experiência social de indivíduos abarcados pelo nosso recorte de pesquisa, auscultando relatos sobre: suas relações de trabalho; a maneira como interpretam seu universo profissional dentro do atual contexto histórico brasileiro; a importância que imprimem às políticas culturais e à legislação trabalhista para a regulação de seus respectivos empregos. Por fim, pretendemos associar os dados quantitativos e qualitativos obtidos a uma literatura que perpasse o campo dos estudos em economia da cultura e do audiovisual no Brasil, políticas culturais, e sociologia do trabalho. A partir dessa literatura, pretendemos analisar a conjuntura recente do trabalho e do emprego em audiovisual no Brasil, e suas prováveis correlações com: (a) a atuação da Agência Nacional de Cinema junto à indústria audiovisual brasileira; (b) políticas públicas como o Fundo Setorial do Audiovisual e a Lei da TV Paga (atual Lei do SeAC); (c) mudanças a partir da crise econômica verificada no Brasil em 2015; (d) mudanças nas leis trabalhistas a partir da Reforma de 2017; (e) mudanças na gestão da ANCINE verificadas desde 2019; (f) a crise sanitária da pandemia do novo coronavírus (COVID 19).

Bibliografia

    BAHIA, Lia. Discursos, políticas e ações: processos de industrialização do campo cinematográfico brasileiro. Itaú Cultural, 2012.
    BOLTANSKI, Luc; CHIAPELLO, Ève. O novo espírito do capitalismo. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2009.
    CARDOSO, Ricardo. A economia política do setor cinematográfico e audiovisual brasileiro: um breve balanço do período regido pela Ancine. Carta Social, p. 39, 2016.
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    MORAIS, Kátia Santos de. Do apogeu à crise da política audiovisual brasileira contemporânea. Chasqui: Revista Latinoamericana de Comunicación, n. 142, p. 57-74, 2019.