Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Camila Christina Bezerra Soares (UNICAMP)

Minicurrículo

    Mestranda em Multimeios (PPGMM – UNICAMP), Bacharela em História pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e Técnica em Cinema pelo IEMA. Atualmente é PED (Programa de Estágio Docente) na disciplina de Cinema Negro no curso de Comunicação Social – Midialogia. Realizadora e Curadora da Mostra “Mermã, vamos ao Cinema!” e co-fundadora da Brasa Magazine, revista digital de Hip Hop. Pesquisa o Cinema de Adélia Sampaio com interesse amplo nas produções negras no cinema brasileiro.

Ficha do Trabalho

Título

    A produtora de cinema Adélia Sampaio – A “cineasta das minorias”.

Seminário

    Cinemas negros: estéticas, narrativas e políticas audiovisuais na África e nas afrodiásporas.

Formato

    Presencial

Resumo

    A Cineasta Adélia Sampaio após os lançamentos dos curtas – metragens que dirigiu e o lançamento do filme Parceiros da Aventura (1980) de José Medeiros em que assinou a direção de produção o Jornalista Ailton Assis do Jornal da Tribuna cita Sampaio como a “cineasta das minorias”. Este trabalho pretende discutir a atividade da cineasta enquanto produtora cinematográfica e sua inscrição na historiografia do cinema brasileiro.

Resumo expandido

    O trabalho se debruça sob a produção dos filmes Parceiros da Aventura (1980) de José Medeiros e Amor Maldito (1984) de Adélia Sampaio, afim de analisar os métodos de produção de Sampaio que, antes de estrear como diretora de longa metragem, foi produtora de filmes na década de 1970 e 1980.
    A metodologia utilizada neste trabalho tem uma etapa bibliográfica e a análise das críticas dos jornais Correio Brasiliense, Tribuna da Imprensa e Folha de São Paulo nos lançamentos dos filmes analisados.
    No texto O olhar opositor: mulheres negras expectadoras a crítica literária bell hooks fala sobre o olhar que confronta, aquele que desafia a autoridade, é esse olhar que rompe as lógicas de dominação e de fixação que o outro – o colonizador – projeta sobre pessoas negras. Partindo da lógica do olhar a autora propõe que pessoas negras, em especial as mulheres negras a partir se suas experiências do olhar, e como expectadoras do cinema que não as representava romperam com a dinâmica de apenas serem personagens de uma narrativa para se tornarem protagonistas da construção do olhar a partir do cinema, hooks fala que “esse olhar a partir do lugar do outro – por assim dizer – nos fixa, não apenas com sua violência, hostilidade e agressão, mas com ambivalência de seu desejo” (hooks, 2017).
    Na década de 1970 a onda de orgulho negro começa a se espalhar no Brasil, principalmente no Rio de Janeiro aonde os bailes blacks faziam a cabeça da juventude carioca, “uma época de crescente consciência e militância negra. Inspirada tanto nos movimentos de independência das colônias portuguesas na África quando nos movimentos black power pelos direitos civis nos Estados Unidos” (STAM, 2008). Nessa mesma década, em 1978 é fundado o Movimento Negro Unificado que é uma organização pioneira na luta do Povo Negro no Brasil tendo início na cidade de São Paulo.
    Em 1980, década de produção de Amor Maldito e do lançamento de Parceiros da Aventura (1980) de José Medeiros, o cinema nacional estava influenciado pelos movimentos políticos negros, a criação do MNU (Movimento Negro Unificado), a influência das lutas de independência africanas e os movimentos emancipadores nos Estados Unidos. Adélia, entretanto, realizadora negra lança um filme que nada aborda sobre a experiência negra, após lançar, como diretora de produção o filme do diretor estreante de longa-metragem José Medeiros. Sampaio então não seria uma protagonista dentro do escopo do que se entende por cinema negro? O que define o que chamamos de cinema negro brasileiro?
    O cinema negro é um termo ainda em disputa dentro da historiografia do cinema por ser ainda inscrito num lugar muito recente de produção acadêmica, então minha intenção neste texto não é dar seu significado, mas pensar como Amor Maldito e Parceiros da Aventura (1979) estavam engajados nos assuntos discutidos nas produções cinematográficas da década de 1980.

Bibliografia

    BERNARDET, Jean – Claude. CINEMA BRASILEIRO: PROPOSTAS PARA UMA NOVA HISTÓRIA. São Paulo: Companhia das Letas, 2009.
    CARVALHO, Noel dos Santos. CINEMA E REPRESENTAÇÃO RACIAL: O CINEMA NEGRO DE ZÓZIMO BULBUL. 2005. Tese de Doutorado – Programa de Pós Graduação em Sociologia, Universidade de São Paulo, 2005.
    DE, Jeferson. DOGMA FEIJOADA O CINEMA NEGRO BRASILEIRO. São Paulo: Cultura – fundação Padre Anchieta, 2005.
    hooks, bell. OLHARES NEGROS: RAÇA E REPRESENTAÇÃO. São Paulo: Elefante, 2019.
    OLIVEIRA, Clarissa Cé de. TRAJETÓRIAS DE ADÉLIA SAMPAIO NA HISTÓRIA DO CINEMA BRASILEIRO. 2017. Monografia para obtenção de Bacharelado em Jornalismo, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2017.
    SENNA, O. Preto-e-branco ou colorido: o negro e o cinema brasileiro. REVISTA DE CULTURA VOZES, ano 73, v.LXXIII, n.3, p.211-26, 1979.
    SHOHAT, Ella e STAM, Robert. Crítica da Imagem Eurocêntrica. São Paulo: Cosac Naify, 2006.