Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Jamer Guterres de Mello (UAM)

Minicurrículo

    Professor titular do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi. Doutor em Comunicação pelo PPGCOM-UFRGS, com Pós-Doutorado (PNPD-CAPES) pelo PPGCOM-UAM. Coordenador da Rede de Pesquisa Teoria de Cineastas e líder do GRUPIC – Grupo de Pesquisa Imagens em Conflito: Estética e Política no Cinema do Oriente Médio (DGP-CNPq). Autor dos livros “Semiótica crítica e as materialidades da comunicação” (UFRGS, 2020) e “A(na)rqueologias das Mídias” (Appris, 2017).

Ficha do Trabalho

Título

    A experiência palestina e a ficção científica de Larissa Sansour

Formato

    Presencial

Resumo

    Interessa a esta pesquisa pensar de que forma os aspectos históricos, políticos e culturais da Palestina são representados a partir de experiências temporais desestruturadas com base em distopias no presente. A partir da obra “Nation Estate” (Larissa Sansour, 2012), a intenção é investigar de que forma a ficção científica pode funcionar como uma estética de resistência ao trazer à tona estratégias contra-hegemônicas que possibilitam novos agenciamentos políticos da experiência palestina.

Resumo expandido

    Este trabalho dá sequência a uma pesquisa de maior fôlego apresentada no último encontro da Socine, quando expus os resultados iniciais de uma investigação sobre as relações entre arquivo, passado e futuro a partir de determinados procedimentos adotados pelo realizador palestino Kamal Aljafari. O cineasta utiliza imagens já existentes para restaurar uma memória em constante apagamento, sobretudo ao recriar um arquivo imagético de Jaffa, antiga cidade palestina, a partir de um possível imaginário futuro (HOCHBERG, 2021).
    Interessa a esta pesquisa, particularmente, pensar de que forma os aspectos históricos, políticos e culturais da Palestina são representados a partir de experiências temporais desestruturadas (SAID, 1999) com base em distopias no presente. No território palestino, parece haver uma impossibilidade de viver o presente sem remeter a um só tempo a um passado fraturado e a um futuro inviabilizado (AMORA, 2022).
    Nascida em Jerusalém e criada em Belém, Larissa Sansour é uma artista atualmente radicada em Londres que trabalha com cinema, fotografia e videoinstalação. Com referências a diferentes aspectos da cultura pop, sobretudo o cinema de horror, os quadrinhos e a ficção científica, sua obra é um múltiplo diálogo político sobre a complexidade da vida na Palestina. No entanto, ao criar universos ficcionais paralelos e ao utilizar a ironia como principal recurso discursivo, os esquemas relacionais adotados pela artista diferem radicalmente da maior parte das narrativas sobre o Oriente Médio.
    A obra “Nation Estate” (Larissa Sansour, 2012) discute, entre outras questões, a impossibilidade de expansão horizontal da Palestina, constantemente impedida pela ocupação israelense. Sansour apresenta a dissolução do território palestino e sua (re)construção no interior de um arranha-céu semelhante a um shopping center ou um centro cultural. Trata-se de uma alusão a Rawabi, a primeira cidade palestina planejada, um conglomerado de prédios de tecnologia inteligente destinados a servir de moradia para palestinos de alto poder aquisitivo. O futuro da Palestina, ou melhor, nossas “ideias ambiciosas” (SANSOUR, 2015), como Larissa Sansour se refere à comum “sensação eterna de prenúncio de estado, independência e fim da ocupação” (SANSOUR, 2015), mesmo que algum dia se torne realidade, provavelmente acontecerá conforme imaginado e planejado pelo Estado de Israel (QUE, 2018).
    Neste trabalho, procuro investigar de que forma a ficção científica, enquanto gênero cinematográfico que hegemonicamente está vinculado a um conjunto de imagens estilizadas, a uma noção de futurismo estéril e a uma produção de alto custo (SANSOUR, 2015), pode contribuir com engajamentos que se propõem a expor o fracasso da fantasia colonial israelense. Segundo Larissa Sansour (2015), a ficção científica permite um tipo específico de enquadramento nostálgico aos temas por ela abordados, uma vez que a noção de futuro tende a se expressar quase que invariavelmente como um padrão ou um clichê ao mesmo tempo em que parece ser visionária. No caso da Palestina, o futuro inviabilizado – ou muitas vezes inalcançável ou inimaginável – há muito tempo se tornou tão repetitivo que a estranha mistura de nostalgia e realização que o gênero de ficção científica frequentemente incorpora (SANSOUR, 2015) pode funcionar como uma estética de resistência ao trazer à tona estratégias contra-hegemônicas que possibilitam novos agenciamentos políticos da experiência palestina.

Bibliografia

    AMORA, Badra. Quando é a Palestina? O tempo palestino através da ficção científica de Larissa Sansour. Dissertação, PPGCOM-UFF, Niterói, 2022.
    DABASHI, Hamid. Dreams of a Nation: on Palestinian Cinema. Londres: Verso, 2006.
    GLISSANT, Édouard. Poética da Relação. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2021.
    HOCHBERG, Gil. Becoming Palestine: toward an archival imagination of the future. Durham: Duke University Press, 2021.
    MASALHA, Nur. Palestine: A Four Thousand Year History. Londres: Zed Books, 2018.
    PAPPÉ, Ilan. A limpeza étnica da Palestina. São Paulo: Sunderman, 2016.
    QUE, Carol. Mechanisms of a Settler Colonial Architecture in Larissa Sansour’s Nation Estate (2012). In: Jerusalem Quarterly, n. 73, p. 124-139, 2018.
    SAID, Edward. After the Last Sky: Palestinian lives. Nova Iorque: Columbia, 1999.
    SANSOUR, Larissa. A Re-Imagined Palestine. In: Guernica Magazine, Nova Iorque, 2013.
    SANSOUR, Larissa. Bethlehem Bandolero: Interview with Larissa Sansour. In: Palestine Square, Ramallah, 2015.