Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Pedro Peixoto Curi (ESPM Rio)

Minicurrículo

    Doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal Fluminense, onde desenvolveu a pesquisa “À margem da convergência: hábitos de consumo de fãs brasileiros de séries de TV estadunidenses”. Possui graduação em Comunicação Social (Jornalismo) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2005) e mestrado em Comunicação pela Universidade Federal Fluminense (2010). Pesquisa temas relacionados a televisão, cultura dos fãs, cultura jovem e convergência midiática.

Ficha do Trabalho

Título

    Na minha mão é mais barato: mediação de acesso e streaming no Brasil

Seminário

    Políticas, economias e culturas do cinema e do audiovisual no Brasil.

Formato

    Presencial

Resumo

    A experiência de assistir a conteúdos audiovisuais por streaming trouxe aos espectadores brasileiros novos mediadores de acesso, diferentes dos presentes na vivência do cinema, da TV linear, do vídeo sob demanda ou mesmo da pirataria. A partir dos aparelhos, das relações entre espectadores ou das (re)configurações do mercado, este trabalho busca, diante das novas batalhas da Guerra dos Streamings no Brasil, refletir sobre esses sistemas de mediação, seus usos estratégicos e os impactos locais.

Resumo expandido

    Espectadores dos Estados Unidos precisam de 7,4 fontes de conteúdo diferentes para satisfazer suas necessidades, de acordo com uma pesquisa divulgada pelo Hub Entertainment Research. No entanto, ainda que precisem de fontes diversas, esses espectadores se vêem hoje com um número cada vez maior de opções e têm recorrido a sistemas de mediação que facilitem suas escolhas. Assim, sairá perdendo aquela plataforma que não estiver disposta a entender o que está acontecendo.
    A partir das pesquisas divulgadas pelo Hub, que trabalha com empresas como ABC, Comcast, Netflix, Hasbro, Sony, AMC e AT&T para acompanhar as mudanças do mundo do entretenimento digital, é possível identificar algumas tendências de comportamento do público e do mercado estadunidense – e também do que podemos esperar no Brasil, dadas as nossas especificidades.
    De forma geral, as pesquisas divulgadas, quando reunidas, traçam um panorama da disputa entre um número crescente de serviços de conteúdo audiovisual por assinatura que não têm mais no catálogo a sua única forma de diferenciação, que ainda não encontraram um modelo de negócios lucrativo como os intervalos comerciais da TV linear, que enfrentam dificuldades para manter os assinantes que têm – quiçá para atrair novos – e que, cada vez mais, precisam olhar para o comportamento do público, assim como para as relações e sistemas que se estabelecem em torno dele.
    A experiência de assistir a conteúdos audiovisuais por streaming trouxe para a vida dos espectadores brasileiros novos mediadores de acesso, diferentes daqueles presentes na vivência do cinema, da TV linear, do vídeo sob demanda ou mesmo da pirataria. Aos sistemas de recomendação tradicionais, somam-se os algoritmos, novos aparelhos que permitem uma melhor interação com os diversos conteúdos e aplicativos, agregadores que prometem a solução para a grande oferta de plataformas e parcerias com serviços de entrega, sites de compra e bancos que oferecem economia e mais simplicidade na gestão de assinaturas.
    No que se refere à tecnologia, a escolha entre uma TV Smart e um aparelho reprodutor de streaming para assistir aos conteúdos das plataformas, por exemplo, traz experiências diferentes. Os aparelhos permitem diferentes níveis de integração entre os conteúdos dos dos aplicativos, cria uma tela principal com os favoritos ou últimos títulos vistos, tira do espectador a decisão do aplicativo em que vai entrar primeiro, quando não sabe ao que assistir e, assim, ainda possibilita o funcionamento de sistemas automatizados de recomendação.
    A troca de informações entre espectadores, um sistema de mediação tradicional à experiência com o audiovisual, ganha novos contornos no meio digital. O volume de conteúdo de diversas partes do mundo, a entrada das redes sociais, os algoritmos e até mesmo o compartilhamento de senhas e perfis em aplicativos entre usuários e a mudança nos calendários de lançamentos, influenciam o acesso e trazem outras camadas à experiência do espectador.
    Ao mesmo tempo, observamos movimentos do mercado, como o surgimento de agregadoras, que prometem maior facilidade na gestão dos diferentes serviços e reproduzem padrões anteriores, ou parcerias entre empresas e plataformas de streaming, que prometem taxas de entrega mais baratas em troca da assinatura de conteúdo premium. Inspirada na gigante Amazon, que criou uma plataforma associada ao seus serviços de entrega, a Rappi, no Brasil, oferece um pacote especial com acesso à HBO Max, enquanto o Mercado Livre se associou a Disney+ e Star+ com 70% de desconto no valor da assinatura.
    Seja pelo desenvolvimento e pela configuração dos aparelhos usados para acessar os conteúdos, pelas relações estabelecidas entre espectadores, pela interação do público com as plataformas ou pelas (re)configurações do mercado, este trabalho busca, diante das novas batalhas dessa suposta Guerra dos Streamings no Brasil refletir sobre esses sistemas de mediação, seus usos estratégicos no cenário atual e os impactos locais.

Bibliografia

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