Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Miriam de Souza Rossini (UFRGS)

Minicurrículo

    Doutora (História – UFRGS), Mestre (Cinema – USP). Professora Titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação e ao Departamento de Comunicação. Coordenadora do ARTIS – Grupo de Pesquisa em Estética e Processos Audiovisual – CNPq. Editora da revista Rebeca. Membro do Conselho Fiscal da SOCINE.

Coautor

    LUCAS FURTADO ESTEVES (UFRGS)

Ficha do Trabalho

Título

    A renovação do curta-metragem: um debate a partir do cinema gaúcho

Seminário

    Cinema no Brasil: a história, a escrita da história e as estratégias de sobrevivência

Formato

    Presencial

Resumo

    Por muitos anos intitulada como a “terra do curta-metragem”, os realizadores gaúchos buscavam no formato longa a profissionalização da sua carreira. Nas últimas duas décadas, essa percepção mudou e o curta foi deixando de ser apenas um “formato de entrada” para se constituir numa produção com seus próprios méritos e reconhecimentos. A proposta desta apresentação, portanto, é discutir o lugar do curta-metragem na produção cinematográfica gaúcha, a partir dos anos 2000.

Resumo expandido

    Partindo do cruzamento de debates entre uma tese em andamento e uma pesquisa recentemente finalizada, a proposta desta apresentação é discutir o lugar do curta-metragem nas duas últimas décadas, e com isso atualizar o debate sobre a produção, mas também sobre a historiografia do cinema gaúcho.
    Na história do cinema brasileiro, um dos primeiros registros ainda preservados são os poucos minutos de Os óculos do vovô (1913), do português que se estabeleceu na cidade de Pelotas, Francisco dos Santos. Apesar dessa peripécia, por muitos anos fazer cinema de ficção foi a verdadeira aventura do cinema gaúcho, algo que inclusive levou à falência o estúdio do realizador português, em 1914, quando tentava levar às telas o romance de seu conterrâneo Camilo Castelo Branco, Amor de perdição. Nas décadas seguinte, o filme ficcional conseguia realizar-se basicamente no formato curta-metragem, até que finalmente, entre os anos 1960 e 1980, os filmes ficcionais em longa-metragem foram lançados, relegando o formato curta a uma espécie de marginalidade no campo de produção.
    No entanto, essa não é uma verdade absoluta. E o curta-metragem foi desenvolvido por muitos realizadores ao longo de suas carreiras, em super-8, em 16mm e até mesmo em 35mm. Nos anos 1980, quando a produção em longa-metragem ameaçava novamente retroceder no Estado, o curta-metragem continuou seu processo de desenvolvimento e foi justamente um curta-metragem, que mesclava ficcional e documental, que obteve verbas suficientes para manter vivo o sonho da Casa de Cinema de Porto Alegre. O ano era 1989, e o filme era Ilha das Flores, de Jorge Furtado. Os anos seguintes provaram que manter a produção de curta-metragem era importante no Rio Grande do Sul, pois era esse o formato que mais facilmente conseguia ter apoio financeiro, num momento de retrocesso de políticas públicas para o longa nacional. Seja a partir de Leis de Incentivo, estadual e municipais, seja de projetos privados de apoio à produção do curta-metragem, a história do curta-metragem no RS nunca foi confundida com documentário. Sempre foi a possibilidade de contar histórias em diferentes gêneros narrativos.
    E é esse aspecto que se tem observado expandir-se nas atuais produções. No início dos anos 2000, surgiram os primeiros cursos tecnólogos e bacharelados em Cinema – ou em Audiovisual ou Multimídia –, além de haver uma expansão dos cursos de Comunicação. Em paralelo a essa expansão, observamos as mudanças tecnológicas do setor (captação de imagem e som em digital, e edição em softwares, agregada posteriormente à circulação por plataformas na web, ou por aplicativos em aparelhos conectados à Internet). Foi nesse contexto em que surgiram curtas como Quarto de Espera (2009), de Davi Pretto e Bruno Carboni, e Um diálogo de ballet (2012), de Filipe Matzembacher. Filmes que se destacaram no cenário audiovisual gaúcho e nacional, imprimindo uma estética filiada às tradições contemporâneas de produção. Esse cenário efetivou a entrada no campo de uma nova geração de realizadores, menos afeitos às tradições dos formatos, e para quem produzir era sempre a primeira opção. É nesse cenário que esta apresentação se foca. Nessa expansão da produção cinematográfica gaúcha, para fora do espaço da Capital Porto Alegre, propondo, além de novos nichos produtivos, novas experiências estéticas e temáticas em torno do curta-metragem.
    Nesse novo cenário, o curta-metragem é percebido como um formato em si por onde podem ser atualizadas histórias ficcionais de diferentes gêneros narrativos, histórias documentais. Mais do que um formato de passagem ou de entrada no campo do audiovisual, é possível observar no cinema gaúcho que o curta-metragem, hoje, também é o espaço da experimentação de linguagem, inclusive de realizadores experientes no campo do cinema.

Bibliografia

    COHEN, Lisiane Fagundes. Casa de Cinema de Porto Alegre: realização cooperativa, padrão de criação e desenvolvimento no cinema. Dissertação. Mestrado em Ciências da Comunicação: Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo (RS), 2010, 129p.
    SELIGMAN, Flávia. Verdes anos do cinema gaúcho: o ciclo do super-8 em Porto Alegre. 1990. Dissertação. Mestrado em Artes (Teatro, Cinema e Artes Plástica. Universidade de São Paulo, São Paulo (SP), 1990, 173 p.
    STEFANINI, Isabella. Ensaio sobre o experimental no curta-metragem brasileiro contemporâneo. Revista Cinestesia USP, São Paulo v.1 n.1, p. 36 – 49, 2020. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/cinestesia/article/view/166741
    TOMAIM, Cássio dos Santos. O estudo de cinema no Rio Grande do Sul: trajetórias e desafios. Revista Famecos, Porto Alegre, v. 18, n. 1, p. 55-71, jan/abr 2011. Disponível em: http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistafamecos/article/view/8797