Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Rúbia Mércia de O.Medeiros (PPGCOM/UFC)

Minicurrículo

    Realizadora, pesquisadora, curadora e educadora audiovisual, desenvolve pesquisa em formação artística no audiovisual. Curadora da Mostra Cine Caratapa (2023). Coordenadora do Programa de Audiovisual da Escola de Cultura e Artes do CCBJ. Doutoranda no Programa de Pós- Comunicação do Instituto de Cultura e Artes, da UFC. Integrante do grupo de pesquisa LEEA – Laboratório de Estudos e Experimentações em Artes e Audiovisual. e Poéticas Femininas- Políticas Feministas (UFMG).

Ficha do Trabalho

Título

    Inventar Cenas- experiência de curadoria da Mostra Cine Caratapa

Seminário

    Festivais e mostras de cinema e audiovisual

Formato

    Presencial

Resumo

    Esta proposta nos apresenta a experiência da Mostra Cine Caratapa, realizada em março de 2023 na cidade de Fortaleza/CE e que teve como proposta um recorte de filmes realizados por mulheres nas principais funções do cinema; produção, realização, som, montagem, fotografia e direção de arte. O desenho da mostra teve como aposta a exibição de filmes cearenses contemporâneo na perspectiva de produções audiovisuais de mulheres cis e trans, travestis, pessoas não-binárias e trans-masculinas.

Resumo expandido

    A Mostra Cine Caratapa propõe uma deriva pelo cinema de mulheres cis, trans, travestis, pessoas não-binárias e trans-masculinas, atravessando questões estética, narrativas, política, subjetiva, representativa e relacional. A proposta da curadoria da mostra foi de promover uma reflexão sobre modos de filmar, gestos e temas que compõem e motivam essas realizações, buscando a singularidade de cada obra, seus contextos de produção e os universos que revelam. Nós, enquanto parte do coletivo Caratapa assinamos a curadoria e idealização da Mostra, que teve em 2018 seus primeiros esboços de projeto e apenas em 2023,podemos efetivar a mostra como uma comunidade de mulheres que compunha a equipe da Mostra. Essa urgência em falar destes coletivos de mulheres nos apresentou um leque de filmes que nos permitiu desenhar uma curadoria em diálogo com os filmes e realizadoras que estavam a frente das funções. O que podem esses coletivos de realizadoras que estão tentando constantemente legitimar a escritura de seus filmes na história e em suas próprias trajetórias? Pretendemos através deste trabalho discutir e apresentar a experiência da Mostra enquanto, curadoria, ação de formação de plateia e espaço de reflexão e reconhecimento das diferentes posições e contribuições das mulheres na feitura fílmica, para além unicamente da direção. No intuito de discutir não apenas a funções do cinema, mas também como estas podem mobilizar cenas, telas e demarcar territórios de criação e invenções. A mostra surge do desejo de falar de filmes que nos atravessam, que falam de corpas, de suas histórias e narrativas que desejamos assistir nas telas do cinema e do mundo. Com um recorte temporal e territorial, Cine Caratapa convidou filmes realizados no ano de 2019 e 2023. Abrir espaço-tempo para refletir, conhecer e se reconhecer em espaços de cinema e audiovisual, na intenção de demarcar e mapear funções no cinema que historicamente não foram ocupadas de forma numericamente justa por estas corpas. Segundo dados da Ancine, em 2016, 75,4% dos longas-metragens nacionais lançados comercialmente foram dirigidos por homens brancos cisgênero. Apenas 17% dos filmes tiveram à frente da realização mulheres, mesmo em um país onde a maioria da população (51%) é feminina. Em outros setores do cinema, essa realidade se repete. A participação feminina na direção de fotografia, por exemplo, é de apenas 8%. Na produção executiva, 41%. No roteiro, somente 21%. Diante desse cenário, na frente e atrás das telas, se faz de extrema importância levantar questões acerca da sub-representação feminina no cinema brasileiro. É necessário lançar um olhar mais alongado sobre a disparidade dentro da produção audiovisual brasileira, que apresenta um ambiente extremamente masculinizado por diversos anos, e ainda mantém por muitas vezes um olhar masculino cristalizado nos modos de fazer filme. A questão se torna por vezes um tanto delicada, pois questionar esses números é na verdade questionar a construção de uma ausência. Esse tipo de desigualdade de gênero se dá através de algo muito mais abstrato do que relatos sobre assédios, por exemplo. Ele raramente é explícito, pois está presente em algo que não vemos. As estatísticas apontam a ausência de maior diversidade de gênero, classes e raças nos cargos de liderança em sets de filmagem — não por sua inexistência, mas por um apagamento histórico-social. A Mostra trouxe 14 filmes, as sessões tiveram em seu desenho curatorial uma relação de aproximação e afeto, e puderam proporcionar debates e conversas acerca de determinadas funções do cinema desde a perspectiva das mulheres ali presentes , na perspectiva de transbordar representações antes fixadas, no intuito de questionar padrões hegemônicos de constituição de cinema e cena. Ocupar as telas e os sets de filmagens, fazer desse espaço um gesto múltiplo e político.

Bibliografia

    ALMEIDA, Carol. “Contra a velha cinefilia: uma perspectiva feminista de filiação ao cinema.” (Disponível em: https://foradequadro.com/2017/09/19/contra-a-velha cinefilia-umaperspectiva-feminista-de-filiação-ao-cinema/.)
    BUTLER, Judith. Levante. In: Didi-Huberman, G. Levantes. São Paulo: Edições Sesc, 2017.
    GARRETT, Adriano. A curadoria em cinema no Brasil contemporâneo: festivais de cinema e o caso da Mostra Aurora (2008-2012). 2020. 176 f. Dissertação (Mestrado em Comunicação), Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo.
    HOOKS, Bell. O olhar opositor: mulheres negras espectadoras. In.: Olhares negros: raça e representação. (cap-7) São Paulo: Elefante, 2019.
    RANCIÈRE, Jacques. Um levante pode esconder outro. In: Didi-Huberman, G. Levantes.
    São Paulo: Edições Sesc, 2017.
    RODRIGUES, Fábio. Caminhando entre desmontagens e construções. In: Cachoeiradoc – Festival impossível, curadoria provisória, 2020.