Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Rafaela Arienti Barbieri (UFSC)

Minicurrículo

    Rafaela A. Barbieri é doutoranda em História no Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). É mestre e graduada em História pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Trabalha com temas relativos a História das Religiões, Satanismo Religioso e Cinema de Horror. É membro do Núcleo de Estudos em História e Cinema (NEHCINE/UFSC) e do Grupo de Pesquisa em História das Crenças e das Ideias Religiosas (HCIR/UEM).

Ficha do Trabalho

Título

    O Horror Satânico: um debate sobre História, Cinema e Religiões

Seminário

    Estudos do insólito e do horror no audiovisual

Formato

    Presencial

Resumo

    Abordando filmes de horror sob a ótica historiográfica, este trabalho visa analisar filmes que compõem o ciclo Horror Satânico estadunidense consolidado na década de 1970, o qual fortaleceu-se após a formalização do Satanismo autodeclarado no país. A década seguinte contou com a pluralização dos Satanismos, a presença do tema em jornais, revistas e no cinema de horror, que o representou em diversas produções que viabilizam uma problematização histórica de medos sociais, políticos e religiosos.

Resumo expandido

    Compreendendo os filmes de horror sob a ótica historiográfica, o presente trabalho visa analisar filmes que compõem o ciclo do Horror Satânico estadunidense consolidado durante a década de 1970, direcionando o foco à produções que incluíram em sua equipe satanistas autodeclarados, como é o caso de The Devil’s Rain (1975), Lucifer’s Women (1974) e Asylum of Satan (1972). Em profunda conexão com seu contexto social de produção, o Horror Satânico se fortaleceu justamente após a formalização do Satanismo Religioso no país, cujo marco é a fundação da Church of Satan (Igreja de Satã) por Anton LaVey em 1966. Transformando a abordagem deste tema no cinema de horror, em 1968 Rosemary’s Baby trouxe o Satanismo para perto de uma grande audiência ao representar seus antagonistas como vizinhos idosos que mediante um pacto com Satã, trouxeram ao mundo o Anticristo. Na década seguinte, a recepção reconheceu amplamente o impacto do filme e teceu relações com as transformações do contexto que incluíam conflitos exteriores, novos debates políticos e profundas transformações no panorama religioso e cultural do país. Os limites e problemas da democracia e das instituições estadunidenses também foram expressos no Horror Satânico. Impulsionados pelo sucesso do filme dirigido por Polanski, outros diversos filmes de horror utilizaram em suas narrativas representações plurais do Satanismo, cujas formas de divulgação são caracterizadas por símbolos utilizados por tal religião e que circulavam amplamente nas mídias do período. O âmbito da recepção, por sua vez, identificava estes mesmos símbolos, estética e tema de forma heterogênea, seja em análises que destacam o interesse dos cineastas pelo Satanismo após o lançamento de Rosemary ‘s Baby ou em notas de leitores de jornal que expressam um medo social frente ao perigo que estes filmes representam para a integridade de suas famílias. Paralelamente, o Satanismo religioso institucionalizou-se em 1966 nos Estados Unidos com a criação da Church of Satan, ramificando-se em grupos dissidentes, como o Temple of Set fundado por Michael Aquino em 1975, e integrando a multifacetada cultura da mídia em jornais, revistas, programas de televisão e música. Tal dinâmica permitiu o reconhecimento deste tema pelo público e impulsionou o primeiro ciclo estável do Horror Satânico durante a década de 1970 nos Estados Unidos.
    Portanto, reconhecendo as religiões como objetos de análise histórica para além de seu caráter metafórico nos enredos de horror, bem como ciente da pluralidade, historicidade e impacto das práticas religiosas sob uma ótica que não as relega ao âmbito do irracional ou supersticioso, este trabalho pauta-se nos debates conceituais sobre Satanismo articulados por historiadores, filósofos e sociólogos tais como Jesper Petersen (2009), Per Faxneld (2013), Ruben Van Luijk (2016) e Asbjørn Dyrendal (2016). Suas análises permitem observar o Satanismo autodeclarado enquanto uma intencional e motivada veneração a Satã, quer teísta ou não teísta, expandindo o conceito para além de uma visão que localiza Satã exclusivamente como uma personificação do Mal Cristão. Porém, ainda que uma percepção positiva acerca de Satã tenha se fortalecido em tal período, ela ainda está imersa em uma cultura permeada por medos sociais e religiosamente orientados. Desta forma, abordando os filmes de horror como fonte histórica para a compreensão destes medos, parte-se das reflexões de Brigid Cherry (2009), Robin Wood (1979) e Peter Hutchings (2014). Tais elementos podem ser identificados tanto no interior das narrativas cinematográficas de horror quanto em seus processos de produção e recepção, que serão explorados através da análise de matérias de jornais e revistas. Este esforço metodológico embasado em autores como David Bordwell e Kristin Thompson (2013), Douglas Kellner (2001) e Alexandre Busko Valim (2012) busca integrar à reflexão historiográfica do cinema outras fontes que enriquecem o debate proposto nesta apresentação.

Bibliografia

    BERKOWITZ, Edward D. Something Happened: a political and cultural overview of the seventies. New York: Columbia University Press, 2006. BORDWELL, David; THOMPSON, Kristin. A Arte do Cinema: uma introdução. Campinas, São Paulo: Editora da Unicamp, Editora da USP, 2013. FAXNELD, Per; PETERSEN, Jesper Aa. The Devil’s Party: Satanism in Modernity. New York: Oxford University Press, 2013. HUTCHINGS, Peter. International Horror in the 1970s. In BENSHOFF, Harry M. A Companion to the Horror Film. Chichester: Willey, Blackwell, 2014. KELLNER, Douglas. A cultura da mídia. Estudos Culturais: identidade e política entre o moderno e o pós-moderno. São Paulo: Edusc, 2001. LUIJK, Ruben Van. Children of Lucifer: the origins of modern religious satanism. NY: Oxford University Press, 2016. WOOD, Robin; LIPPE, Richard; WILLIAMS, Tony; BRITTON, Andrew. American Nightmare: Essays on the Horror Film. Toronto: Festival of Festivals, 1979.