Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Fabio Luciano Francener Pinheiro (UNESPAR)

Minicurrículo

    Doutor (História, Teoria e Crítica) pelo Programa de Meios e Processos Audiovisuais (ECA-USP). Mestre em Ciências da Comunicação (ECA-USP). Possui Especialização em Produção Independente em Cinema pela UNESPAR e em Administração pela UNIFAE. É graduado em Comunicação Social pela PUC-PR. Cursou Letras na UFPR. Professor Adjunto da Graduação em Cinema da UNESPAR II, onde desenvolve pesquisa sobre Gêneros Cinematográficos e História.

Ficha do Trabalho

Título

    Narrativa e a personagem feminina no Neo-Western : um estudo de 1883

Formato

    Presencial

Resumo

    Esta comunicação busca analisar as estratégias narrativas empregadas pela série 1883 (2021-2022) exibida pelo canal Paramount e criada por Taylor Sheridan. A série trata da marcha da família Hutton e de um grupo de pioneiros rumo ao território de Montana. A produção integra um amplo painel inaugurado por Yellowstone e 1923. A ideia é refletir sobre o conceito de Neo-Western e em especial sobre a voz da personagem Elza Hutton, por meio do recurso da focalização narrativa.

Resumo expandido

    Dentre as categorias genéricas, o western é certamente o mais visivelmente identificável, seja pela sua inconfundível iconografia – chapéus, cavalos, salloon, armas, paisagens naturais – ou pelos códigos temáticos que mobiliza, como a busca por justiça, vingança, duelo final e a expansão rumo ao Oeste. O cruzamento entre iconografia e temática resulta na consolidação da mitologia do western, forjada pelo cinema de Hollywood, que fez circular uma versão conveniente, criada em cima de acontecimentos históricos.
    Assim, desde o período silencioso, o cinema escolheu impor a versão do cowboy desbravador do território inóspito sobre a expansão genocida que vitimou povos indígenas a partir dos anos 1800. No western cinematográfico, a versão que se impôs foi a da narrativa da missão civilizatória, que buscava ocupar as terras situadas no oeste dos Estados Unidos a partir do século XIX. “O western é um folclore americano: uma mitologia que depende muito mais da fantasia que da história” (MATTOS:2004).
    O gênero se populariza paralelamente à consolidação do incipiente cinema e do studio system. Basta lembrar de The Great Train Robbery (1903) e as narrativas protagonizadas por Thomas Ince (SCHATZ:1981). A categoria passa por transformações após a Segunda Guerra Mundial, trafega pelo crivo da autoria com nomes como John Ford e Howard Hawks, se reinventa criticamente com as obras de Antony Mann e Nicholas Ray e adquire o status de culto com os westerns spaghetti de Sergio Leone. A partir dos anos 1970, o gênero entra em decadência por não conseguir mais refletir as mudanças na dinâmica social da geração que protesta contra a invasão do Vietnã , a cultura hippie, o movimento pelos Direitos Civis.
    Diante desse breve quadro, é instigante abordar a produção e a recepção de Yellowstone, narrativa seriada produzida pelo canal Paramount. Em sua quinta temporada, a saga da família Hutton, ambientada no interior do Estado de Montana e liderada pelo pecuarista John Hutton (Kevin Costner) foi a série mais vista dos Estados Unidos em 2022. Tal recepção levou seu criador, o roteirista e diretor Taylor Sheridan, a criar duas prequels. 1883 trata da jornada épica dos antepassados do clã Dutton que atravessam o país enfrentando toda sorte de perigos para se fixar no território de Montana. A outra prequel, 1923, com Harrison Ford no elenco, mostra o território já conquistado e a luta dos Hutton para manter sua propriedade e seu gado. Juntas, as três produções formam um painel que aborda a conquista do oeste do século XIX à atualidade, configurando o termo Neo-Western. Tal conceito busca dar conta do ressurgimento do gênero, seja em sua vertente histórica (1883) ou na sua atualização em Yellowstone.
    Tendo em mente a perspectiva do Neo-Western , esta comunicação elege a série 1883 como objeto de investigação. A proposta se justifica pela adesão da trama – entre os três títulos mencionados – ao período histórico consolidado pelo gênero, a segunda metade do século XIX.
    A intenção é analisar a estratégia narrativa empregada pela série, que privilegia a voz da personagem Elsa Hutton (Isabel May). O conceito a ser aprofundado é o de focalização, de acordo com a terminologia sugerida por Gaudreault e Jost (2009). É a voz de Elsa, uma jovem entrando na idade adulta, que abre a série em uma cena extremamente violenta, na qual um grupo de pioneiros é massacrado por indígenas. Ao acompanhar o pai James Hutton (Tim McGraw), que por sua vez auxilia na escolta de um grupo de imigrantes em sua jornada para o Oregon, Elsa descobre a si mesma enquanto mulher, ao mesmo tempo em que descreve com assombro, perplexidade e encanto as situações que testemunha durante a longa e árdua travessia para o oeste.
    São sua voz e suas reflexões – de caráter existencial, sobre vida, morte, dor, perda, natureza, brutalidade – que ouvimos, tornando-a assim uma personagem focalizadora, que nos apresenta e nos conduz no universo diegético da série.

Bibliografia

    ALTMAN, Rick. Film Genre. Londres: BFI, 1999.
    GAUDREAULT, André, JOST, François. A Narrativa Cinematográfica. Brasília: Editora UNB, 2009.
    GRANT, Barry Keith. Film Genre: From iconography do ideology. Londres: Wallflower, 2007.
    MATTOS. A.C. Gomes de. Publique-se a Lenda: a História do Western. Rio de Janeiro: Rocco, 2004.
    MOINE, Raphaelle. Cinema Genre. Oxford: Blackwell, 2008
    LANGFORD, Barry. Film genre: Hollywood and beyond. Edimburgo: Edimburgh UP, 2005.
    SCHATZ, Thomas. Hollywood Genres – Formulas, Filmmaking and the Studio System. Nova York: Randon House, 1981.