Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Gilberto Alexandre Sobrinho (Unicamp)

Minicurrículo

    Gilberto Alexandre Sobrinho. Professor de Cinema, TV e Vídeo, no Instituto de Artes, da Unicamp. Desenvolveu Pós-doutorado no Departamento de Cinema da Universidade de Nova Iorque. Foi Professor Visitante na Universidade Estadual de San Francisco (EUA) e na Universidad Iberoamericana (México). Foi pesquisador na Universidade de Leeds (Inglaterra). Tem livros e artigos publicados em diferentes editoras e revistas acadêmicas. Realizador de cinema e audiovisual, com ênfase no formato documentário.

Ficha do Trabalho

Título

    Cinemas em rotas do Atlântico Negro e as estéticas emancipatórias

Seminário

    Cinemas negros: estéticas, narrativas e políticas audiovisuais na África e nas afrodiásporas.

Formato

    Presencial

Resumo

    O objetivo da comunicação é debater teoricamente a emergência de um cinema libertário e emancipador, em territórios do chamado Atlântico Negro. Assim, o recorte da comunicação é transversal, ou seja, olhamos as composições da negritude/pretitude e seus efeitos, em processos espaço-temporais não lineares e, potencialmente, em processos de recomposição. Trata-se de um debate obre o cinema do Atlântico Negro, interessado em cartografias para a história e a crítica do cinema.

Resumo expandido

    O objetivo da comunicação é debater, teoricamente, a emergência de um cinema libertário e emancipador, em territórios do chamado Atlântico Negro. O “negro” do Atlântico é um recorte estrategicamente provisório de um universo maior, “arco-íris”, que contêm em si outros deslocamentos e configurações cultuais, a partir de populações étnico-raciais plurais. Sob o “negro” reúnem-se povos e culturas Iorubás ou Nagôs e os Jejes (Fon, Ashanti, Ewé, Fanti), os Mina e os Malês etc.. da África, e que compuseram o contingente populacional como escravizados, para o trabalho forçado nas Américas, durante a colonização, cujo emblema é o ano de 1492. De escravizados a libertos, os afrodescendentes participaram da formação cultural do continente, compuseram formas de resistência política e cultural e instituíram modos de pensar nações para além dos discursos homogeneizantes e hegemônicos. Também desse contingente, há a imigração diaspórica transcontinental. Assim como africanos e seus descendentes pertencem a essas formações territoriais, árabes, hindus, chineses, japoneses, incas, maias, tupis, “europeus” etc. também compõem paisagens humanas e culturais que deflagram a defesa do que STAM & SHOAT (2006) denominam o multiculturalismo policêntrico, um modo de reagir, critica e criativamente, ao eurocentrismo e a imponência caucasiana. Assim, o recorte da comunicação é transversal, ou seja, olhamos as composições da negritude e seus efeitos, em processos espaço-temporais não lineares e, potencialmente, em processos de recomposição. A reflexão conduz a uma poética e política do olhar, em que pensadores, críticos, acadêmicos, ativistas e artistas articulam suas ideias e trabalhos de uma maneira posicionada. O ponto de partida é a dominante afroperspectivista, um jeito de organizar os discursos pelas margens dos sistema, de modo heterogêneo, considerando-se insumos que, usualmente, não compõem as partes dominantes dos debates. Desse modo, parte-se, da composição de um quadro epistemológico compreendido como o pensamento social e político negro e as experiências artísticas a ele vinculadas. Assim, a Negritude, Teatro Experimental do Negro, o Pan-africanismo, o Black Power, o Black Arts Movement, o Movimento Negro Unificado, a capoeira, o candomblé, a “cultura popular” etc., entre outros movimentos de libertação e luta política estarão no centro das abordagens e informam como artistas da imagem e do som dialogaram, reagiram, incorporaram ou tensionaram com esses expedientes estético-políticos. Nessa reflexão, serão priorizadas as experiências artísticas afro-diaspóricas, a partir de recortes geográficos dos continentes Africano, Americano e Europeu. Trata-se de um debate obre o cinema do Atlântico Negro, circunscrito também no campo de estudos do cinema mundial (World Cinema), interessado em cartografias para a história e a crítica do cinema. Trata-se de pensar o campo do cinema intercultural, em que questões estéticas e políticas emergem do cinema da diáspora africana, na eclosão da modernidade e na contemporaneidade. A partir da reflexão sobre representação, linguagem e poder, almeja-se inspecionar os modos como as construções identitárias, as subjetividades e a memória são enunciadas nos filmes. A discussão avança para incluir tópicos como “tecnologias de representação e subjetivação” (marcadores étnico-raciais e de gênero e sexualidade) e dissenso. Com isso, os modos da fabulação, os usos dos arquivos, a performance, as confissões, os testemunhos e as profanações emolduram a luta anticolonial, a descolonização e a territorialização multicultural na imagem.

Bibliografia

    BRACEY, John H. Jr., SANCHES, Sonia, SMETHURST, James. SOS – Calling All Black People : A Black Arts Movement Reader. Amherst: University of Massachusetts Press, 2014.
    CARMICHAEL, Stokely, HAMILTON, Charles V. Black Power: the politics of liberation in America. Nova Iorque: Random House, 1967.
    DIAWARA, Manthia. The “I” Narrator in Black Diaspora Documentary. In: KLOTMAN, Phyllis, CUTLER, Janet. Struggles for representation: African American Documentary Film and Video. Bloomington, Indiana University Press, 1999.
    GILLESPIE, Michael Boyce. Film Blackness. American Cinema and the idea of Black Film. Duham, Londres: Duke University Press, 2016.
    GILROY, Paul. O Atlântico negro: modernidade e dupla consciência. São Paulo: Ed. 34, 2001.
    NASCIMENTO, Abdias. O quilombismo: Documentos de uma militância Pan-Africanista. Rio de Janeiro e São Paulo: IPEAFRO e Perspectiva, 2019.
    SHOHAT, Ella; STAM, Robert. Crítica da Imagem Eurocêntrica. São Paulo: Cosac Naify, 2006.