Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Giovanni Alencar Comodo (UNESPAR)

Minicurrículo

    Mestre em Cinema e Artes do Vídeo pela Universidade Estadual do Paraná (PPG-CINEAV/UNESPAR), vinculado à linha de pesquisa (1) “Teorias e Discursos no Cinema e nas Artes do Vídeo”. Membro dos grupos de pesquisa Cinecriare (Unespar/CNPq) e GPACS (Unespar/CNPq). Crítico de cinema e cineclubista integrante do Coletivo Atalante. Contato: gacomodo@gmail.com.

Ficha do Trabalho

Título

    Rohmer e a tradição pictórica: diálogos entre pintura e O Raio Verde

Formato

    Presencial

Resumo

    Em sua busca constante pelo belo e o verdadeiro no cinema, Éric Rohmer realiza “O Raio Verde”, um filme totalmente improvisado e em movimento constante por locações em toda a França durante o verão. Mesmo rodado às pressas, seu filme estabelece um diálogo com grandes nomes da pintura francesa, especialmente Cézanne. Suas inquietações desde crítico de cinema sobre o antigo e o novo na arte provocam diálogos possíveis com a tradição e a modernidade na pintura.

Resumo expandido

    “O Raio Verde” (1986) é um ponto paradigmático na filmografia de Éric Rohmer (1920-2010). Conhecido por seu rigor e erudição desde seus tempos como crítico nos Cahiers du Cinéma e já estabelecido como realizador, Rohmer empreende ali um filme “amador tal como um principiante”, segundo ele mesmo: filma em 16mm, sem roteiro, com uma equipe mínima de profissionais praticamente inexperientes, de improviso por diversas locações no verão francês sem autorização prévia, imerso entre veranistas e turistas desavisados.

    Entretanto, o resultado final de seu filme demonstra um cineasta experiente em pleno domínio de suas ferramentas, com enquadramentos – realizados às pressas – que conseguem evocar uma história das imagens da pintura, especialmente o impressionismo francês do qual era admirador confesso. Atento aos lugares e pessoas das locações, Rohmer consegue capturar gestos e poses revisitando tradições pictóricas em seu filme dito “amador”: dos banhistas em Biarritz que parecem uma revisão de Cézanne ao verde do verão de Berthe Morisot (como em “Caça às borboletas”) e também de Manet (nos polêmicos “As Andorinhas” e “O almoço sobre a relva”), passando inclusive pelo trompe l’oiel da mosca no frame como nas pinturas de vanitas.

    Pensador aguerrido sobre o poder e a independência da arte do cinema nos debates de meados do século XX, Rohmer sempre defendeu a capacidade única do cinema de capturar o movimento, o belo e o verdadeiro nos filmes, com grande herança de André Bazin. Sempre se colocou como um tradicionalista ao mesmo tempo em que defendia a modernidade do meio, procurando um diálogo com a tradição e estudo das outras artes e seus passados. Torna-se possível pensar em uma aproximação sua com pintores como Manet e o próprio Cézanne, paradigmáticos da modernidade em suas épocas.

    Desdobramento de minha pesquisa de mestrado sobre Rohmer e “O Raio Verde” recém-concluída centrada na Teoria de Cineastas e a presença do acaso em seu processo de criação, esta apresentação busca empreender um diálogo comparativo entre imagens do filme e alguns quadros como os mencionados acima, tentando também localizar o pensamento de Rohmer sobre a pintura e modernidade (presente em entrevistas e ensaios seus como “O Antigo e o novo” e “O Celuloide e o mármore”) com os dos pintores modernistas.

Bibliografia

    AUMONT, Jacques. Pode um filme ser um ato de teoria?, Revista Educação e Realidade, Porto Alegre, v.1, n. 33, p. 21-34, jan/jun, 2008.
    ______ (Org.). Pour un cinéma comparé: influences et répétitions. Paris: Cinémathèque française, 1996.
    BIETTE, Jean-Claude et al. Entretien avec Éric Rohmer. Cahiers du Cinéma, Paris, n° 172, p. 32-43+56-59, nov., 1965.
    DORAN, Michael (Org.). Conversas com Cézanne. São Paulo: Editora 34, 2021.
    HANDYSIDE, Fiona (Org). Eric Rohmer: Interviews. Jackson: University Press of Mississipi, 2013.
    OLIVEIRA Jr., Luiz Carlos. Vertigo, a teoria artística de Alfred Hitchcock e seus desdobramentos no cinema moderno. [Tese de Doutorado]. São Paulo: ECA-USP, 2015.
    ROHMER, Éric. Le Goût de la beauté. Paris: Cahiers du Cinéma, 2020. 3 ed.
    ______. Le celluloïd et le marbre: II – Le siècle des Peintres. Cahiers du Cinéma, Paris, n° 49, p. 10-15, jul., 1955.