Ficha do Proponente
Proponente
- Lucca Nicoleli Adrião (UFPE)
Minicurrículo
- Lucca Nicoleli Adrião é graduado em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Atualmente, é mestrando no Programa de Pós Gruadação em Comunicação da mesma instituição (PPGCOM-UFPE), com a pesquisa “Em defesa do artífice: práticas artesanais no cinema de vanguarda americano”.
Ficha do Trabalho
Título
- O vestígio em um traçado: o “desenho” em Jonas Mekas
Seminário
- Cinema experimental: histórias, teorias e poéticas
Formato
- Presencial
Resumo
- Propõe-se averiguar a pertinência de uma noção de “desenho” na discussão do cinema de Jonas Mekas. Sustentando a ideia de que seus filmes-diário atuam como suporte de reserva para a memória do próprio gesto produtivo da mão do artista com a sua câmera, vislumbra-se identificar onde se situam as marcas de produção artística no corpo dessa obra, como também enquadrar a prática de Mekas enquanto uma manufatura artesanal de imagens.
Resumo expandido
- No projeto diarístico de Jonas Mekas, a película guarda a memória de um longo curso de experiências na vida de um homem, o que abrange sua chegada à Nova Iorque de seu exílio até o cotidiano de sua velhice. O corpo dessa cinematografia, que incorpora um paradoxo na coexistência de suas proporções épicas e da beleza banal dos registros, é um conjunto de objetos de grande valor para se pensar as relações do cinema com as lembranças, as subjetividades afetivas do autor em seu ofício e o processo de formação do tempo histórico. Esta proposta, contudo, afasta seu foco das preocupações ensaísticas e das “escritas de si”, pretendendo averiguar os filmes-diário de Mekas como suporte de reserva para outro tipo de memória: a memória do gesto produtivo da mão do cineasta com a câmera.
Sob um ponto de vista que privilegia a investigação de ordem formal e plástica, e situando a obra estudada em um campo modernista da produção cinematográfica, propõe-se discutir a pertinência de uma noção de “desenho” para descrever a manualidade percebida nos fragmentos cotidianos que compõem esses filmes. De início, por se tratar de uma captura mecânica dos indícios da realidade à sua frente, a atividade da câmera (e, por extensão, do seu operador) não comportaria a habilidade do desenho que é, em sua natureza, habilidade motora. Com o aporte teórico das aproximações do cinema com a pintura (AUMONT, 2004) e das elaborações conceituais já produzidas que viabilizaram o desenho como meio para pensar o cinema (ROHMER, 1977), vislumbra-se identificar, nos movimentos frenéticos e abstratos do manejo de Mekas com a câmera, uma espécie de traço que se forma no negativo sensível através desse tipo de trabalho manual; ou aquilo que Sérgio Ferro, ao falar das artes plásticas, chamou de marca: “na marca da produção há, apagada ou evidente, a memória do enfrentamento direto entre o gesto produtivo (utilize-se instrumentos simples ou máquinas) e o material que o recebe” (FERRO, 2015, p. 208).
Traçando um percurso que parte das filmagens presentes em Lost, Lost, Lost (retrato dos primeiros anos em Nova Iorque, o cineasta ainda pouco familiarizado com seu instrumento de realização, aproximando-se vagarosamente dele como se tratasse de um animal a ser domado; seus planos começam mais estáticos e vão ganhando autonomia de movimento no decorrer dos anos nele ilustrados); passa por Walden (primeiro filme-diário montado e finalizado, demarca uma ruptura não somente do trato unificador que será dado aos fragmentos, mas também com a técnica mais rudimentar com que ele operava a Bolex) e termina em As I Was Moving Ahead Occasionally I Saw Brief Glimpses of Beauty (culminação do seu testamento diarístico e filme em que, pode-se dizer, o operador se encontra com o maior domínio da máquina e em que o “desenho” melhor se materializa), o objetivo da apresentação está, especialmente, na defesa dos procedimentos de Mekas como manufatura artesanal de imagens – trabalho manual habilidoso que requer conhecimento e sensibilidade com materialidades específicas, nos termos de autores interessados nas implicações entre arte, sociedade e artesania, como Glenn Adamson (2019) e Richard Sennett (2009).
Bibliografia
- ADAMSON, Glenn. Thinking Through Craft. Bloomsbury Publishing, 2019.
BRUNO, Giuliana. Surface. Matters of Aesthetics, Materiality and Media. Chicago:
University of Chicago Press, 2014.
AUMONT, Jacques. O olho interminável [cinema e pintura]. São Paulo: Cosac & Naifa, 2004.
FERRO, Sérgio. Artes Plásticas e Trabalho Livre I: de Durer a Velasquez. São Paulo: Editora 34, 2015
FERRO, Sérgio. Artes Plásticas e Trabalho Livre II: de Manet ao Cubismo Analítico. São Paulo: Editora 34, 2015
MOURÃO, Patrícia (org.). Jonas Mekas. São Paulo: Pró-reitoria de cultura e extensão universitária da USP, 2013
ROHMER, Éric. L’organisation de l’espace dans le «Faust» de Murnau. Paris: Union Générale d’Éditions, 1977.
SENNETT, Richard. O Artífice. Rio de Janeiro: Record, 2009.
SITNEY, P. Adams. Visionary film: the American avant-garde, 1943-2000. New York: Oxford University Press, 2002.
SITNEY, P. Adams. Visionary film: the American avant-garde, 1943-2000. New York: Oxford University Press, 2002.