Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Luiza Rossi Campos (UnB)

Minicurrículo

    Luiza Rossi Campos é doutoranda em Comunicação e Sociedade pela Universidade de Brasília (PPGCOM/FAC/UnB) na linha de Poder e Processos Comunicacionais, pesquisando festivais de cinema como instrumentos voltados à educação e cultura em direitos humanos. Formada mestra (2022) pela Faculdade de Comunicação da UnB com pesquisa sobre a Mostra Cinema e Direitos Humanos, é bacharela em Cinema e Mídias Digitais (Centro Universitário IESB, 2018) e em Ciências Sociais (UnB, 2013).

Ficha do Trabalho

Título

    Perfil da direção brasileira na Mostra Cinema e Direitos Humanos

Seminário

    Festivais e mostras de cinema e audiovisual

Formato

    Presencial

Resumo

    Este estudo analisa e compara os perfis de direção cinematográfica do cinema brasileiro e da filmografia nacional selecionada pela Mostra Cinema e Direitos Humanos. Objetiva-se compreender em que medida a Mostra promove direitos humanos: se especificamente através das narrativas dos filmes selecionados ou se também reconhecendo a direção enquanto um espaço de representatividade, entendendo o filme como discurso (FOUCAULT, 1999) e a direção cinematográfica como um lugar de fala (RIBEIRO, 2020).

Resumo expandido

    Este estudo empreende uma análisee da Mostra Cinema e Direitos Humanos enquanto instrumento de ação pública (LASCOUMES; LE GALÈS, 2012), inserida no contexto das políticas públicas de educação e cultura em direitos humanos e preconizada no Programa Nacional de Direitos Humanos-3 (PNDH-3, 2010). Objetiva-se compreender se a Mostra promove direitos humanos especificamente por meio das narrativas dos filmes selecionados ou se também o faz através da inclusão de pessoas diretoras pertencentes a grupos historicamente silenciados na sociedade brasileira, como mulheres, negros e indígenas, no conjunto da direção selecionada, entendendo o filme enquanto um espaço de produção de discursos (FOUCAULT, 1999) e a direção cinematográfica enquanto um lugar de fala (RIBEIRO, 2020). Propõe-se, para esse fim, observar o conjunto de filmes brasileiros selecionados pela Mostra Cinema e Direitos Humanos de 2006 a 2021 (doze edições), buscando compreender em que medida o perfil da direção cinematográfica espelha ou rejeita o perfil de concentração da indústria cinematográfica nacional indicada através de estudos do Observaório do Cinema e do Audiovisual (OCA/Ancine) e do Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (GEMAA/UERJ).

    Realizou-se, para tal, levantamento e categorização da filmografia nacional selecionada ao longo das doze edições da Mostra até então executadas, obtida através de seus catálogos oficiais, abarcando 320 filmes brasileiros dirigidos por 322 sujeitos diretores, entre pessoas e coletivos. Através da aplicação de um questionário eletrônico a essas pessoas diretoras, produziram-se dados primários acerca de sua autoidentificação de gênero, raça, orientação sexual, transexualidade/cisgeneridade, escolaridade e renda, permitindo não apenas a construção de um perfil da direção dos filmes brasileiros da Mostra, mas também sua comparação a dados nacionais de direção cinematográfica e audiovisual.

    O referencial teórico que sustenta a análise ora apresentada é fundamentalmente interdisciplinar, compreendendo estudos da sociologia da ação pública, em especial a abordagem tecnopolítica de inovações democráticas (FREITAS; SAMPAIO; AVELINO, 2020); da educação e cultura em direitos humanos (CARBONARI, 2007; TASCÓN, 2015); do discurso como expressão do poder (FOUCAULT, 1999; RIBEIRO, 2020; AUGUSTO, 2018) e do filme como discurso (GOLIOT-LETÉ; VANOYE, 2012; NICHOLS, 2005; TASCÓN, 2015; MIGLIORIN, 2015); além do entendimento sociológico que compreende a esfera da comunicação como um espaço social de disputa de narrativas da realidade e negociação de valores da e na mentalidade coletiva (CASTELLS, 2007, 2015; THOMPSON, 2005).

    A partir dos dados coletados, observou-se que conquanto a Mostra apresente índices menores de concentração da direção cinematográfica e audiovisual do que o mercado nacional, essa representatividade se apresenta ainda muito aquém de uma equiparação. Esse desequilíbrio é ainda mais gritante quando se realiza a intersecção de indicadores sociais e se analisa a presença da mulher negra na direção, esse sujeito social que Grada Kilomba caracteriza como “o outro do outro” (2019) e que se mostra profundamente alijada da função da direção audiovisual tanto no mercado brasileiro em geral quanto no festival em questão. A soma da direção de homens e mulheres indígenas é ainda ligeiramente menor (10) que a quantidade de diretoras mulheres negras (11), enquanto o recorte da mulher indígena encontra apenas uma diretora entre os 322 sujeitos diretores das obras nacionais.

    Este trabalho visa a contribuir para as pesquisas e debates em torno da convergência entre audiovisual, direitos humanos e políticas públicas ao mesmo tempo em que apresenta um novo conjunto de dados passível de ser apropriado por outras pessoas pesquisadoras para a produção de conhecimento neste campo.

Bibliografia

    AUGUSTO, H. Passado, presente e futuro: cinema, cinema negro e curta-metragem. In: 20º FESTCURTASBH. Ana Siqueira et.al. (orgs.), p. 149-153. BH: Fundação Clóvis Salgado, 2018.
    BRASIL. ANCINE. Participação feminina na produção audiovisual brasileira 2018. OCA/Ancine, Superintendência de Análise de Mercado (SAM).
    _____. Diversidade de Gênero e Raça nos Longas-metragens Brasileiros Lançados em Salas de Exibição 2016. OCA/SAM/Ancine, 2018.
    _____. Listagem de Filmes Brasileiros com mais de 500.000 Espectadores 1970 a 2019. OCA/SAM/Ancine, 2019.
    CASTELLS, Manuel. O Poder da Comunicação. RJ: Paz e Terra, 2015.
    RIBEIRO, Djamila. Lugar de fala. SP: Sueli Carneiro; Editora Jandaíra, 2020.
    TASCÓN, S. Human Rights Film Festivals: activism in context. Londres: Palgrave MacMillan, 2015.
    UERJ. GEMAA/IESP. Boletim GEMAA nº 2/2017 – Raça e gênero no cinema brasileiro: 1970-2016.