Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Manoel Adriano Magalhães Neto (USP)

Minicurrículo

    Graduado em Comunicação Social pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Mestre em Música pelo PPGM-UFRJ na linha de Etnografia das Práticas Musicais. Doutorando em Música na USP na Escola de Comunicações e Artes (ECA). Atua como diretor de documentários, músico, compositor de trilhas sonoras e produtor musical. Dirigiu “Nada Pode Parar os Autoramas” (2020) e “Abreu/Prazeres” (2023), filmes que receberam destaque no festival In-Edit.

Ficha do Trabalho

Título

    Canto da Ceilândia: canções e paisagem nos filmes de Adirley Queirós

Seminário

    Estilo e som no audiovisual

Formato

    Presencial

Resumo

    Logo em seu primeiro curta, “Rap, o canto da Ceilândia”, o cineasta Adirley Queirós apresenta uma abordagem musical associada a questões como territorialidade e paisagem sonora a partir do ponto de vista de agente social no contexto da Ceilândia, no Distrito Federal. Estilo que foi consolidado nos anos seguintes em seus longa-metragens. Este trabalho objetiva analisar as canções e a paisagem sonora nos filmes de Adirley e como a construção de som do diretor articula uma narrativa local própria.

Resumo expandido

    Logo em seu primeiro curta-metragem, “Rap, o canto da Ceilândia” (2005), o cineasta Adirley Queirós apresenta uma abordagem musical associada a questões como territorialidade e paisagem sonora a partir de seu ponto de vista de agente social no contexto da região administrativa da Ceilândia, no Distrito Federal. Trabalho que foi consolidado nos anos seguintes em longa-metragens como “A cidade é uma só?” e “Branco sai, preto fica”, que apresentam a paisagem sonora da região e a profunda ligação do diretor com o repertório do rap produzido por artistas locais, além do reprocessamento de jingles políticos como mantras indissociáveis do ambiente urbano.

    O trabalho objetiva analisar as canções e a paisagem sonora nos filmes de Adirley e como a construção musical e de som do cineasta articulam uma representação local própria, a partir de processos de percepção e de memória na elaboração do espaço de uma Ceilândia particular. A partir desta perspectiva de análise, é possível pensar as escolhas do artista de recursos sonoros que reforçam uma visão do território que transita entre a demarcação de aspectos estéticos e antropológicos (a música que representa o canto de um lugar) e a imersão em processos de multiterritorialidades e apropriação de linguagens para o debate a respeito do ambiente político em que a Ceilândia está inserida no contexto brasileiro e mundial.

    Em “A cidade é uma só?”, por exemplo, Adirley utiliza o recurso de repetição presente nos jingles, que no filme servem de fator de integração entre as canções e a narrativa política, para recontar o processo de surgimento da Ceilândia por meio da Campanha de Erradicação de Invasões por parte do poder público, mas o diretor também retrabalha o recurso do tema musical publicitário como venda ao espectador de novas visões do mesmo espaço urbano, ressignificado-o com a possibilidade de atuação política dos moradores e da relação dos mesmos com a música produzida na comunidade.

    O cinema de Adirley Queirós trabalha a música e o som urbano da Ceilândia como parte fundamental da identidade do cineasta, que é indissociável da narrativa estabelecida por ele para expressar essa vivência ao público. Nas palavras do próprio Adirley, em entrevista concedida à Revista Negativo: “esses caras do rap são da minha geração, eles são meus amigos, e essa era a oportunidade que eu tinha para falar sobre eles. A gente se encontrava muito, a gente brigava muito, ia para os bailes… Eu circulava nesse ambiente e era muito amigo dos caras”. O rap é o canto do cineasta que transita pela Ceilândia e pode experienciar as demais intervenções do que se escuta no lugar.

    A agregação na linguagem cinematográfica de Adirley entre o uso do rap, como canto e trilha, e a paisagem sonora apresenta-se como mote para uma discussão aprofundada de todo o conjunto de sons que constroem uma narrativa local. Ela também emerge como perspectiva de atuação política por meio de escolhas artísticas. A análise deste processo de integração abre ainda a possibilidade de debater o som no cinema como mais um elemento essencial de visibilidade social e representação política das periferias.

Bibliografia

    GONÇALVES, Carlos Djalma. A construção do imaginário de periferia no cinema de Adirley Queirós. 2019. 244 f., il. Dissertação (Mestrado em Comunicação)—Universidade de Brasília, Brasília, 2019.

    MENA, Maurício Campos; REIS, Claudio; IMANISHI, Raquel. Entrevista Adirley Queirós. Revista Negativo, v. 1, n. 1, p. 16-69, 2015.

    SANTOS, Fátima Carneiro dos. Por uma escuta nômade: a música dos sons da rua. São Paulo: Educ: Fapesp, 2004.

    SERGL, M. J. A peça publicitária no contexto da paisagem sonora brasileira: dos primórdios ao “Pão Bragança”. In: Intercom–Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação V Congresso Nac. História da Mídia–junho, 2007.

    SILVA, Regina Helena Alves. Cartografias Urbanas: construindo uma metodologia de apreensão dos usos e apropriações dos espaços da cidade. Visões Urbanas, Cadernos PPG-AU/FAUFBA, v. 5, p. 1-18, 2008.

    TOFFOLO, Rael B. Gimenes, Luis Felipe Oliveira, Edson S. Zampronha. “Paisagem Sonora: uma proposta de análise.”, 2003.