Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Ana Paula Sousa (ESPM-SP)

Minicurrículo

    Autora do livro “O cinema que não se vê: a guerra política por trás da produção de filmes brasileiros no século XXI” (Editora Fino Traço), Ana Paula Sousa é jornalista, mestre em Indústrias Culturais e Criativas pelo King’s College e doutora em Sociologia da Cultura pela Unicamp. Dá aula no curso de cinema e audiovisual da ESPM-SP, coordena o Fórum Mostra Internacional de Cinema de S.Paulo e é editora de cultura da versão impressa da revista CartaCapital.

Ficha do Trabalho

Título

    As contradições do cinema brasileiro na luta por um maior market share

Seminário

    Políticas, economias e culturas do cinema e do audiovisual no Brasil.

Formato

    Presencial

Resumo

    Entre 2012 e 2022, em apenas três anos (2013, 2016 e 2020) o cinema brasileiro rompeu a barreira dos 15% de market share. O que há de comum nesses anos é a presença, no circuito exibidor, dos três “Minha mãe é uma peça”. A partir do estudo da distribuição da franquia, este trabalho analisará a atuação do consórcio Downtown-Paris no mercado; o papel da métrica do market share na estruturação das políticas públicas; e as possibilidades de enfrentamento da hegemonia hollywoodiana na era digital.

Resumo expandido

    A participação de mercado dos filmes nacionais nas salas de cinemas foi, ao longo das últimas décadas, um dado importante para as políticas cinematográficas ao redor do mundo. O fato de a França ter um market share que varia, em geral, de 35% a 40% e de os filmes sul-coreanos venderem mais de metade dos ingressos do país são comumente apontados como indicadores da força dessas cinematografias.

    No caso do Brasil, o aumento do market share dos filmes aqui produzidos era apontado como um objetivo do fomento público desde a criação da Agência Nacional do Cinema (Ancine), em 2001. No Plano de Diretrizes e Metas publicado em 2013, a Ancine vislumbrava, para 2020, uma participação de mercado de 32,7%.

    A realidade foi, no entanto, bem diferente. A média do market share das produções brasileiras foi, em média, de 13% nos anos 2010 e, após a pandemia, despencou para os níveis anteriores à criação da Ancine, ficando em 1,7% em 2021 e em 4,7% em 2022.

    Esse baixo percentual, é importante que se diga, não decorre da falta de produções, e sim com a dificuldade enfrentada pelos longas-metragens no mercado de exibição que, como se sabe, foi formatado para receber o cinema hollywoodiano e é altamente concentrado em meia dúzia de blockbusters.

    A partir da exposição desse cenário, conhecido por todos que se debruçam sobre o mercado de cinema brasileiro, este trabalho se propõe a analisar os momentos nos quais o País, na última década, ultrapassou o market share de 15% – teto de participação dos cinemas locais historicamente aceito como “razoável” pelas majors hollywoodianas.

    Isso aconteceu apenas em 2013, 2016 e 2020. Esses três anos tiveram a presença, no circuito exibidor, de um título comum: a franquia “Minha mãe é uma peça”, cujas produções fizeram 4,5 milhões (2013), 8,8 milhões (2016) e 11,5 milhões (2020) de espectadores.

    A partir do estudo de caso da distribuição da franquia, este trabalho procurará refletir sobre a atuação do consórcio Downtown-Paris, absolutamente dominante no mercado de distribuição de filmes brasileiros; o papel da métrica do market share na estruturação das políticas públicas; e as possibilidades de enfrentamento da hegemonia hollywoodiana na era digital.

    Acredito que o olhar acadêmico sobre o percurso dos títulos “Minha mãe é uma peça”, “Minha mãe é uma peça 2” e “Minha mãe é uma peça 3” contribuirá não apenas para o aprofundamento da questão do market share, como me permitirá roçar a problemática do lugar do “filme de público” na estruturação das políticas públicas para o audiovisual, compreendendo melhor, inclusive, o papel do Art. 3º da Lei do Audiovisual para as produções que têm, como objetivo principal, a venda de ingressos.

    Em um momento de reconfiguração do mercado de cinema, a partir da consolidação das plataformas de streaming, e de um novo desenho das políticas públicas – que passam a espelhar as políticas identitárias e democratizantes defendidas pelo governo Lula –, acredito ser salutar olhar para esse passado recente também sob a ótica do ideal da “conquista de mercado”, hoje abrigado sob o manto das “indústrias criativas”.

Bibliografia

    AUTRAN, Arthur. O pensamento industrial cinematográfico brasileiro. S.Paulo: Hucitec, 2013.
    BUTCHER, P. Hollywood e o mercado de cinema brasileiro: princípios de uma hegemonia. 2019. Tese de Doutorado. UFF, Niterói, 2019.
    CHALUPE DA SILVA, Hadija. O filme nas telas – a distribuição do cinema nacional. S.Paulo: Terceiro Nome; Ecofalante, 2010.
    CRETON, Laurent. Économie du cinéma: perspectives stratégiques. Paris: Armand Colin, 2005.
    GOMES, Paulo Emílio Salles. Uma situação colonial? São Paulo: Companhia das Letras, 2016.
    IKEDA, Marcelo. Cinema brasileiro a partir da retomada: aspectos econômicos e políticos. São Paulo: Summus, 2015.
    PUTTNAN, David. Introduction. In: PUTTNAN, David. The undeclared war. Londres: HarperCollins, 1997, p. 3-8.
    SCHVARZMAN, Sheila. “O cinema contemporâneo brasileiro de grande público”. In: RAMOS, Fernão e SCHVARZMAN, Sheila (orgs.). Nova história do cinema brasileiro, Vol. 2. São Paulo: Edições Sesc (2018)