Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Giancarlo Casellato Gozzi (ECA-USP)

Minicurrículo

    Doutorando no Departamento de Cinema, Rádio e Televisão da ECA-USP, com mestrado na mesma instituição (2018). Com graduação em Ciências Sociais pela FFLCH-USP (2016), teve passagens ao longo da pós-graduação na School of the Arts, Columbia University (2018), e mais recentemente em Birkbeck, University of London (2022-23). Pesquisa a relação entre narrativas seriadas e estruturas melodramáticas em produtos televisivos contemporâneos e a história da Televisão em geral.

Ficha do Trabalho

Título

    A História na Telinha: Mad Men e o meio televisivo

Mesa

    Televisão e mediação nacional e transnacional: estudos de caso

Formato

    Presencial

Resumo

    Esta apresentação analisará o papel que o meio televisivo desempenha em Mad Men (2007-2015), sua presença onipresente no mobiliário doméstico, enquanto tema de tramas ao longo das temporadas, e seu papel mediador entre os personagens fictícios da série e os eventos históricos reais que eles assistem pelo televisor, procurando entender o quanto essa presença da televisão dentro da diegese da série cria uma autorreferencialidade entre o passado retratado pela série e o presente de sua exibição.

Resumo expandido

    Mad Men, série americana que foi ao ar entre 2007 e 2015 e continua a reverberar pelo mundo do streaming, traz o meio televisivo para primeiro plano. Uma série que gira em torno da vida de publicitários e suas famílias na Nova York dos anos 1960, ela retrata por meio de suas tramas a centralidade que o aparelho televisor ganha nas casas americanas na década, na medida em que povoa todos os ambientes domésticos retratados, o ponto focal do mobiliário interno das famílias. A televisão também ganha nesse momento um papel mediador entre indivíduos e eventos históricos, retratados na série na medida em que os personagens grudam na telinha para assisti-los: desde a eleição de John F. Kennedy na primeira temporada, seu assassinato na terceira, o assassinato de Martin Luther King e a Convenção Democrática de 1968 na sexta temporada, até a chegada do homem à Lua na sétima temporada (talvez o primeiro evento televisivo “global” da história).
    Se Mad Men destaca o papel da televisão na sociedade americana na metade do século passado, dando verossimilhança à sua trama, essa centralidade do meio televisivo traz uma autorreferencialidade à série, na medida em que ela também fala sobre o desenvolvimento do próprio meio no qual ela vai ao ar. Retratar o meio publicitário nos anos 1960 é também falar sobre o desenvolvimento da televisão nos Estados Unidos, na medida em que publicidade e televisão eram indissociáveis: programas televisivos eram financiados tanto pela venda de espaços publicitários a anunciantes quanto pelo patrocínio de algumas marcas a certos programas, muitas vezes criados para melhor anunciar essas mesmas marcas. Essa relação é destacada pela série, que retrata tanto a criação de departamentos próprios para televisão nas agências publicitárias quanto a produção de programas televisivos para atender aos interesses de marcas e produtos.
    Mas ao mesmo tempo em que está retratando a história da televisão americana nos anos 1960, no momento em que o modelo inicial de produção televisiva está dando espaço para um novo modelo, que combina maior possibilidade de troca de canal pelos espectadores e maior ênfase em séries criadas por produtores independentes, Mad Men está em si fazendo história televisiva no presente de sua exibição. Ela mostra a força que séries televisivas a partir do início do século XXI possuem ao, por exemplo, conseguir usar uma música dos Beatles na quinta temporada, no mesmo episódio em que personagens repetidamente falam sobre o quanto uma música da banda seria “impossível de conseguir” para um comercial. Se a série retrata um momento da história da televisão, ela também deixa claro a sua própria posição nessa história, a diferença entre o que retrata diegeticamente e seu próprio lugar na cultura americana.
    Mad Men também se encontra em uma encruzilhada na história da televisão: começando em 2007, no auge do modelo de produção da televisão a cabo americana, marcado por uma infinidade de canais e uma disputa entre eles por uma audiência aculturada e endinheirada, e terminando em 2015, momento em que as plataformas de streaming começam a realmente ganhar fôlego ao redor do globo, a série se aproxima de uma homenagem a uma era que terminava junto com ela, uma homenagem a um momento único de produção televisiva que não se repetiria mais. Dessa forma, esta apresentação tem como objetivo analisar o papel que o meio televisivo ganha em Mad Men, seu papel mediador entre personagens ficcionais e eventos históricos, seu lugar no ambiente doméstico dos Estados Unidos dos anos 1960, e a relação autorreflexiva da série com seu próprio meio, representando diegeticamente a história da televisão e se inscrevendo nessa mesma história.

Bibliografia

    BAUGHMAN, James L. Same Time, Same Station: Creating American Television, 1948-1961. Baltimore: The John Hopkins University Press, 2007.

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    ELLIS, John. Seeing Things: Television in the Age of Uncertainty. Londres: Bloomsbury Academic, 2000.

    LOTZ, Amanda. The Television Will Be Revolutionized. Nova York: NYU Press, 2014.

    MCNALLY, Karen et al. The Legacy of Mad Men: Cultural History, Intermediality and American Television. Londres: Palgrave Macmillan, 2019.

    SPIGEL, Lynn. Make Room for TV: Television and the Family Ideal in Postwar America. Chicago: University of Chicago Press, 1992.

    STURKEN, Marita. Tangled Memories: The Vietnam War, the AIDS Epidemic, and the Politics of Remembering. Berkeley: University of California Press, 1997.