Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Marcos Buccini Pio Ribeiro (UFPE)

Minicurrículo

    Marcos Buccini é realizador e pesquisador na área de animação desde 2002. Doutor em Comunicação pela UFPE. De 2008 a 2019, atuou como professor efetivo do Núcleo de Design da UFPE, coordenando o Maquinário – Laboratório de Animação. Hoje ministra disciplinas de animação no Curso de Cinema, na mesma instituição. Pesquisa História da animação brasileira e pernambucana. Publicou diversos artigos e capítulos de livros sobre o tema. Em 2017, lançou o livro História da Animação em Pernambuco.

Ficha do Trabalho

Título

    Panorama histórico dos 50 anos da animação em Pernambuco

Seminário

    Cinema no Brasil: a história, a escrita da história e as estratégias de sobrevivência

Formato

    Presencial

Resumo

    O presente trabalho descreve a evolução dos primeiros 50 anos da animação em Pernambuco, com foco nos fatores tecnológicos e mercadológicos desta produção. Descreve-se o papel da tecnologia do Ciclo do Super-8, passando pelo vídeo analógico, até chegar a tecnologia digital. No aspecto mercadológico, aborda-se as iniciativas que formaram os primeiros profissionais e as circunstâncias de realização de filmes e séries, que ajudaram a tornar Pernambuco um grande polo de produção de animação no país.

Resumo expandido

    Em 1972, Lula Gonzaga produz o primeiro filme animado de Pernambuco, Vendo/Ouvindo. A obra fez parte do Ciclo do Super-8 do Recife, que durante uma década produziu as primeiras 13 animações do estado. Estas obras tinham em comum o caráter experimental e despretensioso. Lula foi o único dos realizadores que continuou na animação. Em 1979, realiza em 35 mm A Saga da Asa Branca, que por muito tempo foi considerada uma das principais animações nordestinas. Em 1980, lança seu último filme autoral, Cotidiano (1980). Depois, dedica-se a um projeto de oficinas itinerantes de animação artesanal.

    Durante as décadas de 1980 e 1990, a produção animada de Pernambuco vive um hiato ocasionado por uma questão tecnológica. Como o vídeo analógico, que substitui o Super-8, não permitia a captura quadro-a-quadro, o ato de animar tornava-se muito difícil. Porém, foi nessa época que a artista plástica Patrícia Alves Dias vai para o Rio de Janeiro participar de um curso promovido pelo Centro Técnico Audiovisual em parceria com National Film Board do Canada. Lá realiza Presepe (1986), a primeira animação dirigida por uma pernambucana. Patrícia ainda lança um stop motion, O Pavão Misterioso (1988), em parceria com uma produtora de Olinda, mas continuou sua carreira no Rio de Janeiro.

    Na década de 1990, uma oficina de Lula Gonzaga, realizada com o patrocínio da UNICEF, deu origem a primeira geração de animadores do estado. Muito se deve a popularização dos computadores. Visto que vários alunos já tinham algum conhecimento de softwares de animação, Lula deu a eles a parte teórica e o incentivo para produzir seus filmes. Outro fator fundamental foi a demanda por animadores em empresas que trabalhavam com multimídia. No início dos anos 2000, os ex-alunos de Lula criaram a primeira produtora de animação do estado, a Quadro a Quadro. A tecnologia digital também fez surgir uma leva de animadores autodidatas, que começaram a produzir de forma amadora alguns curtas-metragens.

    A produção, que antes era esporádica, começa a ficar regular depois de 2004. Em 2005, acontece um boom e 14 animações são produzidas. Desde então, Pernambuco mantem uma média de 20 filmes por ano. Ainda em 2005, a Faculdade AESO criou um Núcleo de Animação. Em um cenário no qual ainda não se tinha uma presença forte do estado, a AESO montou um estúdio com estrutura e mão de obra. A consequência foi a produção de filmes com uma qualidade muito alta que colocou Pernambuco nos principais festivais do país. Em 2008, a AESO lança um bacharelado em Animação, responsável pelo surgimento de uma nova geração de animadores. Agora, com uma formação mais profissional e uma visão de mercado.

    O surgimento de um mercado de trabalho foi facilitado pelo edital estadual do Funcultura. A primeira animação produzida com este recurso foi Até o Sol Raiá (2007). Nos anos seguintes, 24 filmes foram realizados com o financiamento do edital. Com a Lei da TV paga e com editais estaduais e nacionais, na década de 2010, surgem diversas produtoras com foco na produção de séries. A maior delas é a Viu Cine, que conta com um número grande de animadores e produtos. Porém, o principal caso de sucesso foi o Mundo Bita, produzida pela Mr. Plot.

    A animação pernambucana conseguiu romper as barreiras de uma produção periférica. Ela começou experimental em um suporte amador, cresceu, amadureceu, passou por dificuldades, fortaleceu-se e estruturou-se em uma base sólida. Em 2022, a animação pernambucana completa meio século de existência com mais de 350 curtas produzidos, 14 séries para TV e pelo menos 5 produtoras em atividade. No mesmo ano, a Viu Cine lançou o primeiro longa do estado, Além da Lenda. Mais três longas já estão em diferentes estágios de produção.

    Por fim, destaco que em 2023, 51 anos depois de dar início à animação do estado, Lula Gonzaga, em parceria com seu filho Tiago Delácio, lançou Ciranda Feiticeira, seu mais novo filme. Podemos então dizer que o futuro da animação pernambucana está só começando.

Bibliografia

    AQUINO, Amanda. Produção de séries de animação 2D em Pernambuco: um estudo de caso da Viu Cine. Dissertação (Mestrado em Design) – Centro de Artes e Comunicação, Universidade Federal de Pernambuco. Pernambuco, 2019.

    BUCCINI, Marcos. História do Cinema de Animação em Pernambuco. Pernambuco: Serifa Fina, 2017.

    COSTA, Tiago. Animação seriada pernambucana: história, financiamento e distribuição. 2022. Trabalho de Conclusão de Curso (Cinema e Audiovisual) – Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2022.

    FIGUEIRÔA, Alexandre. O cinema Super-8 em Pernambuco: do lazer doméstico à resistência cultural. Recife: FUDARPE, 1994.

    MIRANDA, G. S.; CÂNDIDO, S. S. A cronologia da animação seriada em Pernambuco. Monografia (Graduação em Rádio & TV) – Centro Universitário dos Guararapes. Pernambuco, 2020.

    QUARESMA, Christiane. O Cinema de Animação Durante o Ciclo de Super-8 do Recife. Monografia de conclusão do curso de Design. Departamento de Design. Universidade Federal de Pernambuco, 2013.