Ficha do Proponente
Proponente
- Adriana Mabel Fresquet (CINEAD/UFRJ)
Minicurrículo
- Profa. Associada da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Coordena o Grupo CINEAD, desenvolvendo ações com foco nas políticas e pedagogias do audiovisual e das mídias digitais na Educação Básica. Participou da equipe fundadora da REDE KINO: Rede Latino-Americana de Educação, Cinema e Audiovisual e do GT CINEMA na ESCOLA que elaborou a proposta de regulamentação da Lei 13006/14. Idealizou a Coleção Cinemas e Educações e coordenou o GT de Formação do Fórum Tiradentes.
Ficha do Trabalho
Título
- CINEMA NA ESCOLA EM TEMPOS DE EDUCAÇÃO DIGITAL.
Mesa
- NOSotras: políticas e pedagogias vizinhas dos cinemas nas escolas
Formato
- Presencial
Resumo
- Em tempos de Educação Digital (Lei 14355/23) ver, produzir e compartilhar audiovisual é uma prática habitual que nem sempre é segura, crítica e criativa. A precariedade da Lei Geral de Proteção de Dados, (13907/18), nos deixa expostos como indivíduos e sem soberania digital. O cinema pode entrar na escola (Lei 13006/14) descontinuando o capitalismo da vigilância e da informação, garantindo espaços e tempos para o encontro analógico e digital entre pessoas, artes e saberes.
Resumo expandido
- Paulo Freire há mais de quarenta anos, surpreendido com a TV e com o poder dos chamados mass midia, publicou o livro Educar com a Mídia. Ele afirma que uma das coisas mais lastimáveis é o ser humano não pertencer ao seu tempo, se tornar um exilado do seu tempo. Isso significava também um chamado de atenção para pensar quem tem o poder sobre os meios de produção e todos os riscos de constituir uma rede monopolista com poder de manipulação da sociedade. (FREIRE, 2021).
O pedagogo pernambucano antecipa as questões do capitalismo da vigilância e da informação de pesquisas recentes que revelam que em 2021, por exemplo, em um segundo, mais de um milhão de minutos de vídeo eram transmitidos por streaming ou download na internet, isto significa um tráfego de vídeos na internet superior ao 82% do seu conteúdo. E na atualidade, se por um lado, ver, produzir e compartilhar audiovisual por parte de jovens e crianças é uma prática habitual nem sempre segura, crítica e criativa; por outro, a história nos mostra que o cinema é uma arte que tem um potencial educativo imenso. Para além de toda crítica funcionalista dos “usos pedagógicos” dos filmes, é inegável sua potência para uma formação sensível e social das inteligências. E neste tempo de progressiva audiovisualização da vida e plataformização da educação, Brasil sanciona a Lei 14355/23, que instaura o Plano Nacional de Educação Digital. Urge, assim, mais do que nunca, pensar e propor critérios curatoriais que orientem docentes e discentes a respeito da qualidade do conteúdo audiovisual acessível na internet, assim como introduzir referências de linguagem e história do cinema visando qualificar a produção audiovisual em espaços educativos. A inteligência artificial, por sua vez, se adentra para os espaços educativos e para os lares a uma velocidade incrível gerando contraditórios sentimentos de ajuda, desconfiança e perda do controle. Ainda, o cinema pode entrar na escola (Lei 13006/14) abrindo possibilidades de descontinuidade do capitalismo da vigilância e da informação, garantindo espaços e tempos para o encontro analógico e digital entre pessoas, artes e saberes. Porém, a precariedade da Lei Geral de Proteção de Dados, (13907/18), nos deixa expostos a uma inescrupulosa manipulação de comportamentos, racismo algorítmico e ficamos desprotegidos como indivíduos e como sociedade. Se o estado não fortalecer políticas de proteção passaremos da utopia da educação digital ao que o ativista Fifo Berardi chamava de “distopia virtual definitiva”. A distopia da submissão do humano a uma cadeia de automatismos técnicos, que já produz fundamentalismos religiosos, xenofobia e protofascismos, definindo a neocolonialidade que nasce das feridas mal cicatrizadas do seu passado colonial. Essa apocalipse ou distopia que estamos vivendo, um “telos” do tecnocapitalismo, resulta da monotecnologia, que para Hui (2022) é um modo de nos relacionar com a técnica imposto na modernidade, quando a técnica se afastou da realidade para cobrar uma autonomia própria, com um olhar universalizante e colonizador desde ocidente. Para o filósofo chinês, a globalização foi um processo de colonização e sincronização tecnológica que convergia diferentes temporalidades históricas num único eixo definido pela sequência: pré-modernidade–modernidade–pós-modernidade–apocalipse. Nessa concepção, é preciso resistir e fragmentar ou bifurcar o futuro passando da episteme moderna vigente para uma episteme com uma lógica recursiva, capaz de se autorregular pelos atravessamentos das contingências. Poderá o cinema, como contingência na recursividade escolar, criar novas sensibilidades, articulando experiências estéticas e intuições racionais com o propósito de insurgir uma revolução epistêmica da arte? Promover, ainda, uma educação sensível para nos relacionar com o conhecimento e com o desconhecido fugindo de operações de datificação, computáveis e calculáveis, que garantam tempos escolares para o analógico e o digital? (CRARY, 2023)
Bibliografia
- BUCKINGHAM, David. Manifesto pela Educação Mediática. São Paulo: SESC, 2022.
CRARY, Jonathan. Terra Arrasada. Além da era digital. São Paulo: UBU, 2023.
FREIRE, Paulo; GUIMARÃES, Sérgio. Educar com a mídia: novos diálogos sobre educação. São Paulo: Paz e Terra, 2021.
HUI, Yuk. Art and Cosmothenics. Minneapolis: Minnesota University Press, 2021.
ZUBOFF, Shoshana. A era do capitalismo de vigilância: a luta por um futuro humano na nova fronteira do poder. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2020.