Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Carolina Ribeiro Rodrigues (UFF)

Minicurrículo

    Mestranda pelo Programa de Pós Graduação em Cinema e Audiovisual da Universidade Federal Fluminense (UFF), no Rio de Janeiro. Possui especialização em Cinema Documentário pela Fundação Getúlio Vargas, cursou Montagem pela Escola de Cinema Darcy Ribeiro e Licenciou-se em História da Arte pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Atua como montadora e pesquisa a relação do cinema e as artes visuais contemporâneas.

Ficha do Trabalho

Título

    A “cine-reciclagem” na obra de Agnès Varda

Formato

    Presencial

Resumo

    A “cine-reciclagem” é uma característica marcante da obra de Agnès Varda. Das películas fílmicas usadas em suas cabanas às imagens de batatas que voltam a aparecer em suas obras após “Os catadores e eu” até suas próprias sequências fílmicas que lhe servem de material bruto para novas construções: tudo em sua obra é digno de ser reciclado. A partir da análise da sua produção audiovisual e artística, este trabalho busca identificar os gestos e efeitos da “cine-reciclagem” nas obras de Varda.

Resumo expandido

    Uma característica marcante da obra de Agnès Varda é a revisitação de suas obras para criação de novos trabalhos. Esse gesto de reutilizar imagens, temas e, até mesmo, a própria película fílmica, que ela própria chamou de “cine-reciclagem”, é visto em diversas de suas criações artísticas. O presente trabalho busca identificar como Varda se aproveita de temas e imagens já “coletados” e trabalhados, além de buscar entender os efeitos que esse reaproveitamento causa em cada uma de suas formas de uso.

    Interessada nos novos meios tecnológicos disponíveis, em 2000, a cineasta realiza seu primeiro filme documentário digital, “Os Catadores e eu”. Abordando a temática do desperdício e do reaproveitamento, o filme apresenta diversas formas de catar (seja alimentos, objetos ou imagens) a partir do encontro desta cineasta com diferentes personagens, ao longo de uma viagem pela França. Em uma das cenas mais simbólicas do filme, Varda encontra batatas em forma de coração na pilha de toneladas de batatas dispensadas por produtores. Ela as filma de perto, leva algumas para casa, deixa-as envelhecer, brotar, encolher. E é a partir desta sequência que Varda, em um gesto semelhante ao próprio filme, recicla suas imagens para produzir a exposição “Patatutopia”, sua primeira experiência no campo do cinema expandido.

    Em “Patatutopia” (2003), Agnès apresenta, simultaneamente, em três telas, vídeos, de cerca de seis minutos e meio, com imagens de batatas de diversas formas, tamanhos e quantidades, projetados simultaneamente, em loop. A obra faz uma síntese de sua relação afetiva com o objeto exposto (as batatas), sua relação com a passagem do tempo sobre os corpos e a temática do desperdício de produtores, recapitulando passagens de seu filme documentário.

    Se em “Os Catadores e eu” a cineasta vai em busca de personagens que se aproveitam dos restos da colheita ou das sobras das feiras, em sua obra, Varda vai em busca de novas significações para as próprias criações, seja de imagens, temas ou a própria película fílmica, como é o caso de sua instalação “Minha cabana do fracasso”, parte da exposição “A Ilha e Ela” (2006). Nessa instalação, Agnès, utiliza-se da própria materialidade fílmica para criar uma nova obra. A partir de películas em p/b, de 35mm, de seu filme “As Criaturas” (1966), um fracasso comercial à época, Varda criou as paredes e o teto de sua instalação, fazendo, assim, sua própria cabana de reciclagem.

    Varda costumava chamar sua cabana de “Cabana do Fracasso” mas, segundo ela, como foi reciclada com muita alegria, ela passou a chamá-la de “Cabana do Cinema”, rejeitando a palavra fracasso e o próprio fracasso comercial do filme. Isso se deveu porque aquelas imagens, apesar de serem as próprias películas do filme, já não são mais o próprio filme, foram ressignificadas a partir da sua nova configuração. Dessa forma, a relação do espectador com as imagens gravadas em suas películas, a montagem da obra e o sentido dado a elas são reconstruídos em sua obra instalativa.

    Como podemos observar, então, todos os elementos presentes na obra de Varda podem ser reciclados, desde sequências audiovisuais, ideias e, até mesmo, o material físico dos filmes. Nessa “cine-reciclagem”, apesar de já apresentados anteriormente, esses elementos tomam novos significados, gerando trabalhos autênticos em forma, sentido e relação com o espectador.

Bibliografia

    BORGES, Cristian. Agnès e a ilha: o devir-plástica de uma artista. In: Catálogo da Retrospectiva Agnès Varda, o movimento perpétuo do olhar. RJ/SP: CCBB, 2006.

    DEROO, Rebecca J.. Between Film, Photography, and Art. Oakland, California: University of California Press, 2018.

    YAKHNI, Sarah. Cinensaios de Varda: o documentário como escrita para além de si. Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Artes, Campinas, SP, 2011