Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Eduardo Tulio Baggio (Unespar)

Minicurrículo

    Professor associado da Unespar (Universidade Estadual do Paraná). Colíder do grupo de pesquisa Cinecriare (Unespar/CNPq). Membro do GT Teoria dos Cineastas da AIM. Um dos organizadores dos livros Teoria dos Cineastas (Vols.1, 2 e 3), do livro Cineastas do Paraná: Primeiros Tempos e do livro Filmmakers on Film: Global Perspectives. Autor do livro Documentário: filmes para salas de cinema com janelas. Entre os filmes que dirigiu destacam-se João & Maria (2016) e A Alma do Gesto (2020).

Ficha do Trabalho

Título

    Processos de criação: materialidade, gestualidade e cinematografia

Seminário

    Estética e plasticidade da direção de fotografia

Formato

    Presencial

Resumo

    A partir do conceito de cineasta, que, para a Teoria de Cineastas, envolve não apenas diretores, mas todas as pessoas que desenvolvem papel criativo no fazer fílmico, a comunicação visa abordar possibilidades conceituais e metodológicas para o estudo de processos de criação no cinema, notadamente da cinematografia, tendo em conta a materialidade e a gestualidade da direção de fotografia. Trata-se, portanto, não de uma proposta de análise fílmica específica, mas de uma investigação conceitual.

Resumo expandido

    O conceito de cineasta que embasa esta proposta de comunicação vem sendo debatido em grupos de pesquisa, inclusive no âmbito da Socine, faz alguns anos e tem como base, especialmente, a Teoria de Cineastas, mas também aportes como o da Crítica de Processo e dos estudos sobre processos de criação em geral. Tal conceito, apesar de alguma proximidade, não se confunde com a noção de autor, amplamente debatida no campo do cinema, entre outras razões pela distinção quanto ao perfil de quem é entendido como cineasta, distinto do autor. A concepção de autor dá ênfase ao sentido unívoco vinculado à obra fílmica, como visto em afirmações tão antigas como a de Germaine Dulac, de 1921: “todo trabalho cinematográfico que tenha valor em sua sensibilidade e poder deve ser o resultado de uma única vontade.” (DULAC, 2018, position 475) (T. N.), ou na conhecida frase de Alexandre Astruc, em seu artigo de 1948: “O autor escreve com a câmera como o escritor escreve com a caneta.” (ASTRUC, 2012, p. 03); De outro lado, o conceito de cineasta toma as várias individualidades, em trabalho coletivo e dialógico, enquanto produtoras de uma polifonia que leva à obra fílmica, porque considera que cineastas são todas as “pessoas envolvidas na produção de um filme que tenham atividades criativas.” (BAGGIO, GRAÇA & PENAFRIA, 2015, p. 25).
    Desse modo, tomo cineasta enquanto, entre outras possibilidades, também a/o diretor/a de fotografia e proponho um debate sobre as possibilidades de compreensão conceitual e metodológica dos atos de criação da cinematografia em suas dimensões de materialidade e de gestualidade.
    A materialidade da Mídia e da Arte pode ser pensada a partir de princípios relacionados ao encontro com as obras, com aquilo que afeta nossos sentidos, ou seja, com aquilo que está presente em um peça de comunicação ou de arte e com a qual tomamos contato físico, seja por imagens, sons, tato etc. A materialidade está além e aquém da experiência (BROWN, 2010, p. 49), por isso é tão difícil considerá-la. Entretanto, seja na acepção da “materialidade da prática cultural”, ou da “materialidade dos materiais”, ou ainda da “materialidade da tecnologia” (CUCINOTTA & PIEROTTI, 2021, p. 104), os estudos sobre processos de criação no cinema têm se valido bastante dessas concepções de materialidade.
    Talvez a materialidade interesse aos estudos processuais por conta de seu potencial enquanto indício e de sua resistência: “O foco crítico na materialidade muitas vezes teve que resistir ao poder explicativo de formas, estruturas e sistemas, da mesma forma que a materialidade muitas vezes faz sentido como marca e medida de resistência (como aquela que resiste).” (BROWN, 2010, p. 59) (T. N.). Assim, materialidade nos permite realçar o encontro com as obras naquilo que estas têm enquanto existência e resistência.
    Mais especificamente no campo das Artes, a materialidade tem sido uma constante pelo seu valor de gerar reflexões sobre a concretude das obras e do fazer das obras: “A imaginação criativa levantaria hipóteses sobre certas configurações viáveis a determinada materialidade. Assim, o imaginar seria um pensar específico sobre um fazer concreto.” (OSTROWER, 2014, p. 32). Esse fazer envolve também, evidentemente, relações com os aparatos e com a gestualidade derivada das operações destes que reafirmam, em alguma medida, a materialidade: “O resultado do gesticular (edifício, discurso aritmético, poema etc.) poderia ser chamado ‘obra’ e ser considerado, pela teoria, gesto materializado.” (FLUSSER, 2014, p. 22)
    A partir dessas dimensões, da materialidade e da gestualidade, evitando a análise específica de um filme ou de um conjunto de filmes, proponho especular conceitualmente sobre as possibilidades de investigação sobre os processos de criação de cineastas diretores/as de fotografia.

Bibliografia

    ASTRUC, Alexandre. Nascimento de uma Nova Vanguarda: A Caméra-Stylo. Revista Foco, 2012.
    BAGGIO, Eduardo Tulio; GRAÇA, André Rui; PENAFRIA, Manuela. Teoria dos cineastas: uma abordagem para a teoria do cinema. Revista Científica / FAP, v. 12 (jan./jul., 2015). – Curitiba: FAP, 2015.
    BROWN, Bill. “Materiality”. In: MITCHELL, W.J.T. & HANSEN, Mark B.N. (eds.). Critical Terms for Media Studies. Chicago e Londres: The University of Chicago Press, 2010, p. 49-63.
    CUCINOTTA, Caterina & PIEROTTI, Federico. Analisar a Materialidade no Cinema Português: Estéticas e práticas. Aniki: Revista Portuguesa da Imagem em Movimento, v. 8, n. 2, p. 102-111, 2021.
    DULAC, Germaine. At D. W. Griffith’s (1921). In: Hillairet, P. (col.). Germaine Dulac: Writings On Cinema (1919-1937), Paris: Paris Expérimental, 2018.
    FLUSSER, Vilém. Gestos. São Paulo: Annablume, 2014.
    OSTROWER, Fayga. Criatividade e processos de criação. Petrópolis: Vozes, 2014.