Ficha do Proponente
Proponente
- Luísa Estanislau Soares de Alm (UNILA)
Minicurrículo
- Pesquisadora e curadora independente para projetos de arte, cultura e comportamento. Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Especialista em Estudos Brasileiros pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP) e Mestranda em História pela Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA) – com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). E-mail: luisa.estanislau@gmail.com
Ficha do Trabalho
Título
- O Nordeste através de ‘Faz que vai’ (2015) e ‘O caseiro’ (2016)
Formato
- Presencial
Resumo
- Este trabalho deseja refletir sobre representações contemporâneas do Nordeste a partir da análise de ‘Faz que vai’ (2015, 12’), de Bárbara Wagner e Benjamin de Burca, e ‘O caseiro’ (2016, 8’), de Jonathas de Andrade. Ele é parte da pesquisa de um mestrado em andamento, que investiga as representações da região em produções de artistas visuais que utilizam a linguagem audiovisual no contexto da arte contemporânea.
Resumo expandido
- O Nordeste brasileiro, uma das mais ricas e diversas regiões da América Latina, não existia, em texto ou imagem, nem seus habitantes eram alvos de discursos xenófobos até meados da década de 1910. A criação do Nordeste é a tese central do livro ‘A invenção do Nordeste e outras artes’, de Durval Muniz de Albuquerque Júnior, que propõe um deslocamento do Nordeste de si mesmo, a desidentificação com a memória regional e a recriação dessa memória. Segundo Albuquerque Júnior (1999), a produção artística em diversas linguagens, sob a liderança intelectual de Gilberto Freyre, autor de obras como o ‘Manifesto Regionalista’ (1926) e ‘Casa Grande e Senzala’ (1933), foi fundamental para a sedimentação do Nordeste a nível local e nacional: José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Cícero Dias, Lula Cardoso Ayres, Manuel Bandeira, Jorge de Lima, Ariano Suassuna, Luiz Gonzaga e Glauber Rocha são apenas alguns exemplos. Mesmo com características particulares, todos eles fundam e refundam estereótipos, imprimindo em imagens, textos e sons a idealização de um povo. Se “o Nordeste nasce onde se encontram poder e linguagem, onde se dá a produção imagética e textual da espacialização das relações de poder” (ALBUQUERQUE JR, 1999, p. 23), passado mais de um século da institucionalização da região, e quase trinta anos da defesa da tese de Albuquerque Júnior (1994), posteriormente adaptada para livro, cabe-nos perguntar: o que as produções artísticas contemporâneas têm a nos dizer sobre o Nordeste?
O presente texto faz parte da pesquisa de mestrado em andamento que investiga as representações da região em produções de artistas visuais que utilizam a linguagem audiovisual no contexto da arte contemporânea. Artistas da ou residentes na região e cujas obras foram lançadas entre 2003 e 2016, que corresponde ao período da história brasileira que se inicia com a posse de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência e se encerra com o golpe contra Dilma Rousseff. Precisamente, para esta apresentação, nos interessam duas obras localizadas nos últimos anos desse período: ‘Faz que vai’ (2015, 12 min), de Bárbara Wagner (Brasília, DF, 1980) e Benjamin de Burca (Munique, Alemanha, 1975), e ‘O caseiro’ (2016, 8 min), de Jonathas de Andrade (Maceió, AL, 1982).
‘Faz que vai’ é dividida em quatro cenas, onde, em cada uma delas, um personagem, ao som de uma composição percussiva de frevo, performa uma dança heterogênea, misturando frevo e outras danças, como funk, vogue e swingueira. A obra, que toma de empréstimo o nome de um passo de frevo que simula um momento de instabilidade, suscita reflexões sobre o sentido contemporâneo do que se apresenta como tradição, problematizando noções em torno de cultura popular, corpo, raça e gênero. ‘O caseiro’ propõe uma reencenação do ‘O Mestre de Apipucos’ (1959), de Joaquim Pedro de Andrade, documentário sobre a vida diária do sociólogo Gilberto Freyre. Na versão de Andrade, a tela é dividida e o Mestre compartilha a projeção com o personagem Caseiro, que habita os mesmos espaços da casa de Apipucos e expõe raízes classistas e racistas do pensamento de Freyre – que pretendemos abordar como provocações iniciais para aprofundamento posterior.
Servem como bases para a reflexão, entre outros, o pensamento de Ynaê Lopes dos Santos (2022), que faz uma leitura a contrapelo da história do Brasil a partir da perspectiva da violência (e não da harmonia racial articulada por Gilberto Freyre); e de Jota Mombaça (2021), que nos convida a pensar sobre o papel da arte contemporânea na exposição e politização das feridas coloniais.
Bibliografia
- ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. A invenção do Nordeste e outras artes. Recife: Editora Massangana; São Paulo: Cortez, 1999.
MOMBAÇA, Jota. Não vão nos matar agora. Rio de Janeiro: Editora Cobogó, 2021.
SANTOS, Ynaê Lopes dos. Racismo brasileiro: Uma história da formação do país. São Paulo: Todavia, 2022.