Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    MILENA SZAFIR (UFCE)

Minicurrículo

    Milena Szafir é doutora pela USP e membra do comitê científico na SOCINE. Realizadora audiovisual, autora de artigos e ensaios, organizou distintos dossiês na área de Artes e Comunicação, além de ter sido agraciada por prêmios ao longo de sua carreira como designer e artista. Desde 2013 é professora no Instituto de Cultura e Arte da Universidade Federal do Ceará, onde coordena o Projet’ares Audiovisuais (#ir! + #MESA media lab), www.projetares.art.br | Contato, email: profmilena@manifesto21.tv

Ficha do Trabalho

Título

    Polifonias na montagem: das artes audiovisuais em Israel

Mesa

    Gestos de Montagem nas Artes Audiovisuais

Formato

    Presencial

Resumo

    Calem as obras audiovisuais israelenses…? No momento em que subscrevo-me no XXVI Encontro SOCINE, quatro ou cinco situações perpassam a cultura de um pequeno país incrustado no Oriente Médio: (1)manifestações democráticas em frente à Knesset e além; (2)YomHashoá; (3)YomHazikaron; (4)YomHaatzmaut e, em 2023 ocorre mais outra lembrança, (5)os 75 anos da permissão ocidental à existência de um Estado Judeu no mapa mundi. Mas, qual a relação destas com a questão da montagem audiovisual nas artes?

Resumo expandido

    Calem as obras audiovisuais israelenses e pouco, ou nada, compreender-se-á sobre suas complexidades estéticas: “na melhor das hipóteses, a obra de arte surge através da montagem” (BENJAMIN apud SZAFIR, 2014).

    Esta apresentação faz parte de uma pesquisa marginal e tem como hipótese compreender aspectos da arte israelense frente às demandas em decolonialidade e o conceito de sul global ou, como “‘escovar a história a contrapelo’, concebendo-a do ponto de vista dos vencidos, em oposição à história oficial do ‘progresso'” (LOWY, 2011)? Amós Oz e Fania Oz-Salzberger (2015) reiteram que “a tomada judaica do tempo linear não é a marcha moderna da história. (…) A mente moderna ‘olha em frente’ ou ‘olha para frente'”, daí a ideia de progresso. Sabemos que o hebraico, como idioma, se escreve e se lê da direita para a esquerda: “Quando falamos hebraico, literalmente estamos postados no fluxo do tempo com as costas para o futuro e a face virada para o passado. Nossa própria postura é diferente da concepção ocidental de tempo. (…) A palavra hebraica kedem significa ‘tempos antigos’, mas seu derivado kadima significa ‘para frente’ ou ‘adiante’. O orador [em] hebraico literalmente olha adiante para o passado.” Pós “Angelus Novus”(KLEE apud BENJAMIN,[1940]1994), como se projeta (to design) em Israel?

    Desconsideremos, por hora, os filmes de Eytan Fox, constantemente sob os holofotes de censores, BDS, à existência soberana da cultura queer em Israel: “uma extensão da ocupação israelense e do homonacionalismo”(ZAHAVI,2021). Pinkwashing(s) à parte, também aqui deixaremos de tratar da videoarte de Yael Bartana e do found footage (live broadcasting database) de Eyal Sivan (SZAFIR,2013).

    Foquemos no cinema como design (MANOVICH,2007;2013; SZAFIR,2016a) e na polifonia de vozes da montagem israelense (SZAFIR, 2014). Esta segunda segue na mais recente obra de Amos Gitai (com adendo LGBTQIA+), “Laila in Haifa”(2020, לילה בחיפה). No título – em qualquer idioma que o mesmo seja traduzido – há um jogo de palavras que introduz a polifonia de idiomas: um convite à escuta, ao Outro. Em “Footnote”(2011, הערת שוליים), Joseph Cedar opera através de uma polifonia godardiana, com uma montagem visual tanto temporal quanto espacial, onde a escuta se faz necessária à composição das imagens e vice-versa. Os flashbacks são trabalhados ora como design em movimento ora em estética split screen (por exemplo, jogando com as lógicas cinematográficas entre plano e contraplano nos diálogos diegéticos). Tais analepses, como fenômenos de anacronia, são projetados como uma quebra da quarta parede e, em termos compositivos, a montagem torna-se design (SZAFIR,2018).

    A montagem sonora de “Footnote” inicia-se com um jogo de palavras que remete aos vocábulos “pai” (הוֹרֶה) e “professor” (מוֹרֶה). Em uma sequência seguinte, há breve discussão decolonial sobre a “aparência do judeu”, ironia? Como um diálogo com a montagem benjaminiana, ou warburganianamente (SZAFIR,2016), o filme convida-nos a articularmos “historicamente o passado [o que] não significa conhecê-lo ‘como ele de fato foi’. Significa apropriar-se de uma reminiscência, tal como ela relampeja no momento de um perigo. (…) O perigo ameaça tanto a existência da tradição como os que a recebem. (…) Em cada época, é preciso arrancar a tradição ao conformismo, que quer apoderar-se dela.” (BENJAMIN,1994). O filme termina com sequências de um intenso jogo de “live” letterings e montagens paralelas, concluindo na escuta de uma trilha sonora e voz over diegética que da Fortaleza[dele] (מְצוּדָה/מְצוּדָתו) a [a]Esperança (התקווה), trabalham a afecção do/a espectador/a a um tom benjaminiano, como um “dom de despertar no passado as centelhas da esperança”.

    No encontro apresentaremos os processos (SZAFIR,2016;2019; MANOVICH,2020) que nos levaram a estas e outras análises da arte contemporânea israelense desde sua montagem audiovisual que, desde Eisenstein, é concebida numa perspectiva transdisciplinar (DIDI-HUBERMAN,2019).

Bibliografia

    FOOTNOTE [Hearat Shulayim]. (2011;107min.) A:23/4/23
    NOITE EM HAIFA. (2020;99min.) A:23/4/23
    BENJAMIN,Obras Escolhidas. Brasiliense,1994.
    DIDI-HUBERMAN,Páthos e Práxis.Rev.Vazantes,2019.
    LÖWY,A contrapelo.Lutas Sociais, p.20-28, 2011.
    MANOVICH,Visualizing Vertov. Revista Vazantes, 2020.
    ÓZ,Os judeus e as palavras.Cia das Letras, 2015.
    QUINN,Pinkwashing Israel.A:23/4/23
    SZAFIR,Projet’aresAudiovisuaisv.5(montagem,sci-fi&motion graphics).SOCINE, 2016aA:23/4/23
    _.#streamengramas de uma revolução.2016b.
    _.Design (tele-)audiovisual. DOI:10.14591/aniki.v6n1.463 [2018]19.
    _.Da Retórica:Audiovisual.SZAFIR et.al.(org) Montagem audiovisual.SOCINE,2019
    _.E.I.T.A.:em busca do dia lindo.IN:Jo A-mi(org.) Arte e Decolonialidade (prelo, 2020).
    ZAHAVIPinkwashing the Occupation,2021 A:23/4