Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Julia Mariano de Lima Araújo (UFRJ)

Minicurrículo

    Mestranda na linha Tecnologia da Comunicação e Estéticas do PPGCOM ECO-UFRJ, bolsista da CAPES, possui graduação pela ECO-UFRJ (2006) e formação complementar em cinema, com especialização em direção de documentários no curso regular da EICTV, Cuba (2005) e na Baden-Württemberg Filmakademie, Alemanha (2007). Atua também como diretora, roteirista e produtora. Área de atuação: Comunicação, Cinema e Direitos Humanos, Cinema e Política, Material de Arquivo, Arquivo e Política.

Ficha do Trabalho

Título

    ARQUIVOS DA MULTIDÃO: AS IMAGENS DE 2013 COMO CONTRA-ARQUIVO

Formato

    Presencial

Resumo

    A internet tornou-se, ao mesmo tempo, lugar de arquivamento e de fluxo de comunicação/informação. Uma estranha combinação, que redimensiona o entendimento de arquivo, memória e história e nos provoca acerca das possibilidades narrativas dos acontecimentos históricos. A pesquisa se debruça sobre o material de arquivo das “Jornadas de Junho de 2013” disponível na internet, e propõe o conceito de “Arquivos da Multidão” para pensar essa heterogeneidade de olhares/imagens/registros acessíveis online.

Resumo expandido

    A presente proposta parte da pesquisa de mestrado “Arquivos da Multidão: as Imagens de Junho de 2013 como Contra-Arquivo” em curso atualmente no PPGCOM ECO-UFRJ, que analisa o material de arquivo das “Jornadas de Junho” pela perspectiva da multidão e seus múltiplos olhares. As “Jornadas de Junho” foram a expressão brasileira da onda de protestos mundial que se alastrou pelos continentes entre 2010 e 2013. Passados 10 anos, são muitas as perguntas que ainda se colocam sobre esse acontecimento. Marco histórico inegável, a onda de protestos desestruturou as forças políticas vigentes e, articulada às novas mídias sociais, promoveu uma ruptura político-comunicacional importante. A investigação se debruça sobre as imagens e sons dos protestos, sejam elas fotografias, capas de jornais e revistas, vídeos editados ou não, captados em distintos suportes (celulares, câmeras amadoras, profissionais, de segurança, etc), transmissões ao vivo, sons e as narrações dos registros disponíveis online pelas redes sociais. Este material de arquivo revela múltiplos pontos de vista possíveis deste acontecimento histórico e é essa heterogeneidade de olhares/imagens/registros que entendemos como “Arquivos da Multidão”. A proposta é refletir sobre tais Arquivos, a partir da catalogação, organização e análise dessas imagens e sons, bem como da investigação dos gestos de filmar e de montagem nos distintos materiais analisados. A internet e as mídias sociais, tornaram-se, ao mesmo tempo, lugar de arquivamento e de fluxo de comunicação/informação. Uma estranha combinação, que redimensiona o entendimento de arquivo, memória e história e nos provoca acerca das possibilidades narrativas das “Jornadas de Junho” de 2013. Nesse sentido, nos perguntamos se a organização, análise e montagem dos “Arquivos da Multidão” podem fazer emergir outras visibilidades e cognoscibilidades deste acontecimento. Nos interessa tirar a centralidade do fato em si e incluir a dimensão subjetiva e fragmentária do real, entendendo os “Arquivos da Multidão” enquanto guardião de “outros possíveis”, de outras perspectivas históricas. Seria sua constituição também um contra-arquivo? O conceito de contra-arquivo trabalha a idéia do que é visível e não visível na constituição dos arquivos oficiais e propõe pensar outras possibilidades de arquivamento, o que nos levanta as seguintes perguntas: quais os limites da internet enquanto lugar de contra-arquivo? Podemos afirmar que os “Arquivos da Multidão” instituem uma atividade política vigente, capaz de destituir certezas históricas e nesse sentido, compreender uma forma consistente de contra-arquivo? Indagar os “Arquivos da Multidão” enquanto contra-arquivo é refletir, também, sobre essa multiplicidade de registros de 2013 como “(…) sintomas das mentalidades de uma época, de suas maneiras de ver e de pensar, de formar a opinião, de construir memórias e fixar os imaginários” (LINDEPERG, 2015:16).
    A pesquisa parte de um material de arquivo já previamente compilado pela investigadora. Em 2017, Júlia Mariano dirigiu a série documental “Desde Junho” (disponível online em https://desdejunho.jurubebaproducoes.com.br/ ) que trata de 2013 a partir do ponto de vista dos midiativistas que atuaram nas “Jornadas de Junho”. Durante o processo de pesquisa e montagem da série, foi reunido o material que forma hoje o banco de dados no qual a presente pesquisa de mestrado se baseia. A hipótese dos “Arquivos da Multidão” e a proposta de catalogá-lo, analisá-lo e montá-lo surgem, então, desse percurso. A pesquisa dialoga com o ST “Cinema no Brasil: a história, a escrita da história e as estratégias de sobrevivência” ao analisar a relação entre audiovisual, internet, arquivo e a escrita da história. Nossa proposta é apresentar parte da organização dos “Arquivos da Multidão” e examinar suas narrativas não-lineares, episódicas, marginais e conflitantes que revelam os discursos fora da História das Jornadas de Junho.

Bibliografia

    BENJAMIN, Walter. “Teoria do conhecimento, teoria do progresso”. In: Passagens. Belo Horizonte, 2009.
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    FOUCAULT, Michel. “Arqueologia do Saber”. Rio de Janeiro: Forense Universitaria, 2008.
    GINZBURG, Carlo. “Micro-Histórias: duas ou três coisas que sei a respeito”. In: “O Fio e os Rastros: verdadeiros, falso, fictício”. São Paulo, Cia das Letras, 2007.
    LINDEPERG, Sylvie. “O Destino Singular das Imagens de Arquivo: contribuição para um debate, se necessário uma “querela”. Belo Horizonte, 2015.
    LEANDRO, Anita.”Sem imagens: memoria historica e estetica de urgencia no cinema sem autor”. Vitoria da Conquista, 2014.
    LISSOVSKY, Mauricio. “Quatro + Uma Dimensões do Arquivo In “Acesso à informação e política dos Arquivos”. RJ 2004