Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Janaína Oliveira (IFRJ / FICINE)

Minicurrículo

    Pesquisadora de cinema e curadora independente. Professora do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ) e consultora da JustFilms – Fundação Ford, Janaína é doutora em História e foi Fulbright Visiting Scholar na Universidade de Howard. Fundadora do Fórum Itinerante de Cinema Negro (FICINE), foi curadora do Flaherty Film Seminar em 2021. Atualmente, além de participar de outras iniciativas curatoriais, integra a equipe de curadoria do BlackStar Film Festival na Filadélfia.

Ficha do Trabalho

Título

    Ecoando Frequências: o FESPACO, o prêmio Paul Robeson e as diásporas.

Seminário

    Cinemas negros: estéticas, narrativas e políticas audiovisuais na África e nas afrodiásporas.

Formato

    Presencial

Resumo

    Tomando como pontos de partida a criação e a trajetória do Prêmio Paul Robeson no FESPACO, Festival Panafricano de Cinema e Televisão de Ouagadougou e a noção de “frequências”, tal como proposto por Tina Campt em “A Black Gaze”, o presente trabalho pretende pensar as relações contemporâneas entre os cinemas de África e das diásporas. Busca-se ainda trilhar caminhos epistemológicos que possibilitem refletir sobre as múltiplas concepções presente na ideia diáspora africana no campo do cinema

Resumo expandido

    O FESPACO – o Festival Pan-Africano de Cinema e Televisão de Ouagadougou, Burkina Faso, criado em 1969, é o festival de cinema mais tradicional do continente africano. Em meados dos anos 80, iniciou-se uma discussão sobre a inclusão de cineastas e filmes da diáspora africana no Festival, levando à criação do Prêmio Paul Robeson, em 1989. Ao longo dos anos, devido a várias mudanças históricas, a presença da diáspora e a própria história destes esforços para integrar cineastas da África e da diáspora se desvaneceram. Mesmo a recente inclusão dos filmes da diáspora na seleção oficial da FESPACO ainda não significou um aprofundamento destes vínculos.

    Na edição de 2023, uma nova iniciativa de integração foi tomada através da conferência “A presença das Diásporas na FESPACO” proposta por mim para a direção do FESPACO. A Conferência pretendeu não apenas retomar as perspectivas históricas deste processo, mas também elaborar um plano de ação para fortalecer a presença de cineastas e festivais da diáspora e dos organismos financiadores, estimulando redes de acordos de cooperação internacional. Foram promovidos dois debates. Um primeiro momento onde se refletiu sobre a criação do prêmio e sua trajetória nos últimos quarenta anos e contou com as presenças de nomes como Mbye Cham, June Givanni, Jihan El Thari e Gui Yameogo . E outro, pensando as questões contemporâneas com representantes de instituições das diásporas que são parceiras do FESPACO como Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul (Brasil), MUICA – Festival de Cinema Africano na Colômbia, Festival Internacional de Cinema de Toronto (TIFF – Canadá), Festival Diasporama (Martinica) e o SUDU Connexion, uma das principais companhias de distribuição de filmes africanos atualmente. A SPCine, empresa de cinema da cidade de São Paulo que estava em sua primeira missão no continente africano, também esteve presente apresentando possíveis caminhos para uma aproximação entre as indústrias do continente e o Brasil.

    Como desdobramentos desta retomada dos debates sobre as diásporas e o FESPACO, foi criado, excepcionalmente nesta edição, um prêmio especial homônimo ao criado na década de 1980, que foi destinado a um dos filmes da diáspora no programa do festival, independentemente da seção ou formato, para celebrar a presença e atualizar a vocação panafricana do festival.

    A presente apresentação, tomando como ponto de partida a noção de “frequências”, tal como proposto por Tina Campt em “A Black Gaze. Artists changing how we see”, publicado em 2021, pretende pensar concepções e relações contemporâneas entre os cinemas africanos e diaspóricos a partir das questões levantadas na Conferência “A presença das Diásporas no FESPACO” acima citada. Se em ocasiões recentes, a noção de Opacidade de Édouard Glissant foi um prompt curatorial utilizada por mim como o um meio para promover um deslocamento epistemológico nos debates sobre o cânone cinematográfico e cinefilia, a noção de Campt se torna aqui um prompt para pensar as relações entre as diferentes maneiras de expressão e conexão (ou não) das experiências negras nos cinemas de África e suas diásporas.

Bibliografia

    BAKARI, Imruh. CHAM, Mbye. African experiences of Cinema. Londres: British Film Insitut, 1996.
    CAMPT, Tina. A Black Gaze. Artists changing how we see. Cambridge: MIT Press, 2021.
    DUPRÉ, Colin. Le Fespaco, une affaire d’états (1969-2009). Paris. L’Harmattan: 2009.
    GLISSANT, Édouard. “Para a Opacidade”. Poética da Relação. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2021, pp. 219-225
    MARTIN, Michael T. (ed.). African Cinema: Manisfesto for Cultural Descolonization. Part 1: Fespaco: Formation, Evolution, and Challenges. Indiana University Press, Black Camera, vol. 12, n.1, 2020.
    _______ . African Cinema: Manisfesto for Cultural Descolonization. Part 2: Colonial Antecedents, Constituents, Theory, and Articulations. Indiana University Press, Black Camera, vol. 12, n.2, 2021.
    _______ . African Cinema: Manisfesto for Cultural Descolonization. Part 3: The Documents Record, Resolutions, Manifestos, Speeches. Part 3. Indiana University Press, Black Camera, vol. 13, n.1, 2021.